É um apontamento irado (confesso) e a razão não é para menos. As interrupções no fornecimento de energia eléctrica não só não foram resolvidas (como foi garantido por um pantomineiro), como aumentaram. Este é o governo dos apagões! Apagões na energia, na água, nos transportes marítimos e aéreos, e no combate à pobreza. Um executivo liderado por Ulisses Correia e Silva que, a oito meses das eleições legislativas, não consegue dar respostas sérias e eficazes para resolver os problemas de um país à deriva, pese o chorrilho de promessas já fora de prazo.
No momento em que começava a escrever estas linhas, na manhã deste sábado, a luz foi-se e só regressou oito horas depois. Já ontem estive oito longas horas sem energia eléctrica, com os prejuízos daí decorrentes, não só para a organização da vida familiar, mas também para a vida profissional de quem vive da escrita e prazos a cumprir, tendo apenas como pão de cada dia os honorários daí advenientes.
Imagino os transtornos que este infindável ciclo de apagões tem para as pessoas, as empresas, a vida colectiva e o país, dependente que está de uma situação de objectiva irresponsabilidade e incompetência. Porque é, efectivamente, disso que se trata!
Não sei se se recordam daquele senhor que veio a público dizer que o problema dos cortes de energia estaria resolvido esta semana, cujo nome não me recordo bem – com a idade, fui cultivando a higiénica atitude de não me lembrar do nome de gente que não tem qualquer serventia -, uma narrativa, aliás, que deve constar da cartilha de procedimentos da empresa, porquanto a conversa é sempre a mesma.
Já ninguém acredita nos pantomineiros
Pois bem, a semana acaba às zero horas deste sábado e, até por uma questão de urbanidade, devemos dar ao cavalheiro o benefício da dúvida. Sim, sei que é difícil, até porque na semana em que o problema ia ser resolvido intensificaram-se os apagões em toda a cidade da Praia (ou perto disso) e por períodos ainda maiores. A expectativa é, portanto, muito baixa.
A não estar resolvido o problema até às zero horas de hoje, ficamos a saber que o senhor em questão não passa de um mentiroso. Ora, mentir é muito feio e, quando se trata do detentor de um cargo público (pago por todos nós), o único caminho, segundo os princípios republicanos, só pode ser um: demissão!
Os argumentos de quem manda são sempre desculpabilizantes. Ora são avarias (como se as avarias fossem por obra e graça do Espírito Santo), ora decorrem do roubo de energia ou, ainda, destas duas circunstâncias associadas. Ou, também (este é o mais bizarro argumento), fruto da acção de sabotadores que querem criar constrangimentos ao governo. A culpa é sempre dos outros, nunca é deles próprios, da sua incompetência e da sua irresponsabilidade.
Os únicos sabotadores que vislumbro são os próprios dirigentes da empresa, o ministro da tutela e o primeiro-ministro que os sustenta!
Não estando o problema resolvido e, pelo contrário, tendo-se agravado, a responsabilidade é também (e acima de tudo!) do governo que, no mesmo dia em que o cavalheiro a que já fiz referência botou faladura, veio a público garantir a sua resolução, o próprio executivo do sr. Ulisses, através do ministro da tutela, veio reconhecer os transtornos pelos cortes de energia (também melhor seria que não o reconhecesse).
O problema principal é o governo
Já se percebeu que o problema principal não é um qualquer burocrata repescado do alpinismo social promovido pelas jotinhas (uma espécie de Cabo Verde político dos pequeninos) e pela subserviência congénita aos grandes líderes (de papelão), que são premiados com cargos públicos bem remunerados e pelas mordomias daí advenientes.
O problema principal é o próprio governo - pesem os discursos hilariantes de um qualquer pantomineiro sobre o desígnio nacional de liderança continental em matéria de novas tecnologias – que não tem qualquer estratégia eficaz em matéria de energia, tão-pouco, nos sectores fundamentais do país.
Este é o governo dos apagões! Apagões na energia, na água, nos transportes marítimos e aéreos, e no combate à pobreza. Um executivo liderado por Ulisses Correia e Silva que, a oito meses das eleições legislativas, não consegue dar respostas sérias e eficazes para resolver os problemas de um país à deriva, pese o chorrilho de promessas já fora de prazo.
E é o governo que permitiu – camuflando com justificativas capciosas - a maior fuga de capital humano do país desde a independência, desfalcando de mão-de-obra importantes sectores da economia (dando a ilusão de que baixaram os níveis de desemprego); que aumentou a dívida pública de 211,9 para 313 milhões de contos; que fez a dívida interna disparar de 63,5 porcento (%) para 117,3 milhões de contos; que aumento o consumo público de 36,5 para 50 milhões de contos; e que reduziu o investimento de 54,5 para 48,9 milões de contos. E isto, apesar de ter o melhor ministro das Finanças do Continente Africano e arredores.
Por último, não quero acreditar (como me chegou aos ouvidos) que os apagões teriam como razão principal poupar combustível, já se vê: à custa da paciência e do desconforto dos consumidores. Seria estranho que assim fosse, até porque estamos todos recordados dos auto-elogiosos encómios do governo aos resultados líquidos positivos de 341 mil contos e redução de perdas da Electra, como indica o relatório de contas do ano de 2024. Ora, parafraseando o outro, isto é dinheiro que nunca mais acaba para fazer face a qualquer “avaria” …
Informamos que, temporariamente, a funcionalidade de comentários foi desativada no nosso site.
Pedimos desculpa pelo incómodo e agradecemos a compreensão. Estamos a trabalhar para que esta funcionalidade seja reativada em breve.
A equipa do Santiago Magazine