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Operação voo da Águia – Quinta parte
Cultura

Operação voo da Águia – Quinta parte

XXV CENA

Pedro está sentado à mesa na cozinha, com uma garrafa de whisky à frente, duas lagostas, uma panela com arroz à valenciana, uma garrafa de vinho de marca, pratos e talheres. Chega o seu amigo, chefe da polícia, e cumprimentam-se com um forte abraço.

CHEFE – Já vi que agora é só whisky velho, meu grande Pedro!

PEDRO – De vez em quando é necessário que mudemos de ares e de hábitos.

CHEFE – É verdade. A não ser que não possamos.

PEDRO – A minha mulher, por exemplo, foi a Badajoz respirar o ar espanhol; a minha enteada quis ir à praia dar um mergulho apesar de a água estar ainda um pouco gelada; e eu sozinho em casa… apeteceu-me fazer este almoço diferente e convidar o meu amigo para almoçar.

CHEFE – Muito obrigado. (Destapa a panela) Foste tu que cozinhaste?

PEDRO – Arroz à valenciana com lagostas de Cabo Verde!

O chefe retira a toalha da mesa e aponta o dedo para uma travessa que contem duas lagostas.

CHEFE – E as lagostas também são para nós?

PEDRO – Para quem haviam de ser?

Riem-se e comem sossegadinhos.

CHEFE (quase no fim da paparoca) – Já vi que mudaste mesmo de ares e de hábitos. Agora é lagosta de Cabo Verde! Adeus às imperiais e às asas de frango.

PEDRO (com aspeto ébrio) – Eu e o chefe, a nossa categoria já não permite que bebamos imperiais nem whiskies novos.

Sorve um gole do seu copo.

CHEFE – As viagens ao além-fronteiras como é que têm corrido?

PEDRO – Maravilhosamente.

CHEFE – Há mais de seis meses que vais e vens! Ainda nem tinhas comprado esta vivenda!

PEDRO – Mais ou menos. A vivenda comprei-a há 4 meses.

CHEFE – E vais sempre no dia em que o meu colega está de serviço, certo?

PEDRO – Sempre. Ele tem sido um bacano. Há uns que são malandros, mas ele…

CHEFE – E eu, sou malandro?

PEDRO – Você é o chefe.

Riem-se.

CHEFE – Ele disse-me que vais quase todas as semanas.

PEDRO – É que arranjei por lá alguns amigos… já não querem que fique muito tempo longe deles. São gajos porreiros, pá.

CHEFE – O Audi R8 que tens lá fora parado… foram eles que to deram?

PEDRO (vacila-se) – É do meu cunhado, marido da minha irmã.

CHEFE – Grande máquina. Custa 103.000€ na Audi.

PEDRO – O meu cunhado tem muito dinheiro. É sucateiro e subempreiteiro da construção civil.

CHEFE – E o Mercedes SLK200 – R172 que a tua mulher leva à praia aos fins-de-semana…

PEDRO – É da cunhada dela, a mulher do irmão. Ela é voluntária nas Nações Unidas e deputada europeia nas horas extras.

CHEFE – E o BMW G650, descapotável que a tua enteada leva sempre às discotecas…

PEDRO – Ah! O BMW é do meu sobrinho, filho de uma prima minha. Ele deu-o à minha enteada para o ajudar a vendê-lo. A minha prima é casada com um tipo que vende CDs e DVDs piratas. Quer dizer… em segunda mão.

CHEFE – Não sei quando é que terei idade para ter um carro desses.

PEDRO – Que idade é que o chefe tem?

CHEFE – Quase 53.

PEDRO – É chefe! Não tem ainda porque não quis. Você trabalha… ganha bem!

CHEFE – Enquanto espero pelo meu ordenado, já vi que nem para o meu caixão conseguirei poupar. Ainda mais, agora que nos cortaram os subsídios de férias e do décimo terceiro mês.

PEDRO – Isto de cortes nos subsídios foi um abuso deste governo.

CHEFE – Pelo menos se tivesse continuado com o negócio de pistolas… engordava-me o salário no fim do mês. Mas o meu amigo já não quer vender mais pistolas! Há quase seis meses que não vejo um cêntimo desse negócio.

PEDRO (um pouco condoído) – Tem alguma disponível?

CHEFE – Tenho sempre. E tu sabes.

PEDRO – Se tiver, eu compro-lhe duas. Uma para mim e outra para um amigo. (Olha-o fixamente) Marca, modelo e calibre?

CHEFE – Por acaso tenho duas em casa. Uma é aquela última que vendeste. Outra é uma Walther PPK, calibre 7.65 mm. A marca que o James Bond usava.

PEDRO – Essa fica para mim e a Browning para o meu amigo. Dou-lhe dois mil euros pelas duas.

CHEFE – Não as tenho aqui comigo agora.

PEDRO – Não tem importância. Eu dou-lhe o dinheiro e você dá-me as pistolas depois. (Conta quatro notas de 500€ e entrega-lhas. O chefe verifica-as minuciosamente) Porque é que está a verificar as notas assim?

CHEFE – Para me certificar de que não são falsas. Imagina lá, cerca de 5 meses do meu ordenado em notas falsas.

PEDRO – Você acha que eu ia passar dinheiro falso a um polícia?

CHEFE – E chefe da polícia. (Estende-lhe a mão e dão um aperto) Eu sou muito teu amigo.

PEDRO – Disso nunca duvidei.

CHEFE – Mas tu não és tão meu amigo quanto eu sou teu.

PEDRO – Por que é que diz isso? Até me sinto mal.

CHEFE – Estou a brincar. Sei que tu também és meu amigo. (Pedro levanta a mão direita e os dois dão uma batida com as palmas das mãos) Embora não me contes os teus segredos!

PEDRO – Quais segredos?

CHEFE – Não te esqueças de que eu sou polícia, Pedro.

PEDRO – Que segredo? Não estou a entender!

CHEFE – Não estás a entender?

O chefe serve mais um whisky para os dois, segura no seu copo e coloca na posição de fazer um brinde. Pedro segura também no dele e brindam «que as nossas mulheres não fiquem viúvas». Bebem de um trago só.

PEDRO – Pois olhe que eu não tenho segredo, nenhum.

CHEFE (manifestamente ébrio) – Mas sabes que podia deter-te agora, chamar reforço e revistar a tua casa?

PEDRO (quase que torna sóbrio) – Porquê, chefe?

CHEFE – Não o vou fazer. É uma maneira de dizer, para veres que se eu quiser saber os teus segredos, será fácil.

PEDRO – E se eu contar também sobre o negócio das pistolas?

CHEFE – Ninguém acreditará. Eu sou policia… sou autoridade. Ainda levas com mais um processo em cima, por calúnia e difamação e, pela agravante de ser contra um agente da autoridade… e chefe, levas uma carga de porrada.

PEDRO – Por isso é que ouço sempre que as autoridades são autoritárias.

CHEFE (empunha a pistola) – Para já, estás preso.

PEDRO (de pé, com as mãos em cima da cabeça) – Mas o que é que eu fiz?

CHEFE – Ou me contas os teus segredinhos, ou chamo já reforços e levo-te para a esquadra.

PEDRO – O que é que o chefe quer que eu conte?

CHEFE – A fonte. Onde é que andas a beber essa água tão cristalina. Vá! Como é que conseguiste comprar esta vivenda?… estes carros, que custam milhares de euros?… essas viagens para lá da fronteira… o que vais buscar?… ou melhor, o que vais levar?

PEDRO – E o que é que você irá fazer se eu lhe disser?

CHEFE – Nada. Farei parte da equipa e jogamos lado a lado.

PEDRO – Ok. Tenho um sócio que me fornece…

CHEFE – Fornece-te pó para tu passares?

PEDRO – Sim.

CHEFE – E por que é que eu não posso fazer parte?

PEDRO – Pode fazer parte se quiser, mas o meu sócio não tem nada que saber. Ele não pode saber que você está metido.

CHEFE – Melhor assim. (Guarda a arma e senta-se) Quanto menos envolvidos, menos hipóteses de ser descoberto.

PEDRO (senta-se também) – Se quiser, eu recebo o material dele e entrego-o a si.

CHEFE – E qual será a minha recompensa?

PEDRO – Por cada quilo que você passar, recebe 3.000€.

CHEFE – Três mil euros por cada quilo?

PEDRO – E logo na mão.

CHEFE – Que grande patrão! Paga bem e adiantado.

PEDRO – Para a semana vou passar 5 quilos.

CHEFE (medita um pouco) – Queres que te sugira uma ideia?

PEDRO – Que ideia?

CHEFE – Como sabes, sou chefe da polícia. Serei mais útil para ti, estando de fora do que se me envolver diretamente.

PEDRO – Tudo bem.

CHEFE – Por que é que não lhe damos uma banhada?

PEDRO – Uma banhada?!

CHEFE – Finges que não sabes o que é uma banhada?

PEDRO – Mas porque é que temos de dar-lhe banhada? Ele paga-nos!

CHEFE – E até paga bem. Mas ele ganha sempre muito mais.

PEDRO – Também é ele que investe nas compras, nos transportes e nos materiais para cortes.

CHEFE – Deixa de armar-te em irmão de Jesus!

PEDRO (estupefacto) – Irmão de Jesus?!

CHEFE – Não é Jorge Jesus do Benfica. Que ele também é um grande trafulha. De Jesus só tem o nome. Estou a falar de Jesus Cristo. (Para um pouco) Onde é que se costumam encontrar, para receberes o duto?

PEDRO – Na horta do velho Quirino, onde você esteve connosco naquele piquenique. Encontramo-nos sempre às cinco da manhã.

CHEFE – Vocês vão encontrar-se para a semana?

PEDRO – Estamos combinados.

CHEFE – Mais coordenadas?

PEDRO – Encontramo-nos à frente do portão, debaixo da árvore, daqui a uma semana.

CHEFE – Muito bem. Ele vai com 5 quilos de branca…

PEDRO – E dinheiro para pagar o meu cachê.

CHEFE – Quer dizer que levará 15.000€ para o teu cachê?

PEDRO – 25.000€.

CHEFE – Não disseste há bocado que ele pagava 3.000€ por cada quilo? Pelo menos quando fiz a 4ª classe, três vezes cinco eram quinze.

PEDRO (apercebe-se de que tinha mentido) – Para quem está a começar, ele paga 3.000 por cada quilo. Como eu já trabalho com ele há algum tempo, ele paga-me 5.000.

CHEFE – 5.000€ por cada quilo? Vai levar 25.000€ para te pagar?

PEDRO – Exatamente.

CHEFE – Limpos, na mão? Sem descontos para a Segurança Social, Finanças, Sindicato, ADSE, Convergência Económica de Solidariedade, Seguros… pensão de alimentos dos filhos por ordem do tribunal, etc.?

PEDRO – Limpos, na mão.

CHEFE – Já vi que tenho de mudar de patrão.

PEDRO – Mas o seu trabalho não tem riscos, chefe. O seu fim de mês pode ser pouco mas é certo.

CHEFE – Trabalho de polícia não tem riscos?! Tem mais riscos do que traficar drogas. Quantos polícias morrem por ano, que os traficantes pagam para os liquidar.

PEDRO – Realmente…

CHEFE – Ainda a semana passada estavam a festejar o funeral de um polícia que abateram quando estava a levar um deles para a esquadra.

PEDRO – O chefe dá conta de tudo o que se passa! Pior do que um cão polícia.

CHEFE – Cão polícia… ainda vá lá. Agora polícia cão é que não. (Dão uma gargalhada) E então… concordas ou não com a ideia de lhe darmos uma banhada?

PEDRO – Como?

CHEFE – Simples. Dou eu. Tu não participas e nem podes estar envolvido. Tu não podes ser preso.

PEDRO – Preso?! Preso como?

CHEFE – Calma rapaz. Ouve primeiro o truque policial. (Pedro fica quase a chorar) Tu deves ter a noção de que quem entra nesta vida tem quatro destinos traçados: para matar, para morrer, para tomar banho em dinheiro ou, apodrecer na cadeia.

PEDRO – Eu sei disso.

CHEFE – Então por que é que estranhaste quando eu falei em prisão?

PEDRO – Isto não é vida!

CHEFE – Pois, isto é sempre morte. Ou matas… ou morres. E ao teu amigo… temos que dar cabo dele.

PEDRO – Vai matá-lo?

CHEFE – Se for o caso…

PEDRO (esforça-se para não gritar) – NAAAÃO! Por favor não lhe faça mal.

CHEFE – Afinal não tens espírito para esses negócios.

PEDRO – É que ele não merece ser preso, muito menos morto. Ele não merece. Meu Deus!… Considero-me um Judas.

CHEFE – É assim: no dia em que vocês combinaram encontrar-se, eu vou chegar primeiro. Tu tentas chegar um ou dois minutos depois dele. Nunca antes dele para não estragares o serviço ou seres preso também; nem muito atrasado para que ele não desconfie que tu o traíste.

PEDRO – O que é que pensa fazer?

CHEFE – Ele vai ter contigo e leva duas bagagens. Certo?

PEDRO – Uma com cocaína e outra, uma mala diplomática, terá o dinheiro para me pagar.

CHEFE – Ok. Eu prendo-o, confisco-lhe a droga e o dinheiro.

PEDRO – Vai encarapuçado… à paisana?

CHEFE – Vou assim como estou. Fardado e como polícia. Prendo-o e levo-o para a esquadra só para despistar. Faz parte do jogo.

PEDRO – E o que é que o chefe vai fazer com a droga e o dinheiro que irá apreender?

CHEFE – Dividimos entre nós os dois.

PEDRO – Como? Você não tem que apresentar os produtos apreendidos? Esses produtos não vão para o tribunal, acompanhados do processo?

CHEFE – Tens muito que aprender, meu chavalo. Devias entrar na polícia e passares lá uns cinco anos antes de entrares nesta vida. Olha como é que vai ser: – conforme te disse, deves chegar uns dois minutos depois dele. Encontrá-lo-ás sob prisão, feito por mim. Eu peço-te, por favor, para vigiares os artigos confiscados, enquanto eu o levo à esquadra e mando uma viatura ir ter contigo. Tu estarás com uma embalagem igual, na mala do teu carro, contendo misturas de cal, açúcar, gesso, sal, cré e outras parecidas com “branca”. E trocas a embalagem. Quanto à mala com dinheiro, dou-te 25.000€ em notas falsas e substituis as verdadeiras. Metes os artigos verdadeiros no teu carro e ficas à espera que os agentes vão buscar os artigos apreendidos. Eu não os acompanho para não levantar suspeitas. Assim, ele pensa que foram os agentes que o aldrabaram. Depois vou ter contigo e dividimos os produtos. Concordas?

PEDRO – Espero que tudo corra bem.

CHEFE (Levanta-se e prepara-se para sair) – Adeus.

PEDRO – Adeus.

XXVI CENA

Paulo está algemado com as mãos atrás das costas. Em cima do balcão estão um pacote de drogas, uma mala com notas, ambos falsos, e uma pistola.

CHEFE – Senhor Paulo, efetuámos análises aos estupefacientes que lhe apreendemos, os mesmos revelaram-se falsos. Não constitui crime a apreensão de drogas falsas, pelo que não irá constar dos autos. As notas também não são verdadeiras. Mas, isto já é crime. Crime de contrafação, falsificação e lavagem de divisas. (Paulo fica incrédulo) E é punível com pesadas penas de prisão. Mas, como não o apanhámos a utilizá-las, é a primeira vez que vem à polícia, vamos tentar ajudá-lo. Portanto, não diga em tribunal nada a respeito da droga nem do dinheiro. O senhor vai responder só por causa da arma que lhe apreendemos. (Segura na pistola) Mas isso não é muito grave. Quando o juiz lhe perguntar a razão pela qual tinha esta arma, diga-lhe que mora num bairro social muito perigoso, que muitas vezes vem do trabalho à noite, que já foi assaltado algumas vezes e que arranjou esta pistola só para intimidar os bandidos, se tentassem assaltá-lo de novo. O que acha? (Quase a explodir de raiva, Paulo faz “sim” com a cabeça) Não diga nada a respeito da droga e do dinheiro. Você vai ao tribunal só por causa da pistola ilegal. Pode apanhar um bom juiz, que lhe dê uma multa leve, uma pena suspensa ou trabalho a favor da comunidade. Ou quer que enviemos as notas falsas também para o tribunal? (Paulo faz “não” com a cabeça) Então você já sabe. Não diga nada sobre droga e dinheiro no tribunal. Tiro-lhe as algemas, vai entrar no carro e seguimos para o tribunal. (Tira-lhe as algemas) Se você disser no em tribunal que também foi apanhado com droga e notas falsas, pode incorrer numa pena que vai até 14 anos de prisão, e o Estado confisca-lhe todos os seus bens: casas, carros, motos de água, etc. Você só vai responder perante o tribunal por causa da pistola que trazia sem licença de uso e porte de armas. Só isso.

Saem os dois.

XXVII CENA

Sentados à mesa, comem lagosta e bebem whisky de uma garrafa que têm à frente. Ao pé da mesa estão dois fardos iguais. O chefe seca o seu copo, apanha um dos fardos e sai. Pedro serve mais um whisky, petisca uma perna de lagosta, despeja as notas em cima da mesa e fica a observar. Levanta e pega no fardo para ir guardá-lo. Alguém bate à porta, ele vai abrir e recebe, à queima-roupa, três tiros de uma pistola com silenciador. Cai morto, com uma parte do corpo dentro de casa e outra fora. Uma pessoa encapuçada entra, rouba tudo e foge.

XXVIII CENA

Sentado num sofá, de manhãzinha, vê televisão. De repente ouve um anúncio.

TELEVISÃO – Caros telespetadores, mais um crime bárbaro aconteceu esta noite num dos bairros da cidade. Pedro, um jovem que era conhecido como “O rapaz das marcas” foi mortalmente baleado no interior da sua vivenda. Tudo indica que se trata de um ajuste de contas ou de um assalto cujo móbil é o tráfico de estupefacientes. Segundo a polícia judiciária, os cães farejadores detetaram vestígios de droga no interior do apartamento. A P. J. já está no terreno a tentar desvendar mais este misterioso homicídio.

PAULO (desliga a televisão, encosta-se no sofá e estende as pernas) – Meu Deus?! Mataram o Pedro?! (Matuta um bocado) É possível que desconfiem de mim. Aquele sacana é capaz de tudo. Mas ainda bem que não guardo nada cá em casa e ninguém sabe onde as escondo.

Volta a ligar a televisão.

TELEVISÃO – Acabou de chegar à nossa redação uma nova informação. Segundo o chefe da polícia local, já existe um suspeito. Não foi avançado o nome para não atrapalhar as investigações, mas brevemente será detido pela Brigada do Departamento de Homicídio da Polícia Judiciária. Está-se à espera de um mandado judicial para se poder atuar fora do flagrante delito.

PAULO – Já sabia! (Prepara um telemóvel e um cartão novos e marca o número) Estou!

UMA VOZ [OFF] – Estou sim!

PAULO – É o Dr. advogado?

UMA VOZ [OFF] – Sim.

PAULO – Doutor, sou eu, o Paulo.

UMA VOZ [OFF] – O que se passa, Paulo? Logo cedo assim?!

PAULO – Querem tramar-me, Doutor.

UMA VOZ [OFF] – Querem tramar-te?

PAULO – Sim, Doutor. O Doutor não tem televisão ligada?

UMA VOZ [OFF] – Eu ainda estava a dormir.

PAULO – Mataram o Pedro… aquele meu amigo.

UMA VOZ [OFF] – Ah, é! Então é melhor não falamos pelo telefone.

PAULO – O telemóvel é novo e o cartão também. É a primeira vez que os uso.

UMA VOZ [OFF] – Ok. E por que é que achas que te querem tramar?

PAULO – Ouvi na televisão que aquele cabrão disse que existe um suspeito. E só posso ser eu, Doutor.

UMA VOZ [OFF] – Então tens que sair daí o mais rápido possível… antes que o tribunal abra e emita o mandado para a tua captura.

PAULO – E para onde vou?

UMA VOZ [OFF] – Vem ter comigo. Fazemos uma denúncia anónima à procuradoria e polícia judiciária, indiciamos o chefe.

PAULO – Vou já, então.

UMA VOZ [OFF] – Apanha um táxi. Não venhas em nenhum dos teus carros.

PAULO – Ok. Até já.

UMA VOZ [OFF] – Até já.

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