Ex-primeiro-ministro disse ontem, 29, na Conferência sobre Democracia e Governança, que decorre na Praia, que há um certo cansaço das forças políticas, levando por isso ao aparecimento de movimentos populistas.
O encontro foi organizado pela Fundação José Maria Neves, que liderou os debates, juntamente com o convidado especial, Francisco Pinto Balsemão, antigo primeiro-ministro de Portugal e empresário dono, por exemplo, do Grupo Impresa, que detém a SIC, o jornal Expresso e a revista Visão.
“Hoje, os partidos e os sistemas partidários estão em crise. Também temos algum esgotamento dos partidos tradicionais”, afirmou José Maria Neves, para quem o cansaço e crise dos partidos políticos tradicionais têm levado ao surgimento de movimentos populistas. A solução, na optica de JMN, passa por uma outra relação das forças políticas tradicionais com a sociedade.
Por isso, referiu à importância dos próprios partidos na intermediação entre a sociedade e a classe política, mas não deixou de notar que, paradoxalmente, o aparecimento de novos espaços e mecanismos de intermediação do têm enfraquecido algumas instituições, entre elas os partidos políticos. Porque estes, no olhar de Neves, estão esgotados.
“O cansaço dos partidos tradicionais tem levado ao surgimento de movimentos populistas”, prosseguiu o ex-chefe do Governo, dizendo que esses movimentos são personalizados em determinadas pessoas, numa perspectiva ´antielitista´, contra a corrupção e de representação.
“E assim que cheguem ao poder é a colonização total da Administração Pública, a manipulação das massas e uma inimizade enorme em relação à sociedade civil e aos espaços de dissenso, designadamente a comunicação social”, analisou.
Para o conferencista, os movimentos populistas têm ´profundos reflexos´ na governança, mas lembrou que são ´fenómenos transitórios´ que revelam o desgaste do sistema democrático.
Considerando que os movimentos populistas são ´preocupantes´, José Maria Neves defendeu que para rever o cenário é preciso outra relação entre os partidos e a sociedade civil, novos mecanismos de escolha e novos canais para se exercer o poder.
“É preciso começarmos a refletir sobre as saídas da crise dos partidos e dos sistemas políticos”, sugeriu José Maria Neves, que além de ser primeiro-ministro foi também presidente do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV, agora na oposição) durante 15 anos.
Muitas das ideias do ex-chefe de Governo cabo-verdiano foram defendidas por Francisco Pinto Balsemão, que sublinhou que os partidos e muitas outras instituições clássicas, como sindicatos, forças armadas e igrejas, já não têm nem o poder, nem a importância que tiveram.
A isso disse que se deve ao surgimento de uma sociedade em rede, através das redes sociais, que são novas formas de poder e de governança e de praticar a democracia.
Com Lusa
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