O escritor cabo-verdiano Adolfo Lopes Varela, conhecido por N’gosi Nelly, lançou hoje, em Lisboa, o seu mais recente romance “Dunas sem areia”, explorando a história de Cabo Verde em um período de grandes transformações políticas e sociais.
O lançamento da obra, em que o autor tece uma trama que entrelaça amor, política e a busca por identidade, aconteceu no Centro Cultural de Cabo Verde (CCCV), e foi apresentado pelo presidente da União de Estudantes Cabo-Verdianos de Lisboa (UECL), Edson da Veiga, que fez uma análise do livro e da sua relevância para se entender a história de Cabo Verde.
A história do romance tem um ambiente no contexto da descolonização portuguesa e narra a história de dois jovens apaixonados que enfrentam os desafios de uma sociedade em ebulição.
“Para mim foi um prazer, porque sou bastante curioso em relação à luta da independência e o passado antes da independência de Cabo Verde, porque fala-se disso sempre, mas no fundo, não se fala dos lugares e o autor da forma como escreve, soube dar detalhes e ao ler o livro,o leitor consegue facilmente compreender e imaginar os cenários”, disse Edson da Veiga sobre a história que tem como cenário a ilha da Boa Vista.
Para ele, é possível ver a morabeza de Cabo Verde na história, a força da mulher e do homem cabo-verdiano, sendo possível ver tudo o que se falava, de uma forma não tão detalhada, como o contraste do comportamento dos nativos e a questão de como é que as crianças eram educadas.
Para Edson o livro é um romance, embora impossível, mas real, mostrando o valor da humanidade, que não importa a cor ou raça e que quando há cor, tudo o que separa uma pessoa da outra, desaparece, algo que o autor conseguiu mostrar na história em que os diálogos são em crioulo da variante da Boa Vista, tornando em um sinal que o autor dá da necessidade de valorizar o crioulo e que não importa a variante, o importante é oficializar o mesmo.
O autor, que já possui outros trabalhos publicados, como “Rabés di mundu” e “Sanpabadiu”, aprofundou a sua pesquisa sobre a história de Cabo Verde em “Dunas sem areia”, explorando a complexidade das relações entre Portugal e suas colónias, destacando a importância da luta pela independência e a busca por uma identidade nacional.
“O livro acabou por ser a preocupação que tenho com a língua cabo-verdiana, porque o que torna a língua viva é essa diversidade cultural. Cada língua carrega o simbolismo e a tradição de um sítio (…). Quando perdemos uma língua, estamos a perder a história de um povo”, considerou N’gosi Nelly.
Autor explicou que o livro fala do amor, algo que para ele é o “elemento mais puro que um ser humano poder transmitir ao outro”, já que “uma pessoa sem amor, viverá num vazio eterno”.
O escritor, poeta e investigador N’gosi Nelly, natural do município do Tarrafal, interior da ilha de Santiago, é licenciado em Ciências Políticas e Relações Internacionais, com especialização tecnológica em Gestão Administrativa de Recursos Humanos, mas também é especializado em Direitos Humanos, na vertente de Igualdade e Equidade do Género.
Em 2023, publicou o romance “No colour love (Kriolidades)”, livro que procurou reflectir não só sobre o surgimento da língua cabo-verdiana, mas também contar a história com um olhar recente, revolucionando, em vários aspectos.
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