Neves analisa o Parlamento: “Há ingerência na vida dos partidos, ofensas pessoais e autoritarismo”
Política

Neves analisa o Parlamento: “Há ingerência na vida dos partidos, ofensas pessoais e autoritarismo”

José Maria Neves acha que os partidos do arco do poder em Cabo Verde devem adoptar uma postura “mais pedagógica” entre si e lançar “mais ideias para debates do que uma excessiva personalização do debate político”.

“Vejo até um debate com ingerências de parte a parte na vida política interna dos partidos, ofensas pessoais e algum autoritarismo”, disse o antigo presidente do PAICV, ao ser abordado pela Inforpress sobre o debate do Estado da Nação da passada sexta-feira, 28.

José Maria Neves lembra que em democracia não há caminhos únicos, pois, prossegue, “haverá sempre possibilidades de alternâncias de governo e diferença de políticas”.

“Ser contra uma determinada política não é ser contra o país ou ser contra os interesses de Cabo Verde”, indicou o político.

Segundo ele, é preciso que se garanta a liberdade de expressão, a nobreza de espírito, assim como a “elegância no debate político” e assegurar que haja um “confronto saudável de propostas e ideias sem maniqueísmos”. “Já dizia alguém que a democracia é muito complexa, enquanto o populismo e o autoritarismo são muito simples”, lançou Neves.

Instado se esperava mais do Parlamento saído das eleições legislativas de Março de 2016, afirmou: “O Parlamento é um pouco o reflexo da sociedade política e da sociedade civil que temos neste momento. Tem havido melhorias, assim como alguns recuos ali e acolá. O mais importante, neste momento, é trabalhar para mudar as relações entre o político e a sociedade. Há que repensar, por exemplo, a lei eleitoral para haver um relacionamento mais estreito e uma maior cumplicidade entre quem está no poder e quem está na política e a sociedade, em geral”.

À pergunta se não esperava mais de um Parlamento que se renovou em mais 60 por cento, Neves, que também foi deputado, reconhece que a nova Assembleia Nacional está a começar, pelo que há que ter em devida conta estes percalços iniciais”.

“Espero depois, numa perspectiva mais optimista, que as pessoas possam fazer as coisas de forma mais elevada e com muito mais qualidade”, sugeriu o antigo primeiro-ministro.

Relativamente ao apelo que lançou aos dirigentes do PAICV para uma maior coesão, deixou transparecer que o seu pedido continua de pé e que aquela força política é um “grande partido”.

“Para um sistema democrático funcionar é fundamental que haja um Governo forte, mas também uma oposição forte, efectiva e capaz de controlar o exercício do poder”, concluiu.

Com Inforpress

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