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As gaiatices do MpD e seus soldados II
Colunista

As gaiatices do MpD e seus soldados II

Ora vejamos: o sistema financeiro estará disposto a financiar jovens estagiários no processo de aquisição de habitação própria? Se sim, tudo bem! Se não, estará o governo a escarnecer desta camada mais importante da sociedade cabo-verdiana? Se não, tudo bem! Se sim, qual é a melhor atitude que devem tomar? É que os jovens cabo-verdianos não estão à venda, antes, estão cada dia mais conscientes das gaiatices do MpD e seus soldados.        

A fragilidade das instituições democráticas está evidente. Nota-se, nos procedimentos de certas instituições, uma clara subserviência à voz do dono, isto é, à voz do governo ou do partido no poder, o MpD, humilhando o cumprimento das leis e a observância dos princípios do bom senso e da sã convivência institucionais. Sobretudo agora que se aproximam as próximas eleições e os “donos disto” já começaram a puxar as chupetas da cartola, parafraseando o ilustríssimo advogado e fundador do MpD, Eurico Monteiro, hoje embaixador político em Lisboa, nos seus áureos tempos do PCD.

O país vai mal. Está aos olhos de todo o mundo que, hoje, Cabo Verde está sob o domínio da conversa fiada, dos discursos de ocasião, minuciosamente concebidos para provocar sonolência na nação, e da arrogância de um grupo que assume como lema de governação “sem djobi pa ladu, gosi ê nos ki sta manda”.

É verdade! Um grupo chefiado por um primeiro ministro que, na primeira remodelação governamental, se demitiu das suas funções governativas e políticas, transferindo as suas principais responsabilidades para o ministro das Finanças, e que hoje, do alto do seu pedestal político e administrativo, se dá ao luxo de não responder às questões levantadas pela oposição, durante os debates que, por imposição da lei, acontecem mensalmente na casa do povo – o Parlamento – numa atitude de arrogância e desrespeito pelas minorias parlamentares sem precedentes na história de Cabo Verde independente e democrático.

Como havia alertado o político Norte Americano, Abraham Lincoln, “pode-se enganar a todos por algum tempo; pode-se enganar alguns por todo o tempo; mas não se pode enganar a todos todo o tempo”.

O governo do MpD, pela boca do seu vice-primeiro ministro e ministro das Finanças, Olavo Correia, o todo poderoso, acaba de anunciar o alargamento da bonificação de taxas de juros sobre o crédito habitação para os jovens com idade até 35 anos. Os empréstimos podem ir até 7 mil contos.

A medida, assim embrulhada e enfeitada, parece ótima! Aproximam-se as eleições e esta poderá ser uma chupeta bem doce para uma camada que constitui o grosso da população do país e que se encontra a braços com problemas de toda a ordem.

Todavia, bem analisada, esta é apenas mais um discurso para fazer a nação dormir, para embalar as pessoas. Sobretudo, se estiverem desatentas!

Porquê? Porque os jovens estão desempregados, e sem emprego, não há crédito para ninguém.

Cabo Verde está perante um governo que conseguiu, em pouco mais de dois anos, destruir acima de 15 mil empregos. O desemprego jovem é uma autêntica calamidade social. A taxa de desemprego nesta camada situa-se nos 27 por cento. E até este momento o MpD não conseguiu apresentar qualquer política credível para a geração do emprego. Pelo menos que se conheça!

E, perante a demanda da juventude, o governo acena com estágios profissionais. E, com este aceno, acaba de prometer 5 mil para o ano em curso, que já vai pela metade – julho já está à porta.

Milagrosamente, os 9 mil empregos dignos anuais prometidos durante a campanha eleitoral (totalizando 45 mil empregos durante o mandato), transformaram-se em 5 mil estágios profissionais. Dir-se-ia por obra de alguma varinha mágica. Esta que, no ano passado, o primeiro ministro havia lamentado não possuir!

Porém, esta estranha metamorfose de números, promessas e compromissos será objeto de uma outra conversa.

Por ora, quero pedir ao leitor que analise comigo este discurso eleitoralista que o todo poderoso Olavo Correia quer impor aos jovens, como se estes não tivessem maturidade suficiente para discernir sobre a realidade que os cercam.

Ora vejamos: o sistema financeiro estará disposto a financiar jovens estagiários no processo de aquisição de habitação própria? Se sim, tudo bem! Se não, estará o governo a escarnecer desta camada mais importante da sociedade cabo-verdiana? Se não, tudo bem! Se sim, qual é a melhor atitude que devem tomar? É que os jovens cabo-verdianos não estão à venda, antes, estão cada dia mais conscientes das gaiatices do MpD e seus soldados.

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SOBRE O AUTOR

Carla Carvalho

Editora e colunista de Santiago Magazine, política, socióloga, professora universitária, pesquisadora em género e desenvolvimento