Chála completou, ontem, mais um ano de vida.
Músico multinstrumentalista, foi dos que deram grande contribuição à música e cultura cabo-verdianas.
Ecce homo:
Marcelino Henrique Correia e Silva nasceu em Monte Sossego-ilha de São Vicente, no dia 11 de Fevereiro de 1950, filho de Henrique Lopes da Silva e Belmira Lopes da Silva.
Em 1952 mudou residência para a cidade da Praia.
Adquiriu paixão pela música atraído pelo irmão Manel Clarinete que o ensinou a tocar clarinete. Posteriormente aperfeiçoou os seus conhecimentos e passou a executar outros utensílios de palheta, como saxes alto, baixo, tenor e soprano. Revê-se, no entanto, melhor a si próprio como “clarinetista”.
Chála iniciou a sua verdadeira carreira musical em fevereiro de 1969, na cidade da Praia, como elemento fundador do conjunto “Os Tubarões”. De 1970 a 1971, fez parte, em São Vicente, do agrupamento “Benitómica” integrado por Ti Goy, Natchatche, Piras, Djô de Africa Star, Oín, Lizardo e Knick. N Actuou com o conjunto “Os Leões” e, de vez em quando, substituiu o irmão Manel Clarinete n’“Os Apolos”.
No dia 27 de dezembro de 1974, partiu para Portugal para se juntar aos antigos companheiros e reorganizar "Os Apolos”, conjunto musical no qual viria a desenvolver toda a sua carreira artística.
Detentor de um estilo próprio de tocar, foi em parte a sua capacidade em conseguir excelentes arranjos musicais que contribuiu para o sucesso do grupo.
Apesar de ser conhecido mais como instrumentista, Chála possui, no entanto, muitas composições, a maioria gravada pelo conjunto "Os Apolos”.
Iniciou-se a compor em Cabo Verde, com letras a ostentar conteúdo de carácter politizado, defendendo ideais nacionalistas:
“(...)
Muitos anos vivemos
Debaixo deste jugo
Salazar, Caetano, Tomáz
Formavam um grupo maldoso
(...)”
Diversificou-se posteriormente e passou a desenvolver nas suas canções temas relacionados:
- Com a saudade:
“N’ tem tcheu sodadi
Di nha terra Cabo Verde
N’ tem tcheu sodadi
Di nhas camaradas nhas amigos
(...)
N’ tâ lembra di trás di padaria Xicóti
Nu tá conta nôs parti
Pâ nu passá nôs tempu
N’ tâ lembra qués jogo na Argentina
Na qués tempo quente sem igual”
- Exaltação nacionalista:
“Nu bem djuda nôs governo
Na reconstrução di nôs país
Nôs terra é piquinoti
É nôs qui tem qui biral grandi
Nu cré na nôs Cabo Verde
Paz, justiça e progresso
Câ tem vitória sem luta
Câ tem esforço qui câ tem pag
Nu nassi pâ amâ nôs terra
Nu nassi pâ amâ Cabo Verdi
(...)”
E crítica social:
“És holandeza na Lisboa
És câ ta sirbí pâ nada
Coitadu fidju parida
Qui s’ta na stranger
Sés mudjer tâ fica li
Só ta fazes partida
(...)
És terra câ s’tâ nada
É s’tâ na miséria
És s’tâ djobe sés bida
És câ mereci tchífri”
É ainda autor de várias canções a veicular somente melodia e por ele executadas em instrumentos de folgo.
Além do conjunto "Os Apolos”, Chála colaborou também com vários artistas e grupos musicais cabo-verdianos na gravação de discos, tendo integrado o conjunto “Voz de Cabo Verde”, em substituição do falecido Luís Morais.
Chála vive actualmente em Paris-França.
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