Jogo de uril passa a ser Património Cultural Imaterial de São Vicente
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Jogo de uril passa a ser Património Cultural Imaterial de São Vicente

O jogo de uril passou a ser Património Cultural Imaterial de São Vicente e o dia municipal deste jogo será comemorado a partir de 16 de Fevereiro do próximo ano, em homenagem ao nascimento do falecido autarca Onésimo Silveira.

Esta decisão está sustentada por uma deliberação, proposta pelo executivo camarário de São Vicente, e aprovada esta quinta-feira, 3, em unanimidade pelos eleitos municipais durante sessão ordinária.

De acordo com o executivo, o objectivo desta iniciativa é proteger o património cultural intangível de São Vicente, nos termos do artigo 7º da Lei nº 85 / IX /2020, que aprova o Regime Jurídico de Protecção e Valores do Património Cultural Intangível.

“O jogo do uril, herança do continente africano, ora proposto a património cultural municipal, é praticado em todas as ilhas do arquipélago, mas é na ilha de São Vicente que a sua prática é mais intensa”, descreveu o vereador Albertino Graça na apresentação do documento à plenária.

De acordo com a deliberação, a particularidade da ilha de São Vicente reside no facto de ser a última do arquipélago a ser povoada, no século XIX, e ter recebido uma sociedade e uma cultura cabo-verdiana já definida nos séculos anteriores nas outras ilhas.

Conforme a mesma fonte, o jogo do uril acrescenta elementos específicos identitários que carecem de uma promoção e incentivo à sua salvaguarda. Reforça ainda que a Câmara Municipal de São Vicente prevê no seu regulamento orgânico medidas para salvaguarda do património, pelo que o projecto pretende ser um contributo para a revitalização e valorização das imaterialidades culturais sobre o desenvolvimento local.

Isto, clarificou, perspectivando o jogo do uril na construção das dimensões identitárias cabo-verdianas, na reorganização dos significados nas suas dimensões sociais e culturais, no contexto insular, especificamente na ilha de São Vicente e no Mindelo, circunscrevendo a sua especificidade em relação aos jogos da sua origem e, por outro lado, reconhece a sua importância na saúde e na educação formal.

Conforme os proponentes, a instituição do dia 16 de Fevereiro como dia municipal do uril, data do nascimento do falecido presidente da Câmara Municipal de São Vicente, Onésimo Silveira, justifica-se pelo facto dele ter impulsionado o desenvolvimento do jogo nessa ilha.

“Onésimo Silveira não era um grande jogador do uril, mas era um apaixonado que jogou o uril durante toda a sua vida. O único intelectual cabo-verdiano a praticar o jogo do uril, o que terá promovido imenso o jogo, uma vez que, segundo consta, a maior parte da elite cabo-verdiana considerava o jogo uma prática de desocupados”, lembrou o vereador.

Acrescentou que Onésimo Silveira viveu muitos anos no estrangeiro sempre acompanhado pelo seu tabuleiro de uril e manteve a diáspora cabo-verdiana, nomeadamente São Tomé, sempre ligada ao jogo.

Além disso, referiu, “trabalhou imenso na constituição de uma associação de jogadores do uril de modo a preservar esse jogo, tendo sido elaborados e discutidos os seus estatutos.

Lembrou ainda que nos seus últimos anos de vida, Onésimo Silveira já não podia jogar uril mas pedia à filha ou alguém que o levasse na sua cadeira de rodas, para a Praça de Nhô Bruno para ir assistir aos jogos do uril.

O jogo do uril (também conhecido por ouri ou ouril) pertence à família dos jogos de Mancala (jogos de tabuleiro). É um jogo simples, concebido para ser jogado entre dois jogadores cujo objectivo é obter o máximo de sementes possível.

É jogado num tabuleiro de madeira com 12 cavidades, contendo cada uma quatro pedras no início da partida. O jogo baseia-se em nove regras que devem ser previamente conhecidas.

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