No dia mundial da água, o autarca de Santa Cruz, Carlos Alberto Silva, defende que “a água deve ser vista numa perspectiva do emprego, do rendimento, da segurança alimentar e nutricional, do crescimento económico e da riqueza do país”, sendo "Santa Cruz a pedra angular neste processo". Porque, afirma, "temos água sim! Precisa é ser produzida e explorada".
Segue aqui as palavras do edil de Santa Cruz, no acto da inauguração do sistema de abastecimento de água de Achada Ponta, acto esse presidido pelo primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, e testemunhado pelos embaixadores dos Estados Unidos da América e da Rússia acreditados no nosso país.
"Santa Cruz orgulha de ser palco comemorativo do Dia Mundial de Água. Um evento que acaba assumindo um sabor especial na medida em que estamos a inaugurar um grande projecto de abastecimento de água no nosso concelho.
Estamos, pois, perante um dia duplamente especial para Santa Cruz, porque ao mesmo tempo que comemoramos o dia mundial da água estamos a inaugurar uma grande obra de reforço do sistema de abastecimento de água em Santa Cruz. Daí o lema da minha intervenção “por uma política de água sustentável e promotora do desenvolvimento industrial do país”.
O dia mundial da água, este ano comemorado sob o lema “Soluções naturais para a água”, foi criado pela ONU, com o objetivo principal de promover momentos de reflexão, análise, consciencialização e elaboração de medidas práticas para resolver o problema de escassez de água a nível mundial, numa altura em que a tendência é ter cada vez menos água potável no planeta.
Todos nós estamos, pois, convocados a refletir sobre a água, a sua produção, a sua distribuição e utilização, sobretudo neste ano de poucas chuvas, como este que estamos a enfrentar.
Mais 500 m3 de água potável diariamente
Com efeito, esta grande obra de Reforço do Sistema de Abastecimento de Água em Santa Cruz, no valor de 82 mil contos, financiado pelo Governo Norte-americano, no quadro do programa MCA-II, assume importância particular no contexto actual da vida do país e de Santa Cruz.
Santa Cruz vai completar, no próximo dia 29, 47 anos de existência. Estando em período de aniversário, não poderia haver melhor presente para o nosso concelho e sua população, principalmente as suas mulheres, neste mês de Março, mês da mulher, do que esta importante obra de reforço do sistema de abastecimento de água.
Pois, com este projecto, Santa Cruz vai passar a ter diariamente mais 500 metros cúbicos de água potável de grande qualidade para o consumo, melhorando significativamente a qualidade de vida das famílias, sendo certo que, a partir de agora muitas famílias, particularmente mulheres e crianças, deixarão de se levantar de madrugada à procura de água, correndo riscos de várias ordens e perdendo horas de descanso e de estudos ou outras actividades.
Na verdade, a situação actual do abastecimento de água tem criado muitas dificuldades às famílias. Para além do crónico problema de qualidade e suas ramificações para a saúde pessoal e pública, andar quilómetros e passar horas na fila para conseguir um balde de água ou boia, cria complicações nos afazeres domésticos, atrasa as crianças nos seus estudos e provoca desarranjos no seio familiar.
Mas, graças a esta obra, a partir deste momento, tudo vai ficar mais fácil: a criança toma o seu pequeno-almoço no tempo certo, sai para escola na hora certa, a dona de casa consegue realizar os seus afazeres domésticos tranquilos e todo o mundo fica mais feliz.
Mais 48 mil contos investidos
Para além deste projecto, Santa Cruz tem um curso, e já na reta final, mais um projecto de adoção e distribuição de água em Ribeira Seca, Poilão Fonseca e Ribeirão Moura, no valor de aproximadamente 48 mil contos, financiado no quadro do projecto FASA.
São obras estruturantes no processo de desenvolvimento do nosso concelho, onde promover a qualidade de vida das pessoas é a nossa primeira aposta.
Apesar de ter havido um grande esforço, tanto por parte do Governo como da Câmara Municipal, no sentido de haver cada vez mais projectos no domínio dos recursos hídricos, persistem ainda grandes desafios neste sector, pois muitas famílias ainda enfrentam dificuldades de acesso a água, sobretudo nas zonas altas e de difícil acesso.
Refiro-me, concretamente, às localidades de Rebelo e Serelho, e aproveito esta oportunidade para apelar ao governo e aos parceiros aqui presentes, no sentido de juntos encontremos uma solução para essas zonas, mesmo que seja recorrendo-se a água da barragem de Figueira Gorda, com a aplicação das tecnologias que permitem fazer o tratamento daquela água, porque reverter a situação destas comunidades é uma necessidade urgente.
A igualdade de oportunidade no acesso à água potável é um imperativo, num concelho com as características de Santa Cruz e que se encontra inserido numa das regiões com maior problema no domínio do abastecimento de água em todo o país – Santiago Norte.
Neste contexto, entendemos que a região precisa da chamada “descriminação positiva” no domínio do abastecimento da água”. Temos que apostar numa cobertura da rede de distribuição inclusiva. Ou seja, temos que levar a água a todas as famílias, sobretudo às famílias de baixa renda.
Campanha sobre uso racional da água
Paralelamente ao abastecimento de água em qualidade e quantidade para todos, temos também o desafio do uso racional da água. Sendo escassa, a água precisa ser utilizada de uma forma a mais racional possível.
Entendemos que este é um desafio de todos nós e que deve passar pela educação. Temos que incutir na consciência colectiva, e sobretudo nas crianças, esta responsabilidade de poupar água.
Neste sentido, deixo aqui um apelo ao Governo, no sentido de lançar uma campanha para promover o uso racional da água em Cabo Verde, a começar pelas escolas.
Ouro azul
Cabo Verde é um autêntico planeta azul. O território marinho é sete vezes maior que o território terrestre, porém, mesmo assim, prevalece esta ideia peregrina de que não temos água.
Temos água sim. Precisamos é explorar e produzir água. Costumo dizer que o ouro de Cabo Verde são a água do mar, o sol e o vento. O que podemos chamar de Ouro Azul.
O nosso país tem dado erro de entender a falta de chuvas como uma fatalidade, quando deveria ser entendida como uma oportunidade. Uma oportunidade para sonharmos, para ousarmos, para projectarmos, usando os recursos naturais disponíveis!
O desenvolvimento das tecnologias, das ciências nos mostram que nada é uma fatalidade no mundo moderno. As chuvas não podem ser uma fatalidade no processo de desenvolvimento de Cabo Verde, e das ilhas com grandes vocações agrícolas, como Santiago, Fogo, São Nicolau, e Santo Antão.
Experiências acumuladas até aqui nos aconselham que a política nacional para os recursos hídricos não pode e nem deve continuar atrelados a programas e projetos que dependem apenas das chuvas.
A aposta na dessalinização da água do mar já deu provas até agora de que é uma grande e inteligente alternativa para o desenvolvimento do nosso país.
São caminhos que Cabo Verde tem que trilhar, e Santa Cruz está aqui para dar o seu modesto contributo, enquadrado nas suas capacidades naturais, no seu potencial e experiências.
Pois, defendemos que a água deve ser vista numa perspectiva DO EMPREGO, DO RENDIMENTO, DA SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL, DO CRESCIEMNTO ECONOMICO E DA RIQUEZA PARA O PAÍS. E Santa Cruz deve ser a pedra angular neste processo
Centro produtor, transformador, logístico e distribuidor de produtos agrícola e animal
O município de Santa Cruz é, pois, aquele que reúne as melhores condições para albergar uma grande infraestrutura de transformação de água do mar e sua aplicação para a geração de riquezas.
Somos considerados um município de referência no domínio da produção agrícola, cobrindo 55,36% do total das explorações agrícolas a nível nacional (familiares) e 25% das explorações agrícolas não familiares (INE, Censo Agrícola 2004). (Santa Cruz já foi o celeiro de Cabo Verde, já exportou para fora do país, já foi o maior complexo agro-industrial do país).
Sendo que as potencialidades endógenas continuam todos no mesmo lugar e no mesmo sítio, num tempo em que há mais possibilidade de produção, mais escolaridade, mais jovens, mais possibilidade formativa, mais mercado, podemos perguntar: o que é que estamos à espera?
Sobretudo hoje, que temos um mercado turístico potencial em crescimento exponencial, onde o nosso mercado poderá alargar-se para 1,5 milhões de consumidores, sendo 1 milhão elevado poder de compra?
É verdade que o turismo é o motor de desenvolvimento de Cabo Verde. Porém, qualquer motor, para trabalhar, precisa de combustível e energia. A agricultura há de ser, neste contexto, o combustível do nosso turismo.
Esta é a visão de Santa Cruz. Uma visão que coloque a ilha de Santiago, se Santa Cruz, particularmente, na vanguarda do processo de desenvolvimento da agro-indústria, em que a aposta na dessalinização da água do mar seria um grande passo."
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