A propósito do livro "As Ilhas Crioulas de Cabo Verde - da Cidade-Porto ao Porto-Cidade" de Manuel Brito-Semedo, e da Desafricanização Geográfica, Geo-Política, Geo-Estratégica e Político-Cultural de Cabo Verde propugnada pelo seu Autor (II parte)
Cultura

A propósito do livro "As Ilhas Crioulas de Cabo Verde - da Cidade-Porto ao Porto-Cidade" de Manuel Brito-Semedo, e da Desafricanização Geográfica, Geo-Política, Geo-Estratégica e Político-Cultural de Cabo Verde propugnada pelo seu Autor (II parte)

"Como é também sabido, a existência de uma sociedade escravocrata consistente nas ilhas de Cabo Verde foi posta em causa e contestada por Humberto Cardoso no ensaio “O Erro de António Carreira”, publicado em Julho de 1998 na extinta revista C(K)ultura, dirigida por Ondina Ferrreira e editada pelo antigo Ministério da Cultura quando António Jorge Delgado era o titular da pasta..Convictamente agarrado à tese acima referida de Humberto Cardoso e nela erroneamente ancorado, o autor do recentemente editado livro As Ilhas Crioulas de Cabo Verde-Da Cidade-Porto ao Porto ao Porto-Cidade vai mais longe, pois que, além de negar a existência de uma sociedade escravocrata relevante nas ilhas, conclui que teria havido dois momentos fundamentais na História caboverdiana enquanto sociedade crioula".

SEGUNDA PARTE

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DAS DISPUTAS E DAS RIVALIDADES ENTRE AS ILHAS DE SÃO VICENTE E DE SANTIAGO E AS CIDADES DA PRAIA E DO MINDELO E DO LUGAR DO MINDELO E DA ILHA DE SÃO VICENTE NA HISTÓRIA CABO-VERDIANA

Na verdade, segundo o antropólogo-cronista, desde o desvio, no século XVII, das rotas do trâfego-do tráfico negreiro e do correlativo comércio triangular da Cidade da Ribeira Grande de Santiago para a praça de Cacheu na antiga e então muito exígua costa da Guiné sob domínio português que as ilhas de Cabo Verde passaram a estar de costas voltadas para a África e de rosto inteiramente virado para a Europa.

 Relembre-se neste contexto que  os mais de quatro  séculos de duração da sociedade escravocrata caboverdiana foi  minuciosamente tratada por António Carreira na sua monumental obra intitulada Cabo Verde - Formação e Extinção de uma Sociedade Escravocrata (1460-1878) e em outras obras da lavra desse conceituado e celebrado historiador caboverdiano, sendo a existência de uma consistente sociedade escravocrata caboverdiana igualmente defendida pelos integrantes caboverdianos e portugueses da Equipa que elaborou a História Geral de Cabo Verde, consubstanciada em três volumosos livros, além do acervo documental correlativo, pelo historiador Daniel Pereira e por  outros abalizados especialistas na historiografia das nossas ilhas, que também sustentam a tese da precoce corrosão e da prematura desagregação dessa mesma sociedade escravocrata caboverdiana, em razão das estiagens e das secas prolongadas, das fugas e revoltas de escravos, dos ataques de corsários e piratas, do desvio do tráfico negreiro para outras paragens  com o consequente declínio da cidade da Ribeira Grande de Santiago, no século XVII, e do correlativo êxodo dos senhores brancos europeus e dos seus descendentes directos nados em Cabo Verde, designadamente  para o Brasil e para as praças da Costa de África na altura mais conhecida por Senegâmbia Portuguesa. A existência de uma consistente sociedade escravocrata nas ilhas de Cabo Verde foi em tempos mais recentes defendido, documentalmente comprovado e histórica e sociologicamente sustentado, e de forma a todos os títulos inovadora, por António Leão Correia e Silva no seu livro intitulado Noite Escravocrata e Madrugada Camponesa-Séculos XV-XVIII.

Como é também sabido, a existência de uma sociedade escravocrata consistente nas ilhas de Cabo Verde foi posta em causa e contestada por Humberto Cardoso no ensaio “O Erro de António Carreira”, publicado em Julho de 1998 na extinta revista C(K)ultura, dirigida por Ondina Ferrreira e editada pelo antigo Ministério da Cultura quando António Jorge Delgado era o titular da pasta..

Convictamente agarrado à tese acima referida de Humberto Cardoso  e nela erroneamente ancorado, o autor do recentemente editado livro As Ilhas Crioulas de Cabo Verde-Da Cidade-Porto ao Porto ao Porto-Cidade vai mais longe,  pois que, além de negar a existência de uma sociedade escravocrata relevante nas ilhas, conclui que teria havido dois momentos fundamentais na História caboverdiana enquanto sociedade crioula: i. O seu início e as suas primícias no século XV na cidade da Ribeira Grande da ilha de Santiago, então chamada também ilha de Cabo Verde,  e na vila de São Filipe da ilha do Fogo e persistente durante alguns séculos até ao declínio dessa “primeira cidade construída pelos portugueses nos trópicos”, com consequente dispersão dos caboverdianos pelo interior das ilhas de Santiago e do Fogo, seguindo determinados itinerários que, muito imaginativo,  o autor descreve,  e pelas restantes ilhas de Cabo Verde, então chamadas as-ilhas; II. Uma nova fase da construção da crioulidade caboverdiana iniciada com a abertura, na segunda metade do século XIX,  do Porto Grande da ilha de S. Vicente à navegacão transatlântica  graças à acção dos ingleses que souberam adaptar-se às exigências da nova conjuntura política e económica marcada pelo triunfo da revolução industrial na Europa ocidental e no norte dos Estados Unidos da América, pela nascente navegação a vapor com concomitante necessidade de abastecimento com carvão dos barcos transatlânticos e do comércio com os recém-nascidos Estados-nações latino-americanos e com o vasto império britânico espalhado pelas Américas, pela  África e pela Ásia. É deste modo e neste contexto que tem lugar a irrupção da cidade do Mindelo na história caboverdiana, constituindo-se essa irrupção, segundo o autor Manuel Brito Semedo, a  manhã mindelense ou sanvicentina da história caboverdiana, a completar a noite escravocrata e a madrugada camponesa propugnadas pelo historiador e sociólogo António Leão Correia e Silva no livro homónimo  Noite Escravocrata e Madrugada Camponesa-Séculos XV-XVIII. O curioso é que, embora contestado na sua tese fundamental constante do livro acima referido da sua lavra, é António Leão Correia e Silva o autor ao qual primacial e preferencialmente recorre Manuel Brito Semedo, tal como, aliás, anteriormente Onésimo Silveira para a fundamentação do seu novo barlaventismo centrado na cidade do Mindelo, designadamente ao seu inovador conceito de cidade-porto e ao seu celebrado livro Nos Tempos do Porto Grande do Mindelo sobre a tardia emergência da cidade do Mindelo na ilha de São Vicente no panorama histórico caboverdiano, para intentar sustentar a sua controversa tese de uma manhã mindelense ou sanvicentina na construcão da crioulidade caboverdiana. 

Não se contestando, não se querendo e nem sequer se podendo negar a importância da emergência da cidade do Mindelo no cenário histórico caboverdiano, como, aliás, profusamente sustentado por António Leão Corrreia e Silva no seu anteriormente referido livro Nos Tempos do Porto Grande do Mindelo,  designadamente para a modernização de Cabo Verde e para uma maior abertura do arquipélago ao mundo moderno ocidental, assim se justificando a caracterização da cidade do Mindelo feita por Manuel Lopes como “janela de Cabo Verde aberta ao mundo”, mas também, acrescentamos nós, para a exacerbação das pugnas e das disputas inter-insulares para a obtenção da capitalidade e-ou de importantes atributos da capitalidade da então colónia-província ultramarina portuguesa. Com efeito e como é sabido, data da altura da emergência do Mindelo na história caboverdiana a sistemática estigmatização e as múltiplas tentativas de marginalização social e de inferiorização cultural dos chamados badios - inicialmente entendidos durante toda a vigência da sociedade escravocrata como os escravos fujões de todas as ilhas e, por isso, desqualificados e vituperados pelos escravocratas e pelos grandes terratenentes e lafifundiários como vadios -raiz etimológica do termo crioulo badios- no seu sentido próprio de vagabundos, ociosos e refractários ao trabalho, em razão da sua resistência contra a clausura escravocrata mediante a fuga para lugares remotos  e, depois, por mor da sua renitência e da sua recusa em submeter-se ao assalariato nas plantações capitalistas que, tal como, por exemplo, nas ilhas de São Tomé e Príncipe e nas Antilhas-nas Caraíbas, deveria suceder-se à sua sujeição nos latifúndios escravocratas, preferindo antes cultivar e gerir as suas próprias terras como camponeses relativamente livres e sujeitar-se à exploração semi-feudal propiciada pelos sistemas da parceria e do arrendamento rural das terras dos morgados e dos demais grandes terratenentes. Conotado depois com os negros e os mulatos fujões e os camponeses livres de tez escura do interior rural da ilha de Santiago, o termo badios viria a ser assumido, em tempos mais recentes,  com visível orgulho e alguma ostentação como denominação comum para todos os santiaguenses, isto é, para todos os originários, nados ou criados na ilha de Santiago, incluindo na cidade da Praia e em outros centros urbanos da grande ilha, sendo os santiaguenses brancos ou de tez clara doravante denominados badios brancos. Ademais, deve-se sempre ter em conta que, como sustenta e comprova o historiadopr e sociólogo António Leão Correia e Silva, em especial no seu livro de ensaios Histórias de um Sahel Insular, o povoamento das ilhas de Cabo Verde se processou em fases e vagas sucessivas, começando na ilha de Santiago e, logo a seguir, na ilha do Fogo, passando depois pelas ilhas do Maio, da Boavista, de São Nicolau, Brava e de Santo Antão e culminando, já no século XIX, nas ilhas do Sal e de São Vicente. É esse processo paulatino e sucessivo de povoamento das ilhas que explica a singularidade cultural e idiossincrática de cada uma delas e das respectivas populações no quadro geral caboverdiano e que induz Gabriel Mariano a considerar Cabo Verde como sendo a um tempo um continente e um arquipélago culturais para explicar a sua unidade e a sua diversidade culturais, incluindo das diferentes variantes e variedades do seu idioma  crioulo, a que ele acrescenta o idioma português que ele considera comum a toda a literatura caboverdiana, variando todavia consoante as bases insulares do português literário caboverdiano ou coloquial utilizado bem como as formas de expressão dialectal da oratura e da oralituura no idioma crioulo do povo das ilhas, o  mesmo ocorrendo, por exemplo, com a música, a gastronomia e as festas populares dos santos padroeiros.

Quando se iniciou o periclitante e moroso processo de povoamento da ilha de São Vicente, numa irrealista e improcedente base agro-pecuária, o mesmo povoamento fez-se com contingentes de pessoas escravizadas e livres que, já retintamente caboverdianas do ponto de vista cultural e identitário, foram levadas da ilha do Fogo. Todas as tentativas ulteriores de povoamento da mesma ilha com brancos vindos de Portugal continental e das suas ilhas adjacentes, designadamente dos Açores, foram condenadas ao mais rotundo fracasso. Como bem explica António Leão Correia e Silva no seu fundamental Nos Tempos do Porto Grande do Mindelo, foi somente quando se descobriram as potencialidades e as virtualidades e se divisaram as mais-valias do Porto Grande de São Vicente como porto-plataforma carvoeira para a navegacão transatlântica é que se tornou possível a viabilização definitiva do povoamento da ilha de São Vicente, disso tendo resultado o impressionante crescimento da povoação edificada à boca desse mesmo Porto Grande e que inicialmente se chamou de Dom Rodrigo, depois de Dona Leopoldina e, finalmente, foi baptizada com o expressivo e auspicioso nome Mindelo, em homenagem ao local nortenho da metrópole portuguesa onde desembarcaram as tropas liberais de Dom Pedro para o seu vitorioso embate contra as tropas absolutistas e miguelistas dos usurpadores do trono de Portugal. Foi de tal modo fulgurante o crescimento do Mindelo que em pouco tempo, designadamente a 30 de Abril de 1858, foi-lhe elevado o estatuto a Vila, ao mesmo tempo que Bissau e no mesmo dia em que a Vila da Praia de Santa Maria da Vitória e da Esperança foi alcandorada à categoria de Cidade, assim se tornando definitivamente e de jure a capital de Cabo Verde. Relembre-se que, desde 1776, a Vila da Praia já usufruia de facto  do estatuto de capital de Cabo Verde quando foram de facto transferidos para ela os atributos da capitalidade   da Cidade da Ribeira Grande de Santiago, doravante em irreversível processo de declínio e decadência que a transmutaram na Cidade Velha, actualmente património cultural da Humanidade por força do relevante papel histórico que desempenhou na invenção da crioulidade caboverdiana, a primeira do mundo, no quadro de uma sociedade retintamente escravocrata. A elevação da Cidade da Praia ao estatuto de capital de facto e de jure de Cabo Verde veio, assim, selar a favor da principal urbe santiaguense a disputa que se vinha arrastando desde os idos anos de 1838 quando o Governador de Cabo Verde Pereira Marinho lograra obter da Rainha de Portugal e do Marquês de Sá Bandeira, o seu Primeiro-Ministro, então designado Ministro da Marinha e do Ultramar, o diploma legal que decretara a transferência da capital de Cabo Verde para uma ainda inexistente e somente projectada Cidade do Mindelo. É este mesmo Marquês de Sá Bandeira que também foi responsável pela extinção da escravatura em Cabo Verde e pela elevação da Vila da Praia de Santa Maria da Vitória e da Esperança ao estatuto de Cidade e, assim, a definitiva capital de jure do arquipélago de Cabo Verde.

Todavia, a disputa pela manutenção ou pela aquisição de velhos e novos atributos da capitalidade por parte das urbes da Praia e do Mindelo viria a saldar-se num relativo empate técnico, qual seja, por um lado, a manutenção da Praia como capital político-administrativa de facto e de jure de Cabo Verde, sendo a mesma urbe erigida assim em cidade-repartição na pertinente expressão cunhada, se não me engano, por José Leitão da Graça, e, por outro lado, a transformação do Mindelo em capital económica e social de Cabo Verde, por mor das receitas arrecadadas com o intenso movimento do seu Porto Grande, vindo ademais a mesma urbe do Mindelo a ser dotada, a partir de 1917, de importantes atributos da capitalidade cultural e educacional, designadamente o segundo Liceu Nacional da história de Cabo Verde, após a actividade do Seminário Jesuítico da Cidade da Ribeira Grande de Santiago (o tal que propiciou a formação de “cónegos tão negros de azeviche, mas tão doutos, tão morigerados, tão bons músicos que fazem inveja aos das catedrais do Reyno”, de que falara o Padre Antonio Vieira), a abertura, em 1860,  e a efémera existência do Lyceo Nacional na cidade da Praia, extinto em 1862, e do célebre Seminário-Liceu de São Nicolau, inaugurado em 1866 e extinto em 1916-1917, e degradado ao estatuto de Colégio.

Entrementes, a capitalidade político-administrativa de Cabo Verde foi amiúde adoptando um perfil itinerante, sediando o governo do arquipélago por vezes - sobretudo nos tempos das chamadas as-águas e, por arrastamento,  da  eclosão de doenças várias que atingiam sobretudo os europeus- em outras ilhas e urbes de Cabo Verde. Foram os casos, por exemplo, da Vila de Sal Rei, na ilha da Boavista, que na primeira metade do século XVIII atingiu um grande apogeu e esplendor e onde, por isso,  foi impresso o primeiro Boletim Oficial de Cabo Verde, ou da Vila de Nova Sintra, na ilha Brava, onde foi inaugurada a Escola Principal da Instrução Primária que depois seria transferida para a cidade da Praia  e anexada ao primeiro Lyceo Nacional de Cabo Verde e posteriormente para a ilha de São Nicolau onde seria anexada ao Seminário-Liceu. O mesmo fenómeno  parece ter ocorrido com o poder eclesiástico. Abandonando o Paço Episcopal da cidade da Ribeira Grande de Santiago, o Bispo da Diocese transferiu-se primeiramente para a ilha de Santo Antão e, depois, para a ilha de São Nicolau, onde viria a assentar arraias por um longo período na Vila da Ribeira Brava, transformando-se esta Vila, e, concomitantemente, a ilha de São Nicolau, na sede de facto da Diocese de Cabo Verde.  No que se refere ao poder judicial, a urbe do Mindelo viu transferida para o seu território a sede da comarca do Barlavento e respectiva jurisdição dantes sediada na ilha de Santo Antão. Novas disputas pela capitalidade ou por importantes atributos da capitalidade teriam lugar depois da elevação, em 1879, da Vila do Mindelo ao estatuto de Cidade, reflectindo-se  essas mesmas disputas pela capitalidade em especial nas páginas da Revista de Cabo Verde, fundada e actuante durante todo o ano de 1899 e dirigida pelo maiense Luís Loff de Vasconcelos, tendo a cidade do Mindelo no bravense Eugénio Tavares um acérrimo e muito qualificado defensor. No século XX colonial, as mesmas disputas tiveram continuidade nas páginas do jornal Notícias de Cabo Verde, de Manuel Ribeiro de Almeida, mais conhecido por Leça Ribeiro, que, a favor da sua cidade natal do Mindelo, trazia à colação argumentos idênticos aos arrolados por Eugénio Tavares, designadamente o seu estatuto de capital económica  e social de facto de Cabo Verde, a que acrescentava o atributo de capital cultural em razão de nela estar sediado o então único Liceu de Cabo Verde, se ignorarmos o Colégio-Liceu Serpa Pinto, cujo proprietário e director foi o foguense Leão de Pina, e cujos alunos eram obrigados a prestar provas de fim de ciclo liceal no então único Liceu oficial de Cabo Verde. A culminar a sua pugna, o mindelense Manuel Leça Ribeiro de Almeida proporia que a província ultramarina portuguesa de Cabo Verde fosse administrada por um Governador-Geral e dividida em dois distritos autónomos cada um administrado por um Governador Distrital. Já em 1971, e já era falecido o primeiro Director do jornal Notícias de Cabo Verde, tendo sido sucedido nesssas funções pelo irmão Raúl Ribeiro de Almeida, foi cumprido o seu desiderato, pois que Cabo Verde foi transformado numa província ultramarina portuguesa com estatuto jurídico formal de região  autónoma e denominação oficial de Estado de Cabo Verde, dirigida por um Governador-Geral e dividida em dois distritos, o do Sotavento, dirigido por um Governador Distrital, cujas funções deveriam ser acumuladas pelo Superintendente Geral do Governo Geral de Cabo Verde, na altura desempenhadas pelo bravense Tito Lívio Feijóo, e o do Barlavento com sede na cidade do Mindelo e dirigido por um Governador Distrital, que, nomeado, não pôde tomar posse do cargo devido aos acontecimentos do 25 de Abril de 1974. Não andavam longe do argumentário de Eugénio Tavares e de Manuel Ribeiro de Almeida as razões aduzidas por Francisco Xavier da Cruz, o célebre compositor B. Lèza, no seu Razões da Amizade de Cabo Verde pela Inglaterra, livro em que também aborda a influência inglesa nas mentalidades mindelenses e na variante do crioulo falada na ilha talássica do norte do arquipélago caboverdiano.

Durante todo o século XX, houve por assim dizer uma partilha bicéfala da capitalidade caboverdiana exercendo a cidade da Praia as funções de capital político-administrativa e a cidade do Mindelo as funções de capital económica e social da colónia-província ultramarina portuguesa, repartindo as duas maiores cidades caboverdianas entre si, a partir dos fins dos anos cinquenta desse mesmo século XX, os atributos da capitalidade cultural e educacional patentes na existência de dois Liceus Nacionais, o Liceu Infante Dom Henrique de São Vicente, rebaptizado em 1937 como Liceu Gil Eanes, e o Liceu da Praia, surgido primeiramente como Secção do Liceu Gil Eanes instalada num dos pisos da Casa Serbam e inaugurado, com pompa e circunstância, em Julho de 1960, como Liceu autónomo dotado das mais majestosas instalações até hoje construídas para um edifício liceal. Ademais, as duas principais urbes de Cabo Verde foram-se dotando de importantes importantes órgãos de imprensa, desde o surgimento, em 1877, na cidade da Praia do primeiro jornal privado-independente caboverdiano denominado exactamente O Independente, como, por exemplo,  os jornais O Praiense, A Imprensa, A Opinião, o Echo de Cabo Verde, A Revista de Cabo Verde, A Voz de Cabo Verde, O Futuro de Cabo Verde, O Progresso de Cabo Verde, Notícias de Cabo Verde, O Eco de Cabo Verde, as revistas Claridade e Certeza, a revista Cabo Verde,  oficialmente baptizada como Boletim de Propaganda e Informação e mais conhecida por Boletim Cabo Verde, as revistas pós-coloniais  Raízes, Ponto e Vírgula, Sopinha de Alfabeto, Fragmentos, Pré-Textos e Artiletra, etc, o mesmo ocorrendo com estações de rádio sediadas nas duas principais cidades de Cabo Verde, como o Rádioclube de Cabo Verde e a sua estação de rádio homónima, da Praia, o Grémio do Mindelo e a sua Rádio Barlavento, para além de outras expressões culturais com os grupo teatral  Korda Kaoberdi, o festival de teatro Mindelact, etc., etc..

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