Santiago: Ilha de Cobaia
Ponto de Vista

Santiago: Ilha de Cobaia

Enquanto o povo continua às escuras, a contar prejuízos (eletrodomésticos queimados, comida estragada e paciência no limite), o PCA e o Ministro da Energia (aposto que você nem sabe quem é!) continuam nos seus cargos, com luz acesa 24h, ar condicionado no máximo, carro topo de gama e salários de três dígitos.

Antigamente, em Cabo Verde, vivia-se melhor. À tardinha, os meninos juntavam-se na casa de um vizinho para ouvir as estórias de Nhu Lobo, Chibinho, Nha Bedja Fitisera, Pedro, Palo ku Manel… Sabíamos de cor as fases da lua — e a diversão era sempre maior na lua cheia.

Essa era a alternativa à falta de Televisão, telemóvel e internet. Não havia luz elétrica, mas havia amizade, camaradagem e, sobretudo, convivência. O povo era muito mais feliz.

Pois bem, alguém deve ter contado essa história ao PCA da Eletra e ao Ministro da Energia, e eles decidiram obrigar o povo a regressar a essa “época de ouro”.

O povo de Santiago foi transformado em cobaia: somos forçados a sair de casa, de tanto calor, e ir ouvir estórias na varanda ou no terraço do vizinho. Só que, como já não há alguém para contar estórias antigas, a alternativa é ouvir as histórias de Nhu Ulisses, Nhu Olavo, Nha Fitisera EDEC, Nhu Agustu, Nhu Chico, Nha Janira, Nhu Lage, Nhu Amorim… e por aí vai.

Brincadeiras à parte, os importadores de carros elétricos estão todos com os cabelos em pé, enquanto a empresa de energias renováveis — onde o atual PCA da Eletra foi Big Boss — esfrega as mãos de satisfação (coincidência, não é?).

Os empresários chineses já devem ter a caminho um navio carregado de fósforos, petróleo, candeeiros, podogós e, quem sabe, velas perfumadas para dar um toque romântico aos apagões.

Enquanto o povo continua às escuras, a contar prejuízos (eletrodomésticos queimados, comida estragada e paciência no limite), o PCA e o Ministro da Energia (aposto que você nem sabe quem é!) continuam nos seus cargos, com luz acesa 24h, ar condicionado no máximo, carro topo de gama e salários de três dígitos.

Afinal, Santiago sempre foi cobaia e vai continuar a ser, porque parece que já nos acostumamos tanto com o escuro, pois desde a extinção do #MAC114, ninguém tem a coragem de sair à rua para dizer: BASTA!

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