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Silves Moreira. “Fui demitido de administrador da Uni-CV por não compactuar com ilegalidades”
Sociedade

Silves Moreira. “Fui demitido de administrador da Uni-CV por não compactuar com ilegalidades”

Silves Jesus Moreira demitido esta segunda-feira, 11, do cargo de administrador-geral da Universidade de Cabo Verde aponta divergências com o Reitor, Arlindo Barreto, como sendo a causa do seu afastamento. “O reitor pediu para me demitir na quinta-feira, não o fiz e então ele tirou um despacho ontem, 11, dando por finda a minha comissão de serviço, o que na verdade já esperava, dada as nossas divergências em termos de gestão”, afirma, apontando por exemplo para a falta de transparência na contratação de docentes. A Uni-CV diz que se trata de um processo normal e que a instituição precisa de um quadro melhor capacitado para o cargo, que deverá ser conhecido no próximo dia 18 após aprovação, ou não, pelo Conselho Superior da instituição.

O economista Silves Jesus Moreira não quer ver o seu nome associado ao processo de penhora das contas bancárias da Uni-CV que Santiago Magazine revelou ter a possível razão para sua demissão esta segunda-feira, 11, do cargo de administrador-geral da Universidade pública, pelo que decidiu então levantar uma pequena ponta do véu acerca do caso.

Segundo ele, o litígio entre a Uni-CV e o professor João Silvestre Alvarenga, que Santiago Magazine reportou no passado dia 1 de Setembro,  é da anterior administração e mesmo agora que o processo foi de novo levantado o dossier não lhe passou pelas mãos. “Os casos judiciais são decididos pelo Reitor e o seu gabinete jurídico”, atirou de pronto, antes de esclarecer que a sua demissão tem a ver exclusivamente com divergências a nível de gestão com o Reitor, Arlindo Barreto.

“Temos divergências em como uma instituição pública como a Uni-CV deve ser gerida. Eu disse claramente ao Reitor que não estava de acordo com algumas medidas e decisões administrativas que estavam sendo tomadas de forma ilegal. Ele sugeriu na quinta-feira, 5, que pedisse então demissão, não o fiz, daí resolveu esta segunda-feira tirar esse despacho dando por finda a minha comissão de serviço, como se tudo fosse concertado. Não, não estava, apesar de estar a esperar es desfecho desde algum tempo. Eu, além de docente, sou auditor e não posso compactuar com ilegalidades”, denuncia Silves Moreira, apontando por exemplo para casos de contratações de docentes fora do quadro legal.

Um dos casos que mais incomodou o agora ex-administrador geral da Uni-Cv foi a nomeação da nova secretária-eexecutiva da instituição sem o seu conhecimento prévio. “Soube através de um despacho dado a conhecer a todos”, conta Moreira, reiterando não ter a sua saída da administração ligação directa com o caso Alvarenga. “Como temos divergência na forma como entendemos a gestão e tendo eu grande popularidade da Uni-CV, tanto como docente, quanto na qualidade de administrador podem querer associar a minha demissão com o caso Alvarenga para limpar o seu nome e sujar o meu. Não tenho a nada a ver com isso”, avisa,  indicandio ter sido inclusive alertado de que poderia servir de "bode expiatório" nesse caso de penhora para a reitoria poder sair por cima deste imbróglio.

Moreira nota que apoiou a candidaturta adversária de Arlindo Barreto, mas que este ainda assim o chamou para ocupar a administração da universidade. “Só que como não fui seu capacho como ele gostaria passo a persona non grata. O problema é que não sou dado a actos ilegais. Vá perguntar ao reitor por que me demitiu e aproveita para perguntar se houve contratações de docentes fora da legalidade e verá”, sugere o economista, que garante ter sido, durante um ano como administrador-geral da Uni-CV o único que conseguiu “tirar a instituição da lama”.

“Nesse curto período atingimos 68 mil contos de resultado positivo, pagámos todas as dívidas desde 2020”, vangloria-se, lembrando ainda que por ter sido demitido sem acordo, à luz da lei tem direito a recorrer aos tribunais por não ter sido avisado com antecedência de 60 dias sobre a sua descontinuidade na administração da Universidade Pública.

João Almeida Medina, do corpo reitoral da Uni-CV, garante no entanto que o fim da comissão de serviço de Silves Moreira não tem nada de anormal. “É um processo normal. O Reitor quer imprimir uma nova dinâmica na administração da universidade, pelo que escolheu um quadro de carreira, com melhor categoria técnica e profissional para poder acelerar alguns processos”.

Medina explica que essa mudança tinha de acontecer agora porque na próxima semana, dia 18  de Setembro, o nome do novo administrador-geral será levado ao Conselho Superior da Universidade para sua aprovação. João Almeida Medina, da Uni-Cv no Mindelo, não revelou o nome do próximo administrador-geral a ser proposto pelo reitor, Arlindo Barreto.

Medina também não junta a saída de Moreira com o caso Alvarenga, referindo que esse processo está encerrado desde há muito e  que o docente  inclusive já recebeu indemnização. “A penhora explica-se assim: trata-se de um expediente administrativo que os tribunais vêm tomando para levar as instituições a provarem que fizeram o respectivo pagamento das indenizações e multas. Nada  mais. Veja que a Uni-Cv é a única instituição de ensino superior que não tem atraso no pagamento dos salários dos professores, como acontece com outros estabelecimentos de ensino superior em Cabo Verde. Nunca houve atraso no pagamento dos docentes, nem no tempo da pandemia”, garante o responsável.

Este artigo dá continuidade a uma peça anterior, publicada esta manhã por Santiago Magazine que dava conta da demissão de Silves Moreira do cargo de administrador-geral da Uni-CV por causa do escândalo da penhora das contas bancárias da instituição na sequência de um processo movido pelo professor João Silvestre Alvarenga que ganhou em sede do tribunal uma queixa por ter sido excluído ilegalmente de um concurso de contratação de docentes universitários, matéria, aliás, na base da divergência entre Moreira e o reitor da Uni-CV.

 

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