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Entre Mares e Terras: A Busca Contínua pela Identidade Cabo-Verdiana no Cruzamento de Culturas
Ponto de Vista

Entre Mares e Terras: A Busca Contínua pela Identidade Cabo-Verdiana no Cruzamento de Culturas

A complexidade e a fluidez da nossa identidade, tal como expressa na afirmação do poeta Pedro Cardoso"filho de Cabo Verde e neto de Portugal", refletem as nuances e as contradições inerentes à indefinição de identidade cabo-verdiana em um mundo globalizado.

Esta declaração não só captura a nossa herança híbrida em termos de identidade, mas também sugere a existência de uma crise de identidade, alimentada pela história de colonização, migração e a diáspora. Esta crise persiste até os dias atuais, possivelmente intensificada pelas dinâmicas contemporâneas de globalização e pelo fenômeno crescente da nossa diáspora.

A colonização portuguesa de Cabo Verde estabeleceu as bases para uma identidade cultural complexa, na qual nós os cabo-verdianos fomos simultaneamente integrados ao Império Português enquanto mantivemos nossas limitadas tradições africanas. Este legado colonial criou uma base para a crise de identidade, pois fomos forçados a navegar entre essas duas heranças distintas, sem pertencer completa e exclusivamente a nenhuma delas. O verso de Cardoso, "filho de Cabo Verde e neto de Portugal” encapsula esta dualidade, sugerindo uma identidade que é definida tanto pela herança e constituição portuguesa quanto pela realidade cabo-verdiana de então.

Todavia, a nossa “crise de identidade” é exacerbada pela globalização e pela extensa diáspora cabo-verdiana. Com uma população significativa vivendo fora do arquipélago, muitas vezes em comunidades que são culturalmente distintas tanto de Cabo Verde quanto de Portugal, nos os cabo-verdianos no exterior enfrentamos o desafio de manter nossa identidade cultural em ambientes que podem não ser propícios à preservação de nossas tradições. A dispersão global contribui para uma sensação de deslocamento e fragmentação da identidade, onde lutamos para encontrar um senso de pertencimento que esteja alinhado com nossas raízes culturais e históricas.

A nossa “identidade“ é, portanto, caracterizada por sua fluidez e pela constante negociação entre as influências culturais. A declaração de Pedro Cardoso reflete uma realidade em que buscamos equilibrar e integrar aspetosde nossas heranças portuguesa e africana, enquanto também adaptamos`as influências culturais dos países em que residimos. Esta busca por equilíbrio é complicada pela natureza cada vez mais transnacional da identidade em um mundo globalizado, onde as fronteiras culturais são permeáveis e as identidades são múltiplas e sobrepostas.

Portanto a nossa “crise de identidade”, exemplificada desde o seculo passado pela expressão de Pedro Cardoso, é um reflexo das tensões entre herança, história e modernidade. Enquanto continuamos a navegar por essas complexidades, a nossa identidade permanece num estado de fluxo, desafiando definições absolutas. A diáspora, ao espalhar ainda mais a cultura cabo-verdiana pelo mundo, não apenas complica esta questão, mas também oferece novas oportunidades para a redefinição e reafirmação da nossa identidade num contexto global. Assim, a nossa “crise de identidade” não é apenas um desafio, mas também uma oportunidade para explorarmos e expressarmos as muitas facetas da nossa rica herança cultural.

 

Djuze’ D’erriba, February, USA

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