A ameaça não tem nada a ver com futebol, tem a ver com política e com a estratégia da Casa Branca em tentar esmagar vozes discordantes. A concretizar-se a ameaça, comunidade cabo-verdiana poderá ser a mais afetada pelo mais recente desvario do presidente norte-americano. Mas, observadores desvalorizam as declarações do presidente norte-americano, “próprias da sua fanfarronice inconsequente”.
Misturando futebol com política e revelando, mais uma vez, o seu lado autoritário e adverso à liberdade de opinião, Donald Trump, partiu para a ameaça, criticando a atuação dos democratas em cidades e estados que irão receber grandes eventos desportivos, como sejam a Copa do Mundo 2026 e os Jogos Olímpicos de Verão, que acontecerão na cidade de Los Angeles, em 2028.
Começando por socorrer-se de falsos pretextos, nomeadamente uma suposta insegurança nas cidades governadas pelo Partido Democrata, Trump disse nesta quarta-feira, 15, que poderia pedir à FIFA para retirar os jogos da Copa do Mundo programados para o estádio Gillette, em Foxborough, caso considere que as condições de segurança em Boston não são apropriadas.
Mas, logo de seguida, o inquilino da Casa Branca revelou as suas verdadeiras intenções, que nada têm a ver com segurança ou com futebol.
“Adoro o povo de Boston, sei que os bilhetes para os jogos estão esgotados. Mas a mayor não é boa”, disse Trump aos jornalistas, referindo-se à presidente da Câmara de Boston, Michelle Wu, e acrescentando: “há piores do que ela, pelo menos é inteligente - sabe, algumas têm um QI extremamente baixo - essas incomodam-me mais. Ela é inteligente, mas é de esquerda radical.”
Para além de expor o seu verdadeiro propósito, que é o de censurar vozes que pensam diferente, Trump destapa ainda a sua misoginia ao partir do pressuposto de que as mulheres seriam desprovidas de inteligência e de que Michelle Wu seria um caso diferente, uma exceção à norma...
Comunidade cabo-verdiana seria uma das mais afetadas
Segundo a FIFA, sete jogos estão programados para acontecer no Gillette Stadium e analistas da modalidade dizem que Trump não tem qualquer autoridade legal para alterar a programação da organização internacional que gere o futebol, que já havia selecionado as cidades-sede do Mundial em 2022. Uma opinião corroborada pelo vice-presidente da FIFA, Victor Montagliani, ao reiterar que as decisões sobre locais de jogos são exclusivas da organização.
Por sua vez, a presidente da Câmara de Boston já respondeu a Trump, salientando que a cidade está “preparada e animada” para receber o torneio mundial e reafirmando o compromisso em “garantir segurança e boas experiências” para os apoiantes das seleções que participam na copa.
Boston fica situada em Massachusetts, o estado norte-americano onde é mais expressiva a comunidade cabo-verdiana, principalmente nas cidades de New Bedford e de Fall River, mas também na cidade de Providence, em Rhode Island – um estado que faz fronteira com Massachusetts.
Por tal razão, a concretizar-se a ameaça, a comunidade cabo-verdiana seria uma das mais prejudicadas. No entanto, vários observadores têm vindo a desvalorizar a atitude de Trump, considerando que as declarações do presidente norte-americano “não são para levar a sério” e que são “próprias da sua fanfarronice inconsequente”.
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