1. Cidade Velha (!) Não nos enganaram a nós. Na aridez da minha retina, em sentinela, com os holofotes, no Forte Real de São Filipe, vi a imagem da gótica Igreja Nossa Senhora do Rosário, o primeiro núcleo populacional surgido na ilha de Santiago (Cabo Verde) batizada como Ribeira Grande de Santiago em 1460. Herdeira de um longínquo passado histórico como a primeira cidade do mundo construída por europeus nos trópicos, mais precisamente por Portugal. Cidade Velha é o Berço e Património Material da Humanidade. Há cicatrices seculares que doem nas nossas almas no Pelourinho símbolo do poder municipal, da justiça real, da crueldade visceral de punição com algemas, amarrados e chicoteados durante a época esclavagista em Cabo Verde. Sem se esquecer das pilhagens ou ataques de corsários como Francis Drake, Hawkins, Shirley entre outros. Triste sina (!)
2. Cidade Velha (!) Não nos enganaram a nós. Ninguém poderá apagar as memórias das ruínas da Sé Catedral, do Pelourinho, construído, em mármore; do Forte Real de São Filipe; da Igreja Nossa Senhora do Rosário, em estilo gótico ou manuelino, e, é a mais antiga igreja colonial do mundo, única que chegou aos nossos dias em Cabo Verde. Ai, há sempre! Esperança.
3. Cidade Velha (!) Não nos enganaram a nós. Temos. Sim. Que recriar e recontar a nossa história comum associada ao Património Material da Humanidade, ao tráfico negreiro, ao vale profundo, à foz da ribeira, ao convidativo mar no imaginário do quotidiano das ilhas e da mestiçagem retemperada no caldeirão da nossa cultura devem ser revitalizadas hoje, com a dramatização do real, sem fingimento, com imaginação para ganhar, o amanhã, na rua da Banana de festas como produto made in Cap Verde Island. Ai, há sempre! Esperança.
4. Cidade Velha (!) Não nos enganaram a nós. Cidade Velha é Berço tem que saber falar da sua maneira, tem que aprender a reescrever da sua maneira ou de meter o seu mundo dentro dos rostos do mundo e de como as suas gentes sentem no mundo. Cidade Berço é o vate. Hoje, sem a dor de reescrever e sem a dor de se reler a poesia com os olhos do mundo, mesmo que seja nas entranhas dos pássaros. Ai, há sempre! Esperança.
5. Não nos enganaram a nós. A Cidade Velha da gótica Igreja Nossa Senhora do Rosário e a Cidade-Berço da gótica Igreja de Nossa Senhora da Oliveira em Guimarães (irmã gémea). Ambas, Cidade-Berço e geminadas, devem criar incubadoras como berçário de gérmen, de sémen e da interculturalidade mesmo que refloresçam sem enganar as rosas bravas na ribeira perene da Ribeira Grande ou no fértil vale do Selho em Guimarães. Com a imaginação do Roland Barthes, interrogo-me se a poesia no Berço tem: o beijo do inferno?
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