1. A morna é para ele como um barco a vela, ao vento, que não sabe perder a bússola navegando para oferendar-nos outros corações. A linha melódica da morna do Betú, tem uma reformulação estética com os seus acordes dissonantes na célebre batida do violão, pela introdução do meio-tom na morna e da passagem da menor para a maior, inspirado talvez no “regresso às origens” ou no espírito MPB ou no domínio da música clássica e do jazz, com os encadeamentos de temas melódicos associados: a terra, o aspeto telúrico, o lirismo e o amor (Assim, ele pode confessar que sabe a partitura e não sabe roubar a ideia a outro). Betú (!) É pena entregar à bicharada a tua patente “royalties” por que os dias adivinham-se esplêndidos, como se diz nos romances e coisa e tal… Não se deve nunca penhorar bolos quando os ingredientes são doseados e banhados, em caldas polposas, assim, o banho no mar&sol não será laranja. Não chame o ladrão! (A morna é saudade e a morna é mulher crioula).
2. As letras da morna do Betú emprestam-nos sempre o coração e a mulher crioula, com ou sem a ressaca: não vale a pena maquilhar o óbvio; para depois nos devolver - eloquentemente - o canto-quase-falado ou do cantar-baixinho; do texto bem pronunciado; do tom coloquial das suas narrativas musicais, sobretudo - românticas; do acompanhamento sóbrio e o canto interrogando-se mutuamente no sentido da valorização inteligente, do intérprete e da voz eloquente do Ildo que é Lobo manso. (Assim, nós apaixonamos por estes olhares e acordes melódicos). Não chame o ladrão! Não chame o ladrão! (A morna é saudade e a morna é mulher crioula).
3. As três viagens ou origens do compositor e trovador ou as três pátrias, que por isso pode ficar com o melhor das três viagens e pátrias de corações. É verdade. Oh Alma! Se formos herdeiros d’alma. Oh Mar! Se formos herdeiros do mar das ilhas: com olhos, com caras e com sombras das ilhas; Oh Coração! Se formos corações: com sombras do tempo onde a própria luz é pensamento sem exílio, com sombras da saudade das ilhas! Na ilha do Porto Inglês acordámos embrulhados no azul: do azul e dos sonhos doirados. E nós abraçamos sempre corações: no azul dos olhos do nosso mundo. Não chame o ladrão! Não chame o ladrão! Não chame o ladrão! (A morna é saudade e a morna é mulher crioula).
4. Óh! Betú quando compõe e canta corações, sei que é Cabo Verde quem está lá dentro junto do amor crioula. E lá fora há alguém a bater-nos sempre à porta. Nas nossas portas batem tantas vozes fora de nós. Betano (!) Dou-te enorme razão ao verbalizá-las em “Nha Coraçon I”, “Cusas di Coraçon” e “Cabo Verde Nôs Coraçon”, que são hinos autênticos à nação Cabo-verdiana. Sem ciúme de seu amor(!) Prefiro ir por aí e a ordem foi para não pôr sal do teu Porto Inglês na ferida, tentando suavizar o que acabara de acontecer. Braz Andrade será de certeza o melhor cardiologista de serviço nas questões de Coraçon. O mágico escritor Mia Couto, refletiu o amor assim: “Só há um modo de escapar de um lugar. É sairmos de nós. Só há um modo de sairmos de nós: é amarmos alguém”.
NB: Por que temos tantas saudades da nossa Cidade Invicta, informo-te que Livraria Lello comprou o Teatro Sá da Bandeira no Porto por 3,5 milhões de euros. Será uma oportunidade para lançares uma coletânea das tuas composições com partituras criativas de introdução do meio-tom na morna e da passagem da menor para a maior, que poderá ser lançada nesta histórica Livraria Lello. Para a fidelização das letras: “Nha Coraçon I”, “Cusas di Coraçon” e “Cabo Verde Nôs Coraçon”, proponho um show musical, paralelamente, no Teatro Sá da Bandeira e para fazer a trilha sonora, convidai: Nhelas Spencer e Djinho Barbosa. Biba Porto e Brabo Betano! CABO VERDE NÔS CORAÇON (…) Nu prendê cu Nhu Eugénio \ Tchoral na partida \ E cantal, confirmal \ Na regresso \ Cabo Verde é nôs coraçon \ Ta baté na morna (…)
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