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Geopolítica do Mar e da Água: O petróleo cabo-verdiano, a Guiné-Bissau nosso espaço natural de Desenvolvimento e o competidor Senegal (Parte III, Final) 
Ponto de Vista

Geopolítica do Mar e da Água: O petróleo cabo-verdiano, a Guiné-Bissau nosso espaço natural de Desenvolvimento e o competidor Senegal (Parte III, Final) 

...para fechar os três artigos de opinião sobre a geopolítica nacional, considera-se que sem o domínio do Mar de Cabo Verde (que passa pela integração regional e melhoria de relação com a Guiné-Bissau, estamos a perder o tempo precioso e a abrir mãos do nosso maior trunfo econômico e veículo de desenvolvimento e enriquecimento do nosso país. Para finalizar, podemos dizer que a abertura da Embaixada de Cabo Verde na Guiné-Bissau configura-se numa das grandes decisões estratégicas do arquipélago.

A geopolítica está relacionada com o domínio geográfico (econômico e militar) que cada Estado tem no cenário internacional, podendo ser local ou global. Nesta relação, quanto maior o domínio de um dado espaço geográfico por um Estado, maior é a sua influência na referida área e no nosso caso, quanto maior o domínio do Mar de Cabo Verde maior o nosso poder negocial sobre as riquezas existentes nas nossas águas. Neste sentido, é importante que o Estado cabo-verdiano disponha de capacidade materiais e políticas para criar estratégias marítimas e territoriais com o objetivo de consolidar o domínio do nosso mar local e, esse domínio passa pela integração regional.  Para consolidação este domínio e a integração regional, Cabo Verde deverá considerar as relações que tem com a Guiné Bissau. Em abono da verdade, o desenvolvimento de Cabo Verde quer dizer, a autonomia e a capacidade competitiva de Cabo Verde passam por uma relação econômica e política com a Guiné Bissau.  Por outras palavras, a Guiné Bissau é o espaço natural de desenvolvimento de Cabo Verde.

É de conhecimento geral, as ambivalências históricas e culturais que ligam Cabo Verde e a Guiné Bissau. Inevitavelmente, esta ligação (produto de um contexto histórico colonial) é o elo que nos liga à Guiné Bissau e, tanto para nós como para os guineenses seja qual for o caminho traçado para o desenvolvimento, o sucesso dependerá do grau de relação existente entre os dois Estados.  No lado cabo-verdiano, ter as melhores condições para competir no mercado global, passa inevitavelmente pela nossa capacidade de encarar dois países concorrentes, o Senegal e a Canarias. Durante toda a nossa existência, a decadência de Cabo Verde (principalmente da Ribeira Grande de Santiago e do Porto Grande de Mindelo) estiveram ligados à ascensão de Dacar e de Las Palmas. Por tanto, no dia em que Cabo Verde aceitar ir para a competição, teremos de ter em mente que estes dois países são geograficamente os nossos concorrentes pelo espaço da barganha comercial e de influência geopolítica na nossa sub-região. E neste viés de competição, Senegal e Canárias consideram Cabo Verde com os seus contraditórios naturais e, só pelo total desprezo e desconhecimento da história que as autoridades nacionais nunca aperceberam desta verdade absoluta. Embora dos dois lados senegalês e canarinhos, Cabo Verde é assumido como concorrente, e este assumir é tão visível que Senegal copiou de ponta a ponta a Agenda de Transformação Cabo-verdiana, com a vantagem de estarem a realizá-la com relativo sucesso.  

Esta disputa pelo domínio do mar de Cabo Verde, a estratégia de influência deve ultrapassar as fronteiras da Zona Econômica Exclusiva, isto porque estamos a falar de um território marítimo rico de fontes energéticas (petróleo e gás natural). É dentro desse imenso território que falta confirmar a existência do petróleo cabo-verdiano, tendo em conta que todos os nossos vizinhos já confirmaram a existência de grande quantidade de minérios energéticos. Se a questão do petróleo cabo-verdiano é um não assunto por estas bandas, o que não pode ser negado é a clara vantagem de uma relação econômica mais profícua com a Guiné-Bissau - com ganhos mútuos.

Cabo Verde deveria ter interesses de ganho mútuo com a Guiné Bissau, nos mais diversos setores econômicos: 

1. A Pesca e a Indústria Pesqueira: por ter uma extensa plataforma continental, Guiné Bissau tem uma fauna marítima de real interesse para o país. E Cabo Verde em contrapartida tem uma instalação pesqueira que podia servir de estrutura de uma empresa mista entre estes dois Estados. Incluindo todo o manancial de infraestruturas navais e de ensino.  

2. A Agricultura e a Indústria Agroalimentar: a nossa maior indústria é agroalimentar, em comparação com a Guiné Bissau onde as vantagens são naturais (um território mais apropriado para a agricultura), Cabo Verde a junção destes dois eixos pode ser crucial para o desenvolvimento do setor vital para a estabilização social e política dos dois países, sem descurar o mercado da CEDEAO de mais de 350 milhões de pessoas.

3. O Ensino e a Tecnologia: todos os setores produtivos são importantes na economia nacional, mas por estar a viver a quarta revolução tecnológica é de extrema importância a interligação de todos as vertentes econômicas ao ensino especializado e à tecnologias. Neste aspeto, Cabo Verde tem muito a partilhar com à Guiné Bissau.

Resumidamente, para fechar os três artigos de opinião sobre a geopolítica nacional, considera-se que sem o domínio do Mar de Cabo Verde (que passa pela integração regional e melhoria de relação com a Guiné-Bissau, estamos a perder o tempo precioso e a abrir mãos do nosso maior trunfo econômico e veículo de desenvolvimento e enriquecimento do nosso país. Para finalizar, podemos dizer que a abertura da Embaixada de Cabo Verde na Guiné-Bissau configura-se numa das grandes decisões estratégicas do arquipélago.

 

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SOBRE O AUTOR

Rony Moreira

Poeta, escritor, sociólogo, cronista