No atual contexto, só a emergência de um movimento de opinião forte pode provocar um novo rumo na política cabo-verdiana e uma nova mobilização social que empurre o surgimento de novas lideranças, tendo por centro da ação política a democracia cidadã, o caminho para a liberdade e igualdade de facto. Este é um combate que vale a pena! Contai com isso de mim!
Trinta e quatro anos após as primeiras eleições livres e democráticas, o País continua dividido entre duas visões essenciais: 1. A desvalorização da efeméride, colocando-a na gaveta das coisas menores; 2. O saudosismo que polariza, artificialmente, a sociedade entre democratas e prosélitos do partido único.
Essa divisão artificial, porque o País é um outro e os partidos políticos também não são os mesmos de 1991, tem sido responsável por Cabo Verde não dar passos decisivos em frente, construir um desígnio coletivo e empreendendo as reformas necessárias para nos colocar, definitivamente, na senda do progresso social e do desenvolvimento.
Unidade nacional em torno de um desígnio comum
É inquestionável que o País tem tido avanços, mas têm sido avanços fatiados ao sabor das conjunturas e dos governos de plantão. Falta a Cabo Verde uma visão de Estado e a unidade fáctica por um desígnio nacional, independentemente do partido que está no governo.
No dia em que metade do país exalta o 13 de janeiro, perante a indiferença de outra metade, seria importante refletirmos sobre o nosso futuro coletivo e encontrarmos pontos de confluência que nos permitam enfrentar os problemas crónicos que arrastamos desde a nossa independência nacional.
Seria importante, por exemplo, que os partidos do arco do poder se juntassem à mesa e criassem os consensos necessários para antever o desenvolvimento do país, no mínimo, para as próximas duas décadas, independentemente de quem seja o próximo inquilino do Palácio da Várzea.
Acontece que, com os atuais atores políticos, é impossível um tal consenso e uma tal visão de futuro, da unidade nacional em torno de um desígnio comum.
Salta à evidência que, com os atuais atores políticos, é impossível empreender um novo rumo para o país. Só novas lideranças estarão em condições de responder às necessidades e anseios das cabo-verdianas e dos cabo-verdianos.
Uma democracia em crise
A situação atual a nível internacional, naturalmente, reflete-se nas mundivivências políticas internas. E é absolutamente claro que, em particular, as duas últimas décadas evidenciam um divórcio das democracias liberais com os cidadãos.
Tal facto, materializa-se no sempre crescendo fenómeno da abstenção em todas as eleições, tem levado ao ascenso mundial dos extremismos e colocou de rastos as democracias da velha Europa, com governos, até há pouco aparentemente estáveis, a cair como castelos de cartas, arrastando a crise económica e o exponencial encerramento de indústrias e consequente aumento do desemprego.
Ao invés de mobilizarem as sociedades em torno de desígnios comuns, os governos foram afunilando a democracia, reduzindo os mecanismos de exercício da liberdade e, decorrente da prevalência dos mercados financeiros na economia, aumentando o fosso da desigualdade social.
Os governos e os partidos de vários matizes ideológicos renderam-se aos mercados e ao interesse egoísta da minoria que manda nos destinos do mundo e, com isso, afastaram parte muito substantiva dos cidadãos do processo democrático!
Um novo rumo
No atual contexto, só a emergência de um movimento de opinião forte pode provocar um novo rumo na política cabo-verdiana e uma nova mobilização social que empurre o surgimento de novas lideranças, tendo por centro da ação política a democracia cidadã, o caminho para a liberdade e igualdade de facto.
Este é um combate que vale a pena!
Contai com isso de mim!
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