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Notas do Fim-de-semana. Responsabilidade Colectiva no Combate ao Coronavírus
Colunista

Notas do Fim-de-semana. Responsabilidade Colectiva no Combate ao Coronavírus

"Se alguma entidade pública cair na tentação estatística a pensar em votos,  e vender a fartura, terá uma decepção. Por exemplo, a Câmara Municipal da Praia[i] em querer apresentar que está tudo a correr bem; acabando traindo a si mesmo, é sintomático deste efeito político a sobrepor-se sobre ao real sucesso: “Só neste período de pandemia, já chegámos a mais de 40 mil famílias, em 60 bairros do município, distribuindo perto de 9.000 cestas básicas para o apoio a pessoas nesta hora tão difícil.” Dividindo 6.000 cestas básicas para 40.000 famílias dá-nos uma média de 0.225 (1/4) cestas básicas, por família. E ao dividirmos 9.000 cestas básicas por 60 bairros dá-nos uma média de 150 cestas básicas, por bairro. Tirem as vossas conclusões.

1. A responsabilidade colectiva não pode ser vista apenas como responsabilidade de todos os Cidadãos. Nesta luta, mais do que nunca, deve ser dos Cidadãos e das Instituições. Isto é, tem de haver uma cooperação governo-cidadão. Se um dos lados falhar, o sucesso será mais difícil e longo. Mais de 80% (perceção apenas) de Cidadãos na Praia cumpriram o confinamento nos primeiros 37 dias. Se as Autoridades não conseguiram, ou conseguem fazer cumprir as restantes 20%,mesmo tendo a prerrogativa Constitucional a seu favor, tem que assumir a sua responsabilidade. Assim como, se não se focar honestamente em saber exactamente o grau de execução e o alcance das medidas previamente anunciadas, poderemos não atingir os objetivos. Qualquer tentativa política de passar toda a responsabilidade dos erros e falhas apenas aos Cidadãos, será um erro, e irá perpetua-se, quiçá acentuar a não responsabilização. A emoção tem o seu lado perverso, quando bloqueia a racionalidade: o nosso sistema de saúde transforma-se no melhor do mundo.

2. O vídeo do Cidadão confinado na EHTCV, a demonstrar “erros e falhas” dos protocolos, devia ser levado mais a sério, depois do que aconteceu na Hotel Karamboa na Boavista. Mas, em vez disso, o foco foi desviar a atenção para o vídeo do outro Cidadão nas instalações da Cruz Vermelha. A retórica do Primeiro-ministro de que “prefere perder todas as eleições do que perder a batalha contra o coronavírus”, provou-se demagógica, quando diz[i] que “o lugar de isolamento não é espaço para festas nem de minimizar o vírus”. É a máscara a cair ao Primeiro-ministro, nesta tentativa de utilizar uma comunicação coordenada e linha com uma massa, com uma boa dose de drama[ii], como forma de desresponsabilizar as falhas e erros das autoridades, e passar toda a responsabilização aos “desobedientes gados” ( há mais adjectivos pejorativos que foram cuspidas nas redes sociais). Que risco para a saúde pública tem um grupo de cidadãos confinados; sem a dignidade à altura (há vários hotéis vazios em Santiago que permitiria um isolamento mais adequado e, o EE permite inclusive a requisição à força)? Mas, o problema é que decide, deve pensar: paké da kes pobres lá luxo? Metes lá na Cruz Vermelha e EHCT na um sala.”

3. O que tem ajudado muitas famílias, tem sido a solidariedade comunitária e a diáspora. Se alguma entidade pública cair na tentação estatística a pensar em votos, e vender a fartura, terá uma decepção. Por exemplo a Câmara Municipal da Praia[iii], em querer apresentar que está tudo a correr bem; acabando traindo a si mesmo, é sintomático deste efeito político a sobrepor-se ao real sucesso: “ Só neste período de pandemia, já chegámos a mais de 40 mil famílias, em 60 bairros do município, distribuindo perto de 9.000 cestas básicas para o apoio a pessoas nesta hora tão difícil.” Dividindo 6.000 cestas básicas para 40.000 famílias dá-nos uma média de 0.225 (1/4) cestas básicas, por família. E ao dividirmos 9.000 cestas básicas por 60 bairros dá-nos uma média de 150 cestas básicas, por bairro. Tirem as vossas conclusões.

4. Tirando isso, as pessoas mais vulneráveis têm neste momento duas formas de terem rendimentos: através do estado (tem que ter uma conta bancária) e da transferência das famílias no estrangeiro. Uma vez que fisicamente os serviços Bancários não estão descentralizados nas periferias, estando numa época anormal, as pessoas irão em massa para o serviços centralizados. Nem todas as pessoas dominam os tic´s, e tem net a borla, mesmo tendo telemóveis. As aglomerações são devidas ao efeito escassez: serviços mínimos e necessidade de acesso ao rendimento no banco. Quanto ao não cumprimento das regras, supostamente simples como distanciamento de 2 metros, convém conhecer a nossa realidade comportamental. Defendi no início que os militares deveriam estar a coordenar esta guerra. Desde que se instalaram frente às instuições bancárias, a ordem foi estabelecida. Mas vamos questionar, como prevenção, o seguinte:

a) A informação tem sido clara e eficaz?

b) As pessoas têm entendimento da ameaça em particularmente sua taxa de contágio?

c) Os canais de comunicação que estão a ser usados pelas instituições são os ideais?

d) Qual o grau da literacia funcional sobre esta pandemia na comunidade: as palavras confinamento, assintomático, distanciamento social etc., são percebidas por todos? 

Se se levantar o Estado de emergência sem sabermos exactamente qual o grau de percepção desta doença por parte da nossa população poderemos estar a instalar o caos na Cidade da Praia. Infelizmente, a excepção da Direção Nacional das Receitas do Estado (DNRE), entidades como a Casa do Cidadão não têm serviços online. As pessoas que passaram 40 dias sem possibilidade de tirar um Registo de Nascimento online, invadirão os serviços. Estarão estes serviços preparados?

[i] https://anacao.cv/o-lugar-de-isolamento-nao-e-espaco-para-festas-nem-de-minimizar-o-virus-primeiro-ministro/

[ii] https://anacao.cv/o-lugar-de-isolamento-nao-e-espaco-para-festas-nem-de-minimizar-o-virus-primeiro-ministro/

[iii] https://www.facebook.com/CMPraia/posts/3259276774103027?__tn__=K-R

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Redação