O QUE FAZER QUANDO AS “TECNOLOGIAS” CONHECEM, DOMINAM E USAM, PREDATORIAMENTE, OS LIMITES DAS CAPACIDADES HUMANAS A PONTO DE ESTES NÃO PODEREM RESISTIR AS SUAS INFLUENCIAS?
No mês de maio fui convidado por uma organização para desenvolver o tema: “impacto das tecnologias digitais no desenvolvimento infantil”. E, isto me causou alguma inquietação na altura, pois, aprendi desde os primeiros anos de estudos de psicologia, que o equilíbrio no processo de desenvolvimento infantil é o garante de uma vida saudável. Por isso, a minha apresentação precisava ser tão pedagógica quanto geradora de compromisso junto dos responsáveis educadores.
Introduzi o tema com uma nota de bom-senso que havia revisto várias vezes: “A tecnologia digital contribui para o desenvolvimento, tanto positivamente e negativamente, sendo necessário saber o momento adequado para sua introdução na vida infantil, e o seu uso moderado deve seguir ao longo da vida”. De igual modo pretendia que no final os educadores e pais que lá estavam percebessem que cabia a eles e a cada um ter suficiente controlo e autocontrolo. Assim, a rematar, citando as Nações Unidas, sublinhei que estas “reconhecem o uso da Internet como direito humano básico por sua possibilidade transformadora de inserir o sujeito no exercício social e político (ABRANET, 2019).
Durante o debate me senti “falso e manipulador”. Mas, tratou-se de um sentimento que tive que segurar para pensar mais tarde. Continuo ainda a pensar; e queria com isso, iniciar um debate público, na medida do possível. E questão final é essa: o que fazer quando as tecnologias conhecem, dominam e usam, predatoriamente, os limites das capacidades humanas a ponto de estes não poderem resistir as suas influencias?
Quem pode ter o controlo e o autocontrolo? De quem é a responsabilidade?
Esses aplicativos usam algoritmos que lhes permitem interferir no desejo dos seus usuários; e utilizam informações comportamentais, para a persuasão permanentemente. Por esta via produzem dependência comportamental e química, de forma tão eficaz ou pior do que as drogas; e de igual modo levam a transtorno mental já reconhecido e classificado pela OMS.
Os países que investigam os determinantes da saúde e do bem-estar estão a proibir o uso de tela por crianças e a restringir severamente o uso por adolescentes e jovens.
HOJE A INTERNET E AS REDES SOCIAS LANÇAM-NOS PARA A “ABISMALIDADE”: NO SENTIDO DE ESTARMOS PERMANENTEMENTE PERANTE O ABISMO AO QUAL NÃO SABEMOS SE PODE SER TRASPOSTO OU NÃO. “ABISMO SOBRE ABISMO”.
Este mundo já não é “liquido”, como denunciou Zygmunt Bauman, é “gasoso e volátil”.
Na história, as quebras de paradigmas provocaram “grandes saltos” da humanidade. A invenção do fogo também havia lançado o homem também para o abismo. Porém este, à sua chegada/transposição, anunciou as suas condições e previsibilidade, pois, ao invés de nómada e errático exigiu que o homem fosse sedentário e inventor das condições que determinam a sua existência. Hoje, as mudanças são tão absurdas e rápidas que é impossível prever, os limites e as consequências.
Estudos mostram com cada vez mais ênfase de que o modo de SENTIR, DE PENSAR E DE AGIR dos seres humanos estão a mudar, drasticamente, após o nascimento das redes sociais. E já não sabemos se somos assim tão humanos.
O que fazemos? O que deve ser feito? Que tipo de regulação?
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