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A Gratidão como Instrumento Político: Um Risco para a Liberdade e a Democracia
Ponto de Vista

A Gratidão como Instrumento Político: Um Risco para a Liberdade e a Democracia

Ao analisarmos a nossa classe política, podemos concluir que sofremos da ausência de uma classe política competente e responsável, que busque o desenvolvimento da sociedade e tome decisões fundamentadas, mesmo que temporariamente impopulares, porque entende a importância de mudanças necessárias e sustentáveis. Essa classe política, da qual sentimos a falta, trabalharia para que os cidadãos tivessem a liberdade de criticar e criaria todas as condições para um desenvolvimento justo e transparente.

A gratidão é um sentimento de reconhecimento e apreço por algo que foi dado ou recebido. É um estado emocional que envolve perceber e valorizar o que nos é oferecido. No entanto, quando instrumentalizada, a gratidão torna-se um poderoso meio de controlo social e manipulação.

Na política, muitas vezes motivada por favores, benefícios ou promessas, a gratidão pode levar a uma dependência que restringe a liberdade de escolha dos cidadãos e enfraquece as instituições democráticas.

A gratidão, como instrumento, é praticada por políticos incompetentes e populistas. A falta de competência e o receio de tomar decisões impopulares leva-os a recorrer a estratégias de gestos de “benevolência camuflada” para garantir apoio e manter-se no poder. Estes políticos não priorizam políticas públicas de longo prazo, mas sim de curto prazo e superficiais. Essas políticas não resolvem os problemas estruturais, mas geram um sentimento de gratidão na sociedade, especialmente entre os mais vulneráveis e menos informados.

A falta de capacidade técnica e de planeamento é outra característica destes políticos. Um exemplo disso é a distribuição de terrenos para pessoas sem recursos para construir as suas próprias casas, ou a entrega de cabazes básicos. A oferta de terrenos e de cabazes básicos torna-se um instrumento para atingir a parte mais vulnerável da sociedade, mas são ações superficiais e de curto prazo que acabam por gerar problemas significativos a longo prazo. Em vez disso, um planeamento habitacional responsável e transparente, com habitações sociais construídas e critérios públicos claros, poderia responder de forma sustentável e justa às necessidades de habitação das populações vulneráveis.

A criação de projetos que promovam a autossuficiência das famílias seria uma alternativa mais eficaz à distribuição de cabazes básicos. Um levantamento detalhado de cada família e das suas competências técnicas permitiria o desenvolvimento de projetos financiados de acordo com as características e capacidades de cada grupo. Além disso, a criação de planos de formação específicos, com acompanhamento técnico antes e, principalmente, depois da implementação, garantiria a execução e a manutenção destas iniciativas a longo prazo.

A gratidão gera uma dependência emocional no eleitor, que se sente em dívida e pressionado a votar em quem “supostamente" resolveu o seu problema, sem nunca criticar ou avaliar a gestão desse político. Essa dependência impede que medidas como transparência e mudanças nos processos decisórios sejam implementadas, dificultando que o cidadão compreenda seus direitos de forma independente, independentemente de quem esteja no poder. Por isso, qualquer solicitação ao governo/câmaras frequentemente exige a intervenção de um servidor público eleito, deixando a decisão à mercê da vontade pessoal do decisor.

Como consequência, a gratidão como instrumento político cria problemas estruturais numa sociedade, como a degradação das instituições democráticas, onde o apoio nas instituições é substituído pela confiança pessoal nos líderes, enfraquecendo o Estado de Direito e a perceção de que essas instituições servem a todos. Os mais vulneráveis tornam-se mais dependentes, com a impressão de que os benefícios públicos e os direitos recebidos são favores pessoais, o que distorce o conceito de cidadania. Há também o favorecimento de grupos ou regiões específicos, criando um sistema desigual em que apenas os que apoiam o líder são beneficiados. Esta prática afeta principalmente os investimentos numa educação de qualidade, criando um ciclo onde os vulneráveis continuam dependentes de políticos.

A educação continua a ser o maior instrumento para combater estas práticas de fazer política. Uma sociedade bem informada e consciente, onde os cidadãos conhecem os seus deveres e direitos, dá o primeiro passo para o desenvolvimento e permite questionar e combater esta forma de fazer política.

A questão que permanece é: qual político está interessado em investir na educação de forma consciente?

Ao analisarmos a nossa classe política, podemos concluir que sofremos da ausência de uma classe política competente e responsável, que busque o desenvolvimento da sociedade e tome decisões fundamentadas, mesmo que temporariamente impopulares, porque entende a importância de mudanças necessárias e sustentáveis. Essa classe política, da qual sentimos a falta, trabalharia para que os cidadãos tivessem a liberdade de criticar e criaria todas as condições para um desenvolvimento justo e transparente.

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