Menores das diversas localidades da ilha do Sal, abandonados à sua própria sorte, tomam conta da lixeira de “Morrinho de Açúcar” e à mendigagem, cercando turistas que visitam Terra Boa, situação que preocupa o ICCA e autoridades policiais. É uma imagem um pouco preocupante para a iilha mais turística de Cabo Verde.
A presença diária de crianças e adolescentes oriundos dos bairros degradados, de Alto Santa Cruz, Alto São João e Terra Boa, é constante, facto que tem preocupado as autoridades, particularmente pelo risco que causa para o desenvolvimento desses meninos e meninas entre 5 e 15 anos de idade que fazem desse terreno, lugar propício para conseguir algum dinheiro, através de mendigagem aos turistas ou recolha de comida de porco nas imundícies.
Considerando um número significativo de crianças nessas condições, o comandante da Polícia Nacional, Elias Silva, pergunta com certa indignação: “onde estão os pais?”.
“Temos que ir para o terreno, fazer um trabalho conjunto. Apanhar essas crianças e chamar os pais à responsabilidade… Na sua maioria de famílias monoparentais, onde as mães chefes de família, saem todos os dias de casa por volta das 14:00 ou antes disso e só chegam à meia-noite ou depois disso… não há como ter controlo sobre o filho. É complicado”, lamenta o comandante, acrescentando que, em Santa Maria, crianças entregues a si próprias vão ter aos iates, o que também é perigoso.
“É preciso algum cuidado, fazer um trabalho conjunto, envolvendo pais e toda a sociedade, com vista a travar o problema”, reiterou.
Confrontado com a situação, a delegada do Instituto Cabo-verdiano da Criança e do Adolescente (ICCA), Queila Soares, disse que a instituição tem vindo a trabalhar no sentido de pôr cobro ou minimizar o problema.
“Fico triste ao dizer minimizar (…) porque é uma situação de facto lamentável, na qual as crianças estão expostas, na maioria dos casos por culpa da família que negligencia, desinteressa, e muitas das vezes coloca as próprias crianças a fazer esse triste papel”, lamentou.
“Com a colaboração da Associação Chã de Matias temos vindo a trabalhar a problemática, já retiramos boa parte desses meninos desta situação mas o trabalho mais difícil tem a ver com a família”, explicou, referindo, entretanto, que há casos em que se sente a necessidade de uma denúncia formal ao Ministério Público, por se tratar de “negligência pura” por parte da família.
Mencionando que muitas das vezes são os próprios pais, avós ou tios os mandantes das crianças a este ambiente, vendo nisso uma fonte de rendimento, Queila Soares disse que o ICCA está a desenvolver um plano de intervenção tendo este problema no centro das prioridades de actuação.
“Não só de situações de mendigagem, de crianças nas lixeiras, mas também de casos de permanência de meninos na rua e outras situações de risco que fazem as crianças abandonarem a escola. Temos um plano de intervenção no qual queremos envolver toda a comunidade salense, sobretudo os serviços públicos, as ONG e associações comunitárias, porque o ICCA sozinho não consegue dar resposta às mais diversas situações que aparecem”, admitiu.
Ciente que a realidade populacional da ilha do Sal tem crescido cada vez mais, sobretudo a nível de famílias monoparentais problemáticas”, a responsável pela infância na ilha defende uma reflexão conjunta para se encontrar alternativas e se pôr cobro à situação.
De realçar que em Cabo Verde à volta de 40% das famílias são monoparentais, e desses, 66% são chefiadas por mulheres. Cerca de 40% das crianças não crescem com os pais e há uma luta muito grande pelo reconhecimento da paternidade.
Com Inforpress
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