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O Futuro da Saudade
Colunista

O Futuro da Saudade

1. Aeroporto de Portela, duas horas da tarde. Chego com aquela canseira prazerosa que só se pode sentir quando, a caminho de casa, se escala longamente um aeroporto com loja da fnac e a sua lista dos dez mais e um moderno restaurante de cozinha tradicional que serve bacalhau com batatas a murro. Aproximo-me da habitual porta 42 ou 43. É sempre assim, quando não é uma, é outra. Lá no fundo do corredor. Deslizo o olhar através dos grandes vidros já húmidos pela chuva miudinha da Europa. Já não encontro aquele logótipo vermelho e azul, por entre as mangas que se ligam aos aviões imobilizados na placa. Nem um sinal. Foi extinto. Riscado dos céus do mundo;

2. Olho para trás, lembro-me dos tempos em que a sensação de chegar à casa começava em Lisboa. O cartaz de néon com aquele TACV escrito a vermelho, os assistentes de bordo com caras familiares e as camisas polo azul-turquesa mais valorizadas ainda pelos azuis escuros das calças e saias. Agora, sinto-me como se a casa se se tivesse encolhido, se se tivesse reduzido ao limite do tamanho das ilhas e só começasse a partir do aeroporto Nelson Mandela, na Praia. Não mais haverá aquele abraço nos aeroportos de Paris, Amesterdão, Nice. A casa ficou menos casa;

3. Há uns anos, roubaram-me para sempre as minhas memórias, verde, vermelho e amarelo daquela bandeira com as espigas de milho. Roubaram para sempre o meu "sol, suor, verde e o mar" daquele hino da pátria amada. Vinte anos depois, voltam e roubam-me de novo... Sinto saudades de ti, TACV.

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SOBRE O AUTOR

Francisco Carvalho

Político, sociólogo, pesquisador em migrações, colunista de Santiago Magazine