Sua Excelência Senhor Primeiro Ministro de Cabo Verde acaba de regressar de Lisboa onde discutiu com o PM António Costa vários acordos de cooperação, no quadro da Cimeira ao mais alto nível entre os dois países.
As nossas relações, desde a independência, sempre foram excelentes.
Em 2010, a meu pedido, elevamos o nível do diálogo intergovernamental e institucionalizamos as Cimeiras entre os dois Chefes de Governo, de dois em dois anos.
Trabalhei enquanto Chefe do Governo com seis Primeiros Ministros de Portugal: Guterres (PS), Durão Barroso (PSD), Santana Lopes (PSD), José Sócrates (PS), Passos Coelho (PSD) e António Costa (PS). Todos eles agiram em relação a Cabo Verde com grande amizade e elevado sentido de Estado.
Com todos eles discutimos linhas de crédito - aliás, algumas das linhas de credito foram herdadas de programas de cooperação negociados entre os Governos de Carlos Veiga e de António Guterres -, financiadas por bancos portugueses e com juros bonificados pelo Tesouro daquele país, de modo a garantir os níveis exigidos de concessionalidade.
As linhas de crédito, tendo em atenção os montantes e as exigências bancárias, não seria razoável fazer de outra forma, foram sempre criadas com base em estudos fundamentados e aturadas negociações entre os Ministérios das Finanças dos dois países e os bancos envolvidos.
Dizer, como fez hoje o Senhor Primeiro Ministro de Cabo Verde no Parlamento, que o financiamento do Programa Casa Para Todos foi um negócio entre dois Primeiros Ministros socialistas não passa de uma brincadeira de mau gosto.
Também não adequadas foram as declarações do PM de Cabo Verde em como os Governos de Portugal foram enganados nesse processo. Mais respeito e contenção é o que se exige dos mais altos dignitários do nosso país.
As relações entre os dois países nunca foram partidarizadas, são relações entre estados e têm sido conduzidas com elegância, responsabilidade e defesa dos interesses nacionais.
Nas relações externas, por razões da necropolítica interna, por manifesta intolerância mútua entre os partidos ou por motivos meramente eleitoralistas, não podemos perder a compostura e o sentido de Estado.
Estamos a tempo de arrepiar caminho e relativizar o exercício do poder - em democracia os governos são transitórios e limitados: não podem tudo, não sabem tudo e não são eternos.
Comentários