Medida, anunciada ontem por José Luís Sá Nogueira da companhia, custará ao Estado 1,5 milhões de contos em indemnizações. Diferente de Olavo Correia, o gestor da TACV acredita que não há espaço para mais companhias em Cabo Verde.
260 trabalhadores da companhia aérea de bandeira nacional vão ser despedidos no âmbito da reestruturação em curso na empresa. Esse número, avançado ontem pelo presidente do Conselho de Administração da TACV, à Comissão Especializada de Finanças e Orçamento da Assembleia Nacional, significa um corte de metade dos actuais funcionários da operadora.
Esta é, para já, uma das consequências imediatas da descontinuidade dos voos domésticos e regionais da TACV. Até finais do ano passado, estava previsto o despedimento de 150 trabalhadores, mas, explicou José Luís Sá Nogueira, com a saída da transportadora aérea estatal do mercado interno, para ficar só com as ligações internacionais, a TACV viu-se obrigada a efectuar mais cortes do pessoal.
"Acreditamos que podem ser [dispensadas] à volta de 100 a 120 pessoas com a descontinuidade do mercado doméstico e regional", disse o PCA da empresa, notando que esta quase centena e meia novos desempregados vão se juntar aos 140 que já estavam para sair desde o ano passado, segundo um estudo encomendado pela anterior equipa gestora e que só agora, com o novo Governo, será implementado.
Ao todo, vão ser 260 pessoas dispensadas da TACV e vai exigir um encargo financeiro de 1,5 milhões de contos ao Estado por causa das indemnizações – a empresa consome ao erário público mais 300 mil contos por ano.
A TACV Internacional, nova empresa a ser criada após extinção da operação doméstica e à qual o Estado fica de fora, deverá "conseguir reter" entre 180 e 200 trabalhadores e que 30 trabalhadores deverão integrar a Binter CV, que passará a operar três aviões em vez dos atuais dois.
Recorde-se que Governo negociou a cedência à companhia Binter Cabo Verde das rotas internas da empresa Transportes Aéreos de Cabo Verde (TACV) a partir de 1 de Agosto, com a entrada do Estado em 49% do capital social da empresa, estando também a reestruturar a operação internacional com vista à sua privatização.
"A TACV inflacionou e depois de vários anos chegou ao estado em que está hoje com custos operacionais elevadíssimos e, apesar de uma ocupação de 75% [no mercado interno], não é sustentável", disse Sá Nogueira, considerando que a parceria com a Binter CV foi o recurso certo para resolver a situação.
E contradizendo o ministro Olavo Correia – que garantiu que o mercado continua aberto a outros operadores e que há espaço para mais companhias –, José Luís Sá Nogueira defendeu ainda que "não há mercado que aguente dois operadores aéreos".
"A TACV transporta por ano cerca de 350 mil passageiros com dois aviões. Com a entrada da Binter somos obrigados a dividir. Se estamos com prejuízos de 4,5 a 5,4 milhões de euros por ano e se formos dividir 50/50, imagine-se para onde vai esse prejuízo. Não se justifica", observou.
O PCA apresentou também aos deputados os resultados provisórios da TACV em 2016, estimando que o passivo da empresa se venha a reduzir de 120 para 93 milhões de euros.
O processo de gestão, reestruturação e privatização da TACV está a ser escrutinado pelos deputados da Comissão Especializada de Finanças e Orçamento, que têm vindo a promover uma série de audições com anteriores e atuais responsáveis pela gestão da companhia e responsáveis políticos do anterior governo (PAICV) e actual governo (MpD).
Comentários