
Os dados são de ontem, quando o número de mortos de uma operação policial ordenada pelo governador (de extrema-direita) do Rio de Janeiro, Brasil, já tinha chegado a 130. Mas este número pode crescer ainda mais. Familiares das vítimas e moradores do Complexo da Penha (uma favela da “cidade maravilhosa”) enfileiraram os mortos que não constam na contagem oficial.
Na madrugada desta quarta-feira (29), moradores do Rio de Janeiro começaram a reunir na Praça São Lucas, no Complexo da Penha, outros 72 corpos encontrados em área de mata após a megaoperação policial que é considerada a mais letal da história.
Na contagem oficial do governo do estado (liderado por um bolsonarista), havia 64 mortos, sendo quatro agentes da polícia, além da prisão de 81 pessoas. Agora, com os 72 novos corpos que não haviam sido contabilizados, esse número pode ultrapassar 130.
Violência policial não enfrenta as raízes do problema
A megaoperação policial foi realizada na última terça-feira, 28, nos complexos da Penha e do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro, mobilizando 2.500 agentes e paralisando boa parte da cidade, com escolas fechadas, bloqueios em artérias de acesso e moradores retidos em casa.
A ofensiva faz parte da chamada “Operação Contenção”, um programa permanente do governo bolsonarista de Cláudio Castro (Partido Liberal) para suster a expansão do Comando Vermelho (CV – a segunda maior organização criminosa brasileira). No entanto, as imagens que circularam nas redes sociais mostraram helicópteros atirando de cima, blindados destruindo ruas e famílias aterrorizadas dentro de suas casas, matando indiscriminadamente.
A operação policial é mais um capítulo de uma política de segurança centrada na letalidade e na espetacularização da violência que não enfrenta as raízes do problema.
E há uma nítida diferença de tratamento em função da classe social, já que quando precisam cumprir mandados de prisão nos endereços elegantes, as forças policiais agem com cuidado. Mas, nas favelas, o resultado é a população aterrorizada, sem poder sair para trabalhar e estudar, num cenário que lembra uma guerra, uma tragédia permanente que transforma as comunidades em zonas de exceção, onde os direitos constitucionais dos cidadãos ficam suspensos e os pobres são tratados como inimigos.
ONU condena chacina
A gravidade da operação policial mais letal da história, que deixou para cima de 130 mortos, repercutiu internacionalmente. O Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos publicou uma nota afirmando estar “horrorizado com a operação policial em andamento nas favelas do Rio de Janeiro” e exigiu investigações rápidas e eficazes sobre as mortes, lembrando que o Brasil tem obrigações internacionais no campo dos direitos humanos e deve garantir responsabilização e reparação às vítimas.
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