O impacto da pandemia do COVID-19 está sendo devastador para a Europa e União Europa, cuja indústria do turismo, segundo estudos mais recentes, é responsável por 10% do seu Produto Interno Bruto (PIB). Não queiramos imaginar o choque provocado por esta mesma desgraça para a nossa frágil economia em que o turismo contribui com 20% do PIB, segundo dados do Instituto Nacional de Estatísticas (INE).
O peso do Turismo na nossa economia, enquanto setor que mais contribui para a formação do PIB e o desemprego parece preocupar-nos a todos. Os decisores políticos, as associações comerciais, as empresas e os comuns dos mortais parecem estar em uníssonos quanto à necessidade de salvar milhares de postos de trabalho que dependem do setor do turismo. Neste particular, assistimos a enormes esforços do governo na flexibilização de normas de auxílios estatais, assim como na utilização do fraco poder financeiro do País criando programas e fundos para minimizar a situação.
Se, por um lado, deve-se reconhecer e aplaudir os esforços das entidades supramencionadas para encontrar o caminho para a recuperação do turismo, por outro, não se pode ficar indiferente à forma quase inexpressiva como algumas instituições como as universidades têm sido envolvidas no processo.
Em muitos países quando se pretende um desenvolvimento sustentado e empresas competitivas, as universidades são chamadas a dar a sua contribuição ao desenvolvimento empresarial principalmente nas pequenas empresas que, em muitos casos, são incubadas nas incubadoras nas próprias universidades. Isto porque têm a consciência de que quanto melhor a interação das universidades com as pequenas empresas, em melhores condições estarão estas de aumentar a sua competitividade.
Aqui em Cabo Verde, onde a Universidade Pública até dispõe de uma Escola de Negócios e Governação ainda não se percebeu da contribuição que esta pode dar quer através da capacitação de recursos humanos; quer na intermediação e concretização de projetos como parceira; ou, ainda, na resolução de problemas específicos mediante prestação de serviços, sem falarmos no desempenho que as universidades podem ter como fonte de informações publicadas ou não publicadas, incluindo, logicamente, o conhecimento pessoal dos docentes. Entretanto, em se tratando de procura de caminhos para a recuperação do turismo na fase pós pandemia, nada obsta que, ao se repensar em alternativas para o turismo a ser oferecido, se inclua as universidades nessa discussão.
Em tempos de “vacas gordas” gabava-se sempre de uma crescente procura de turistas por Cabo Verde e pela minha Ilha de Santiago, quantidade essa que, em algumas circunstâncias, ultrapassava a previsão do Governo espelhado no Plano de Desenvolvimento Turístico. De igual modo, elogiava-se os efeitos macroeconómicos importantes sobretudo na formação e aumento do Produto Interno Bruto (PIB). No entanto, verificava-se, incompreensivelmente, cada vez mais um aumento do desemprego no País e nesta Ilha em particular. Tal fato pode ser entendido como alguma descoordenação/integração do turismo em relação ao tipo praticado e aos processos de criação de riqueza no seio de população movido, provavelmente, por princípios de ineficiência no sistema de turismo e de seus negócios pouco direcionado para os residentes. Nestes termos, por que não pensar na nova geração do turismo para Cabo Verde – o Turismo Criativo?
A questão fundamental a ter em conta consiste em perceber se o turismo praticado em Cabo Verde e na Ilha de Santiago pode ser objeto de novos conhecimentos, de inovação e criatividade.
Neste interregno e, em face a toda esta incerteza que paira devido à paralisação da atividade turística, o estado, as universidades e os parceiros deveriam estar a promover a capacitação de rede de parceiros (pequenos empreendedores, artistas, artesões e outros), promotores de produtos (agentes, operadores, guias turísticos) e apoiadores (gestores de equipamentos culturais, gestores e funcionários de órgãos, trabalhadores de turismo e cultura, gestores de programas de turismo) proporcionando-lhes o entendimento da operação do Turismo Criativo de forma aprofundada, tanto para os agentes e operadores nacionais de turismo.
O momento exige que se desconsidere as críticas de parte a parte e que se ultrapasse questões como “distanciamento”, burocracia, diferenças ideológicas, políticas e culturais, e até o desinteresse do pessoal académico e da administração porque torna-se necessária uma nova visão sobre o repensar do turismo pós pandemia. Talvez assim tornemos o nosso turismo mais sustentável.
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