O relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre os actos de gestão da TACV foi hoje apresentado no parlamento com a conclusão de que os sucessivos governos do PAICV são responsáveis pela má gestão da companhia.
O relatório da CPI da TACV, apresentado pelo deputado Emanuel Barbosa, indica que na década de 90 a situação económica e financeira da companhia “era estável”, com resultados líquidos a manterem-se perto de uma “situação de equilíbrio” tendo conhecido, nessa década, “ganhos extraordinários”.
“As contas demonstram que foi um momento áureo na história da TACV”, disse o presidente da CPI, acrescentando que foi nessa altura que se procedeu a uma expansão da frota, com a aquisição dos ATR e do primeiro boeing, bem como das rotas.
Segundo o deputado Barbosa, a companhia conseguiu, em 1998 e 1999, resultados positivos de 248 mil contos e 2,1 mil contos, respectivamente, e a companhia gozava de “boa saúde financeira e de credibilidade junto dos fornecedores” a ponto de ter conseguido adquirir o seu primeiro Boeing sem a necessidade de recorrer ao aval do Estado de Cabo Verde.
De acordo com o relatório lido por Emanuel Barbosa, foi em 2002 que, pela primeira vez, a TACV encerrou o ano “em situação de falência técnica, com um resultado negativo de 1,4 milhões de contos” e, não obstante uma “ténue recuperação”, em 2003, daí em diante verificou-se uma “acentuada degradação do desempenho, traduzida pelos resultados globais negativos na ordem dos 819 mil contos em 2008”.
Mas os resultados de 2008, que resultam de “decisões estratégicas não condizentes” com o mercado à disposição da empresa ou incorrectamente equacionadas pela sua administração, estavam “longe de poderem ser comparados” com os de 2015, num montante de 3,4 milhões de contos negativos, “que entra para a história da companhia como a pior de sempre”.
De acordo com o relatório, os sucessivos governos e as administrações por eles nomeadas, mais concretamente, a partir de 2008, “conduziram a TACV para uma situação financeira precária e prolongada com influência directa nas dificuldades de tesouraria”, colocando a companhia sob “constante ameaça de insolvência”.
Emanuel Barbosa disse que, perante a crescente degradação da situação financeira e económica da empresa, “os governos do período 2001 e 2015 não tiveram uma intervenção enérgica, consistente, estruturante e rigorosa”, baseada num plano estratégico para a “salvação da empresa e o seu reposicionamento no mercado”.
Opinião oposta tem o deputado do PAICV, Walter Évora, que considerou que o relatório apresentado “é um produto do Movimento para a Democracia” e que os deputados do PAICV nessa CPI só votaram abstenção em consideração às várias personalidades que compareceram na CPI e responderam às perguntas dos deputados.
“Este documento não traz resposta às questões colocadas pela sociedade cabo-verdiana” disse Walter Évora, nomeadamente a saída dos TACV do mercado doméstico, o negócio com a Binter e com a Iceland Air, com a mudança das operações para a ilha do Sal e com o “despedimento de um grande número” de trabalhadores.
Walter Évora disse que a CPI foi criada pelo MpD com a “única finalidade de impedir a real investigação dos negócios” em relação ao mercado doméstico e às operações internacionais.
“Este relatório não traduz, fielmente, as declarações prestadas pelas diversas personalidades ouvidas”, denunciou o deputado do PAICV, acrescentando que “o MpD seleccionou ‘cirurgicamente” aqueles que lhe interessava e deixou “a grande maioria” das declarações fora do relatório.
Walter Évora cita vários assuntos que o relatório deixa alegadamente “de fora”, nomeadamente os que se referem a casos ocorridos na década de 90, período governado pelo MpD, designadamente, a venda dos aviões CASA e a “não entrada desses valores nos cofres da TACV nem do Estado, fuga ao fisco, a perda de vidas humanas em Santo Antão e na Praia”, entre outras.
O relatório foi aprovado com os cinco votos favoráveis, dos deputados do MpD, e os três votos abstenção, dos deputados do PAICV.
Com Inforpress
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