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Isabel Moniz. A cara e o coração de uma causa maior
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Isabel Moniz. A cara e o coração de uma causa maior

Há alguns anos atrás Isabel Moniz teve o difícil diagnóstico de perturbação do espectro autismo para o filho. A notícia abriria as portas a novos desafios e labutas que culminaram em 2014 na criação da associação Colmeia. Hoje dá a cara, o corpo e a alma por uma luta que deixou de ser pessoal para se transformar numa causa social.

Ispectora de Trabalho de profissão, esta activista social encontra tempo para se desdobrar entre a família, o trabalho e o voluntariado. Percorre vários quilómetros para ouvir, confortar e levar esperança a outras famílias com filhos deficientes. Uma missão que diz ter abraçado, não por protagonismo, mas por necessidade.

“A Colmeia é uma organização que nenhum pai gostaria de criar. Porque os pais idealizam os filhos e quando nao vêm iguais entram num período de luto, tristeza e dor. Apartir do momento que somos mães pensamos nao só nos nossos filhos, mas também nos dos outros. Por vezes temos oportunidades que os outros não têm. Isso nos faz pensar se o nosso filho também estivesse na mesma condição e nos impele a agir”, partilha.

Movida por esta convicção, trabalha para pressionar os puderes públicos e chamar a atenção para a falta de assistência e o abandono que muitas famílias enfrentam. O objectivo é conseguir que o país ponha de pé um sistema de protecção que sirva para todos, pois, conforme explica, o direito à reabilitaçao e assistência é uma questão de oportunidade.

“Esses pais são cidadãos que precisam e têm direito a ser apoiados. São sobretudo mães que necessitam de uma respsota e não encontram. É isso que me motiva. Penso que a minha voz e a dos outros multiplica a mensagem. Não podemos ficar calados perante este problema social”.

Dar e receber

Isabel vivencia na pele a dificuldade das várias mães que se cruzam no seu caminho. Mais do que levar informação, leva uma mensagem de esperança, priniciplamente no meio rurral, onde muitas vezes a falta de informação torna a deficiência um fardo ainda mais pesado.

“Sinto-me contente porque conseguimos levar algum alento às famílias, nomenadamente as do interior de Santiago. Na Colmeia realizamos reuniões mesais. Isto tornou-se uma terapia para os pais. Muitos sentem-se menores e culpados. Interrogam-se porquê isso lhes acontecou”, exemplifica.

I

sabel Moniz atende vários pais em busca de apoios

Mas Moniz diz que ainda não está feliz, porque as respostas tardam a chegar. “Nenhuma organização da Sociedade Civil consegue substituir o Estado. Há coisas macros, nas quais o Estado tem de dar repsosta para que este trabalho que estamos a fazer realmente encaixe. Há alguma abertura, mas precisamos de mais celeridade”.

O voluntariado é exigente, desafiador e muitas vezes esgotante. Uma missão que exige trabalhar com o coração mas também com a cabeça, para chegar a resultados eficazes, conforme explica. Contudo Isabel explica que neste acto de entrega também recebe muito.

“Sempre achei que a vida é um aprendizado e que eu também seria uma eterna aprendiz. Quando estamos abertos a aprender evoluímos como pessoas. Trabalhar para servir quem realmente precisa faz bem e é um dever de todos. Faço e faria isso e todos os dias da minha vida, sem me cansar”, assegura.

De mãe para mães

As actividades são mais do que muitas. É preciso lutar por assistência, procurar parcerias, atender as famílias, combater a discriminação entre muitas outras tarefas.

Promover actividades lúdicas para pais e crianças é uma das missões da associação

“Não tenho tempo livre, quando não estou a trabalhar tenho de telefonar aos parceiros, elaborar documentos nos horários livres, falar com os pais, etc. Muitos têm um diagnóstico pela primeira vez e precisam do apoio de outra mãe que tenha passado pelo mesmo”.

Uma troca que se dá essencialmente entre mães, porque são raríssimos os pais que aparecem nas reuniões.

Uma questão que está também no centro das preocupações desta líder associativa, pois se para as famílias onde ambos os conjuges trabalham os encargos são pesados, a situação é muito mais complexa para mães solteiras.

“Apartir do momento em que a mulher engravida e nasce um filho com deficiência, as crianças deixam de ter papás. Essa não é uma questão só de Cabo Verde e acontece também entre a classe média-alta. Não é verdade que tenha a ver só com a pobreza. Há problemas até de registos, porque os pais acabam por abandonar as famílias. São casos tristes e difíceis que também me levam a fazer esse trabalho” ,lamenta.

Ciente das dificuldades Isabel Moniz insta os pais a não fecharem os filhos em casa. Sempre pronta para a batalha, esta mulher de armas não tem dúvidas que se pudesse de novo escolher um filho “escolheria esse mesmo menino”. Por ele e para todos os outros “filhos” que adoptou, vai continuar a lutar.

“É um trabalho árduo, vai exigir muito esforço, mas sou uma mulher de fé. Penso que com fé, persistência e coragem as coisas vão dar certo”, conclui, de sorriso nos lábios.

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SOBRE O AUTOR

Karina Moreira