O artista plástico Tuto Sousa reconheceu que actualmente, pelo trabalho de divulgação que se tem feito, a sociedade cabo-verdiana já começa a reconhecer esses profissionais, mas acredita que ainda falta dar o “devido valor” aos mesmos.
Tutu Sousa fez essas declarações à Inforpress, em Lisboa, à margem da participação na primeira Bienal de Lisboa – Arte Cristã, que decorre de 29 de Abril e vai até Setembro, em que a Câmara Municipal da Praia (CMP) participa como “Cidade Especial Convidada”, com sete artistas.
“Em Cabo Verde, a arte plástica ainda não recebeu o devido valor, porque quando se fala de arte, refere-se essencialmente à música e às outras áreas, quase sempre são esquecidas. Os artistas plásticos vivem praticamente ao abandono, cada um fazendo da sua maneira para sobreviver, buscando recursos para divulgar e promover o seu trabalho”, considerou.
O artista garantiu que “não tem nada contra” o destaque que é dado à música que é “mais fácil” de chegar ao consumidor, mas que para tentar mudar essa realidade, ultimamente os artistas trouxeram a “arte de rua”, sendo que hoje, quando se anda pela cidade da Praia, é possível encontrar centenas de pinturas, precisamente para fazer com que a “sociedade comece a ser moldada e aprender a consumir a arte plástica”.
“Hoje conseguimos ver a diferença, encontramos pessoas que já conhecem os artistas plásticos e os seus estilos. É um caminho que tem que ser feito” frisou, observando que essa participação na Bienal de Lisboa – Arte Cristã representa a capacidade que os artistas plásticos têm em aceitar um desafio e dar continuidade, assim como projectar novos planos para novas temáticas na pintura em Cabo Verde.
Na sua opinião, a arte sacra é uma temática que quase é esquecida em Cabo Verde, lembrando que ele mesmo, há alguns anos, fez pituras no teto da Igreja de Santa Catarina, sustentando que quando uma instituição como a câmara municipal “abraça essa causa”, os artistas só têm a agradecer, porque existem vários que muitas vezes perdem a oportunidade de participarem em eventos, por falta de apoios.
Por sua vez, o vereador da Cultura da CMP, Jorge Garcia, que acompanhou os artistas, concordou com Tutu Sousa, referindo que essa participação é uma “grande oportunidade”. Explicou que no grupo que participa no evento estão artistas “consagrados”, mas também jovens que estão a tentar um caminho e procurar a sua internacionalização.
“A Câmara Municipal da Praia tem promovido muitos artistas, nomeadamente na área da literatura e da música, mas estamos a sentir que temos que promover mais artistas na área de artes plásticas. Pretendemos, antes do final do ano, tentar fazer uma grande mostra colectiva de artistas já consagrados na área de pintura em Cabo Verde, mas também no sentido de promover e descobrir novos talentos”, revelou.
Para além de Tuto Sousa, participam na Bienal de Lisboa – Arte Cristã, Edson Garcia, Hélder Cardoso e Tony Kaya Barbosa, residentes em Cabo Verde, e Miranda Brito, David Levy Lima e António Firmino, residentes em Portugal.
De acordo com a organização, ao longo de vários meses, até Setembro, o evento vai exibir “a criatividade de 70 artistas nacionais e internacionais de 19 países”, sendo que as obras em exposição vão estar distribuídas por vários locais de Lisboa, como são o caso do Convento da Graça, Igreja do Castelo de São Jorge, Igreja da Madalena e Museu de Santo António.
Com a curadoria do artista português Santiago Belaqcua, o evento contempla, também, várias iniciativas ao longo desses meses, como concertos musicais de diversos estilos, com o objectivo de “valorizar todo o património religioso através da criatividade artística de todos os artistas em exibição, nos mais diversos temas e figuras da história cristã”.
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