Paz foi a palavra mais ouvida em todos os discursos de abertura da reunião deslocalizada da comissão Mista de Educação, Ciência e Cultura, Saúde e Telecomunicações da CEDEAO, que acontece na Praia de hoje, 14, a sábado. E o tema deste encontro não poderia ser mais oportuno: “Tolerância e concordância religiosa: factores essenciais para o desenvolvimento, paz e estabilidade no espaço da CEDEAO”.
Coube ao deputado Orlando Dias, chefe da delegação cabo-verdiana junto do Parlamento da Comunidade dos Estados Oeste Africanos e presidente da comissão parlamentar de Saúde da região, dar as boas vindas aos deputados atirando logo para aquilo que seria o mote de todos os discursos e tema principal dos trabalhos: a paz entre os 15 países da CEDEAO.
Dias, que fez questão de referir que um dos objectivos de Cabo Verde é reforçar o processo de integração económica, social e política na CEDEAO, apontou que “esta reunião cria um quadro de consulta e troca de experiência entre os principais actores” no domínio da paz, e traz “mais-valia às iniciativas de prevenção dos extremismos violentos que estão a aumentar, evidenciando assim a necessidade de reforçar a tolerância e a harmonias religiosas, para favorecer o diálogo inter-religioso e intercultural".
De facto, a região ocidental africana, de que Cabo verde faz parte, vive sob constante ameaça de grupos terroristas, como a AQMI (Al-Qaeda do Magreb Islâmico) que afronta as populações do Mali, Mauritânia Guiné Conackry ou Gâmbia ou o Boko Haram, que ataca sobretudo os países mais ao centro, Nigéria, Burkina Faso ou Niger.
A urgência pela paz e estabilidade na região foi, de resto, referido por todos os intervenientes no discurso de abertura da reunião que começou esta quarta-feira na Assembleia Nacional. O caminho para a pacificação será pela via religiosa, daí o apelo para a tolerância e concórdia religiosa numa região marcadamente muçulmana (xiitas e sunitas), mas com forte crescimento das religiões cristãs em paralelo com seitas e crenças africanas.
A vice-presidente do Parlamento da CEDEAO sublinhou a tolerância religiosa e aceitação das diferenças e pediu um diálogo sincero e frutífero entre todos os actores, políticos e religiosos. O representante permanente da CEDEAO em Cabo Verde manifestou a sua preocupação com crescimento do terrorismo na região, notando que a expansão de células terroristas cria problemas na governação dos países. E destacou aqui o papel de Cabo Verde, que, segundo ele, pode ajudar nesse acerto e diálogo de paz que se pretende, por causa da sua “experiência a nível da governação, democracia e princípios democráticos”.
A ministra da Presidência do Conselho de Ministros e dos Assuntos Parlamentares, Filomena Gonçalves, considerou que “esta escolha de Cabo Verde expressa o reconhecimento do contributo que damos para o enriquecimento desta importante instituição regional. Efectivamente, o tema escolhido não poderia ser mais actual e pertinente. Falar de tolerância e concordância religiosa como factores essenciais para o desenvolvimento, paz e estabilidade no espaço da CEDEAO significa fundamentalmente abordar um tema bastante caro a todos nós, condição ‘sine qua non’ para o tão almejado desenvolvimento sustentável da mãe África”.
“As religiões têm, portanto, o direito e o dever de compreender que é possível construir uma sociedade onde ‘um são pluralismo, que respeite verdadeiramente aqueles que pensam diferente e os valores como tais”.
Os trabalhos continuam amanhã, sexta e sábado com a apresentação de propostas e adopção de recomendações para o diálogo religioso e conquista da paz numa região crítica, com várias diferenças étnicas, raciais e religiosas e refém de grupos terroristas, a constante ameaça.
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