Palestina: Movimento BDS congratula-se com Cabo Verde por ter barrado barco com munições para Israel
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Palestina: Movimento BDS congratula-se com Cabo Verde por ter barrado barco com munições para Israel

“Vitória! Cabo Verde recusa porto a navio genocida que transporta armas para o apartheid de Israel”. Esta foi a reação do movimento social internacional BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções), a maior organização da sociedade civil palestiniana, congratulando-se com a decisão da Enapor em barrar a entrada do navio Marianne Danica, que transporta munições para Israel.

O navio Marianne Danica, de bandeira dinamarquesa, que transporta 18 contentores com munições destinadas à empresa militar israelita Elbit Systems, tinha escala prevista no Porto Grande neste domingo, 28, com chegada às 07h00 e saída às 12h00. Mas a Enapor anunciou na última sexta-feira, 26, ter optado pela “não autorização” da sua entrada na zona de jurisdição portuária “por razões de segurança”, conforme foi anunciado por Santiago Magazine.

“Após protestos públicos, Cabo Verde juntou-se à crescente lista de Estados em todo o mundo que se recusam a permitir que seus portos façam parte da cadeia de cumplicidade nos crimes atrozes de Israel contra nosso povo”, pode ler-se no comunicado da BDS.

Na sequência da posição do país ao recusar a entrada do navio Marianne Danica, o BDS apelou ainda a Cabo Verde para adotar um sistema de controlo do afluxo de embarcações que garanta o “fecho dos seus portos para embarcações que transportam material militar e de dupla utilização para Israel”.

Na mesma nota, o movimento BDS apelou “às pessoas em toda a rota do Marianne Danica pelo Mediterrâneo” para garantirem a retenção do navio, antes que a sua carga com munições chegue a Israel.

O que é o movimento BDS?

O movimento que usa a sigla de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) fez 20 anos em julho último. Inspirado no movimento anti-apartheid na África do Sul, tem desenvolvido campanhas que o tornaram num dos principais alvos internacionais de Israel.

Criado em julho de 2005 por Omar Barghouti e Ramy Shaat, com o apoio de 170 organizações sindicais e da sociedade civil palestiniana, o movimento pelo Boicote, Desinvestimento e Sanções contra Israel até que este cumpra a lei internacional e os princípios universais dos Direitos Humanos, procurou seguir as pisadas do movimento que no passado promoveu esta forma de luta não-violenta contra o apartheid sul-africano.

O apelo inicial, lançado um ano após o Tribunal Internacional de Justiça ter declarado ilegal o muro israelita que serviu para anexar mais terras palestinianas, exortava as pessoas e organizações em todo o mundo a pressionarem os seus governos para imporem embargos e sanções a Israel até que este país pusesse fim à ocupação e colonização, derrubando o muro do apartheid, reconhecesse os direitos fundamentais à igualdade por inteiro dos cidadãos árabes-palestinianos em Israel e respeitasse, protegesse e promovesse os direitos dos refugiados palestinianos a regressar às suas casas, como estipula a resolução nº 194 da ONU.

A organização do BDS na Palestina é dirigida por um comité nacional composto por organizações palestinianas. É este comité que define os alvos de boicote a nível global, embora a natureza da campanha seja descentralizada, com milhares de coletivos e organizações a adotarem a designação BDS em muitos países do mundo.

O movimento palestiniano apoia essa forma de funcionamento que permitiu à campanha ganhar dimensão global e encoraja as campanhas a escolherem os seus próprios alvos segundo os critérios de cumplicidade com as violações dos direitos humanos por parte de Israel, o potencial de juntar outros movimentos à escala nacional, impacto mediático e possibilidade de sucesso.

E os sucessos desta campanha ao longo de quase 20 anos serviram para reforçá-la e também torná-la num dos principais alvos dos governos sionistas que têm promovido o avanço da colonização até ao genocídio deste ano na Faixa de Gaza.

No início, foi a região norueguesa de Sør-Trøndelag, com 270 mil habitantes - que se orgulha de ter sido a primeira região do país a boicotar o apartheid sul-africano - a primeira a aprovar uma moção a apelar ao boicote dos produtos israelitas e a lançar uma campanha pública nesse sentido.

Em 2006, o movimento ganha dimensão junto dos sindicatos, com a CUT brasileira e outras centrais sindicais da América Latina a juntarem-se à campanha contra a assinatura do acordo de livre comércio entre os países do Mercosul e Israel. Ainda nesse ano, na África do Sul, a COSATU aprova por unanimidade uma moção a favor de sanções diplomáticas e económicas contra Israel.

Nos Estados Unidos, crescia o movimento nas universidades pelo desinvestimento nas empresas que lucram com apartheid israelita e o mesmo aconteceu no universo das igrejas não-católicas em relação a essas empresas, onde se destacava a Caterpillar.

Na Europa, um dos primeiros alvos foi a parceria entre a Veolia e a Connex nos transportes púbicos de Israel, com protestos em Genebra e Dublin, onde a companhia local formava trabalhadores da empresa israelita. Essa parceria acabou, tal como a relação do banco holandês ASN Bank com a Veolia no projeto do elétrico rápido de Jerusalém. Mais tarde, a Veolia viria a ceder à pressão dos ativistas e a desfazer-se dos seus investimentos em Israel, tal como o fizeram grandes empresas como a Orange, G4S, General Mills ou a CRH.

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