O presidente do movimento cívico Sokols 2017 afirmou esta quarta-feira, 3 de julho, que a ilha de São Vicente perdeu metade da sua economia nos últimos três anos, por causa do "bloqueio governamental", motivo de mais uma manifestação na sexta-feira, 5 de julho, dia da independência nacional.
"Não sou economista, não sou de estatísticas, mas pela minha perceção, pelo meu negócio, sou empresário, e pelo que tenho falado com as pessoas, acho que pelo menos 50% da economia de São Vicente morreu nestes últimos três anos", afirmou Salvador Mascarenhas, presidente do movimento cívico independente Sokols 2017, em entrevista à agência Lusa.
Para o ativista, esta e outras são razões "mais do que suficientes" para voltar a convocar os são-vicentinos para saírem à rua na próxima sexta-feira para mais uma manifestação, num dia de feriado em que o país celebra 44 anos da sua independência de Portugal, em 1975.
"É um bocado dramático, mas é verdade. Eu vejo lojas a fecharem, há pessoas que têm lojas e vão-se embora e deixam a loja a outra pessoa, porque já não conseguem viver dessa loja, por exemplo. A situação está terrível, basta sair, passear pelas ruas e perguntar", insistiu.
Salvador Mascarenhas disse que a manifestação de sexta-feira "tem toda a razão de ser", porque considera que existem muitos problemas em São Vicente, na região norte e em todo o país.
Denominada de "Por São Vicente, quem cala consente", o presidente do Sokols disse que o protesto é contra o que diz ser o bloqueio que a ilha e toda a região norte do país estão a sofrer.
"E também contra a desonestidade do Governo. São imensas promessas que têm sido feitas à ilha, e que não têm sido cumpridas, também que os deputados nos representem como deve ser, ou seja queremos que haja mais competência governativa em Cabo Verde", pediu.
"Há um manifesto bloqueio desta ilha, antes pensava que era teoria da conspiração, mas observando todos os dados é possível constatar que há um certo bloqueio", insistiu Mascarenhas.
O líder associativo apontou "várias situações", mas disse que o que salta à vista é o problema dos transportes, com ausência de ligações aéreas pela Cabo Verde Airlines (CVA).
Uma realidade que "torna as viagens muito caras, o dobro ou o triplo do valor que se fosse na Praia ou no Sal, o que é altamente discriminatório, e além disso não há possibilidade de transportar muita carga, o que está a penalizar indústrias nesta ilha", explicou Salvador Mascarenhas, que constou igualmente "bloqueio" nos transportes marítimos.
Neste momento, afirmou que São Vicente tem ligações regulares apenas com Santo Antão e com São Nicolau, duas vezes por semana, fazendo com que muitas empresas não consigam escoar os seus produtos e empresários deixem de comprar na ilha.
"Isso está a penalizar enormemente São Vicente, está a aumentar o desemprego, o êxodo de massa cinzenta de toda a ilha. A ilha e a sua economia estão de rastos, todo o nosso potencial está a ir abaixo", lamentou.
O líder do Sokols apelou à participação da população: "Portanto, é importante que todas as pessoas saiam à rua, como em 2017, ou mais gente, que é a nossa aposta, para dizer basta, e que o Governo emende a mão deste estado de coisas", prosseguiu, dizendo que a manifestação é contra a governação central e local.
"Temos graves problemas aqui de governação local, falta de criatividade, falta de transparência governativa, falta de meritocracia, e não há consulta dos cidadãos. Continuamos a ser tratados como bebés tanto pela governação central como pela local", afirmou, falando na emblemática Praça Estrela, onde será a concentração.
O responsável acusou ainda os partidos políticos cabo-verdianos de "incompetência descarada".
Salvador Mascarenhas recordou que votou no Movimento para a Democracia (MpD) nas legislativas de 2016, buzinou e aplaudiu a vitória Ulisses Correia e Silva, mas disse que está agora "imensamente desapontado" com o primeiro-ministro, por promessas não cumpridas e com a "governação centralista".
E por causa disso, recordou que o movimento teve de tomar uma "decisão um bocadinho dramática, mas dentro do pacifismo e do direito dos cidadãos no exercício da sua cidadania ativa", de em 2017 bloquear a comitiva do chefe do Governo, que acabara de chegar a São Vicente.
"Bloqueamos a sua comitiva durante um minuto e dissemos que ele mentiu ao povo de São Vicente. E isso era muito importante para ele perceber que nós não somos marionetas, que o povo sente, e que esta terra é do povo", vincou.
Em ano pré-eleitoral, Salvador Mascarenhas, ativista desde 1986 e veterinário de profissão, disse que a pressão vai ser "de tal forma" que o Governo "tem de emendar a mão e começar a ouvir".
"Há duas hipóteses, ou os partidos começam a ouvir a população ou terá de emergir da sociedade civil uma nova força política para balancear este estado de coisas", mostrou, garantindo que Sokols não tenciona transformar em partido político.
"Nós não somos um partido, não nos vamos candidatar a nada, isso é muito importante. Os dois partidos do arco do poder têm nos sancionado profundamente e vamos manter nessa linha", esclareceu.
Há várias semanas que o Sokols tem realizado arruadas no Mindelo e outras ações espontâneas, e o presidente do movimento espera muita gente nas ruas na sexta-feira, com a concentração marcada para as 10:00 locais (12:00 em Lisboa), na Praça Estrela.
Esta será o sexto protesto organizado pelo Sokols em São Vicente, desde o primeiro, em 05 de julho de 2017, na altura contra o "centralismo exacerbado".
Com Lusa
Comentários