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Ativistas tentam manter vivas memórias de Cabral em marcha na Praia
Sociedade

Ativistas tentam manter vivas memórias de Cabral em marcha na Praia

Zelito Fernandes considera-se um “fruto” da Marcha Cabral, que na próxima sexta-feira vai para a sua 11.ª edição, levando para as ruas da cidade da Praia dezenas de jovens que querem manter vivas as memórias do líder histórico.

“Sou um fruto desta marcha porque sou consciente do que estou a fazer, e eu e outros jovens que antes estávamos em outras vidas, hoje vemos a vida de uma forma mais clara, mais consciente, como um africano mesmo e já sabemos que passos dar hoje para amanhã atingirmos os nossos objetivos”, afirmou à Lusa o vice-presidente da Associação Pilorinhu, com sede em Achada Grande Frente, na Praia.

Zelito é também membro do Movimentu Korenti di Ativista Rizistensia i Liberdadi [Movimento Corrente de Ativistas, Resistência e Liberdade], que desde 2013 sai às ruas da cidade da Praia no 20 de janeiro para realizar a denominada de “Marcha Kabral”, para assinalar o Dia dos Heróis Nacionais, este ano no 50.º aniversário do assassinato do ideólogo das nacionalidades cabo-verdianas e guineenses.

Envolvendo várias organizações e associações comunitárias, líderes e ativistas sociais, o evento cultural serve para relembrar as memórias de Amílcar Cabral. “Para não deixarmos a juventude cabo-verdiana esquecer quem é Amílcar Cabral, o que fez para a nossa terra. Não só Amílcar Cabral, mas também os seus compatriotas”, frisou Fernandes.

Sob o lema “Democracia e resistência”, a marcha desde ano vai ser o culminar de quatro dias com várias outras atividades, um pouco por todos os bairros da Praia, e em colaboração com a Fundação Amílcar Cabral.

“O objetivo é elevar a consciência dos jovens, para levarmos Amílcar Cabral aos jovens e a todos os cabo-verdianos e ao mundo inteiro”, mostrou o organizador, para quem se trata de uma “marcha de todos”.

A iniciativa é vista também com um “importante espaço de consciencialização cultural, identitária e política” e uma “manifestação cultural de resistência”, segundo seus promotores, que associam, por isso, à tabanka, manifestação cultural reprimida durante o período colonial por representar rituais africanos considerados incivilizados.

O resgate da história da tabanka encontrou na Marcha Cabral um “símbolo de resistência” dos africanos auto-libertos, descreveram os promotores, que juntam outras manifestações culturais e géneros musicais, como batuco, hip-hop, já que os primeiros passos foram dados num Festival entre 2008 e 2009, tendo sido denominada de Marcha Hip-Hop.

Tendo ficado também conhecida como “marcha do povo”, segundo Zelito, nasceu para valorizar ainda mais a figura do ideólogo das independências de Cabo Verde e da Guiné-Bissau, tal como acontece em outros países, onde considera que é mais estudado.

“Em Cabo Verde, vemos que os nossos políticos como que querem excluir quem que é Amílcar Cabral, que dizia que a educação é a base de tudo, mas nas escolas não se fala do verdadeiro legado, que inspira os jovens, que sabendo da história de Amílcar Cabral, passa a saber a história de África”, apontou o mesmo responsável, pedindo valorização do legado de Cabral e de todos os seus companheiros de luta pelas independências em África.

Com uma forte manifestação cultural, a marcha contará também com a participação da comunidade de Rebelados de Espinho Branco, no município da Calheta de São Miguel uma comunidade religiosa, que durante mais de 60 anos viveu isolada do resto de Cabo Verde.

A marcha tem ainda o simbolismo de arrancar no Plateau, centro histórico da cidade da Praia, onde antigamente era proibida a subida tanto da tabanka como do batuco, algo que só foi revertida com a proclamação da independência de Cabo Verde, em 1975.

“Atualmente, é uma manifestação institucionalizada promovida como um dos produtos turísticos de Santiago, visto que as marchas arrastam um grande número de população”, lê-se na nota justificativa dos promotores, considerando que a ocupação do Plateau passou a ser um “grito de revolta simbólica”.

Grupo Afro Abel Djassi, Movimento Federalista Pan-Africano em Cabo Verde, Rede de Associações Comunitárias de Praia, que congrega mais de 40 associações, grupos de tabanka da Praia, a comunidade em geral e pessoas de outras ilhas residentes na capital vão participar na caminhada, que vai terminar no memorial Amílcar Cabral, na Várzea.

“Já temos uma consciência sobre esta luta, estamos a sacrificar a nossa juventude, neste movimento estão pessoas conscientes, que já sabem o que querem e o que estão a fazer”, frisou o vice-presidente da Associação Pilorinhu, que apela a participação de todos nessa que é uma das muitas atividades que vão ser realizadas em Cabo Verde no Dia dos Heris Nacionais.

Filho de Juvenal Cabral e Iva Pinhel Évora, o líder histórico nasceu na Guiné-Bissau em 12 de setembro de 1924, partiu para Cabo Verde com oito anos, acompanhando a sua família, onde viveu parte da infância e adolescência.

Posteriormente, foi fundador do então PAIGC, que deu lugar ao PAICV, líder dos movimentos independentistas nos dois países, e foi assassinado em 20 de janeiro de 1973, em Conacri, aos 49 anos.

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