A música cabo-verdiana ficou mais pobre. Morreu Djack Monteiro.
Joaquim Monteiro nasceu em Ribeira Bote, cidade de Mindelo-ilha de São Vicente, no dia 07 de Outubro de 1929, filho de João Joaquim Lisboa e de Rosa Isabel Monteiro.
Iniciou a sua experiência musical, pela voz, ia já na casa dos seus vinte anos de idade, incentivado pelo colega e amigo Antãozinho que o empurrou a cantar num dia de serenata.
E ali por volta dos seus vinte e seis, também impulsionado por colegas, iniciou-se, por um método brasileiro, a aprender tocar violão, tendo-se posteriormente aperfeiçoado com o violinista Malaquias Costa.
Descoberta a sua inconfundível voz na interpretação de músicas tradicionais cabo-verdianas e ritmos de artistas estrangeiros, muito apreciados na época, em São Vicente, como Nelson Gonçalves e Night King Col, Djack começou a ser chamado para actuar em convívios, saraus culturais e várias outras actividades.
E com o nome a ser familiar para o público geral, em finais da década de 1960, participou numa gravação discográfica, integrado no grupo “Mindelo”.
Em 1970, aproveitando uma viagem para tratamento em Portugal, gravou pela editora portuguesa “Valentim de Carvalho”, uma gravadora muito conceituada na altura, o seu primeiro trabalho a solo que foi um verdadeiro êxito, a altura em que também ganhou o pseudónimo “Djack Monteiro”, nome artístico por que viria a ficar conhecido, e que lhe foi cunhado pela editora que procurava um cognome de “feição artística” para o disco.
Dali, só veio a gravar em 1984, nos estúdios do Mindelo da Rádio Nacional de Cabo Verde, um trabalho encomendado pela UNICEF. Em 1998, produziu o seu primeiro CD.
Compositor particularmente de mornas, as suas canções trazem quase sempre temas de fundo sentimental ligadas sobretudo ao amor:
“(...)
Si bu amor é puro
N’ ta respondel cu mesmo amor
Qu’é pâ liviobe dés sofrimento
Qui ta dobe cabo di bô vida
N’ ta fazé tude
Pâ construí és felicidade
Pâ bô creditá na nha lealdade
Pâ dignificá és bô amor”
E desenvolve igualmente o amor na sua relação com a saudade:
“Na dispidida
Bu dame tristeza
Na bô partida
Bô entregame tormento
Na bô regresso
Bô tâ trazem ligria
Volta cretcheu
Fazeme feliz
Nem que pâ um dia
Sem bô presença
Mundo é vazio
Sem bô falar
Mundo é silêncio
Sem bô olhar
Mundo câ tem luz
Volta cretcheu
Fazeme feliz
Nem qui pá um dia
(…)”
É autor de uma única coladeira, a versar letra seguinte:
“Antes quonde um conchebe
Bô era uma moça alegre e bonita
Confia na Deus pal devolvebe
Bô alegria que bô tinha antes
(...)”
Em 1998, entrou para a situação de aposentado.
Afastado das tarefas laborais, apesar de um problema de saúde que lhe afectou a garganta, movido, porém, pelo gosto pela música, decidiu mesmo assim dedicar-se ao treino da guitarra, instigado pela vontade de alcançar perfeição na forma de expressar-se ao violão.
E porque continuou a compor, possui um bom número de composições em anonimato, sobretudo mornas.
Em 26 de Abril de 2012, artistas mindelenses homenagearam Djack do Carmo com Saru Cultural.
Em reconhecimento pela sua relevante contribuição para o engrandecimento da nação cabo-verdiana e para a afirmação dos valores da cabo-verdianidade e de identidade nacional, a 5 de Julho de 2011, no quadro das comemorações do XXXVIº Aniversário da Independência Nacional, Djack foi condecorado pelo Presidente da República de Cabo Verde com a Primeira Classe da Medalha do Vulcão.
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