1. Hesito em discorrer sobre este assunto tão melindroso como perplexo, que deveria merecer da parte das Autoridades do meu país um olhar holístico, ancorado numa Inteligência Estratégica de forma a garantir que a " MÃO INVISÍVEL DO PODER" que está por detrás deste caso, não manche todo o nosso capital diplomático. Infelizmente não tem sido o caso!
2. Ressalvo, contudo que não é a primeira vez que Cabo Verde encara e gere dossiers internacionais que exigem alta articulação da sua diplomacia e da sua inteligência estratégica. Desde a Primeira República, o Governo Cabo-verdiano pôs a política externa ao serviço da utilidade internacional, na promoção da paz e da cooperação, desenvolvendo uma diplomacia pragmática e reconhecida como uma referência e uma marca do modus operandi da nossa política externa. E foi assim também durante a II República, nestes quase 30 anos da criação do Estado de Direito Democrático, tanto que a nossa diplomacia como um factor crucial dos ganhos que o país tem tido.
3. Entretanto, desde 2016, temos vindo a constatar uma paulatina fragilidade da capacidade externa do pais. Ora, o atual escândalo em torno da prisão em território cabo-verdiano do Alex Saab, cidadão colombiano, detentor do passaporte diplomático venezuelano e em missão da República Boliveriana da Venezuela, alegadamente a pedido da INTERPOL, procedimento "questionável e posto em causa" não só pela defesa do detido, mas por várias posições dos entendidos em direito internacional, tem posto Cabo Verde como alvo de notícia internacional e, infelizmente com o teor que põe em causa a boa imagem e reputação do país construída ao longo dos tempos.
Que me permitam frisar que o processo de Alex Saab, está sob custódia da justiça cabo-verdiana, desde que foi detido no dia 12 de junho, na ilha do Sal, e, na sequência disso, em aguardo da decisão do Supremo Tribunal da Justiça sobre sua extradição para os Estados Unidos.
4. Que fique claro, este caso está imbuído de intéresse geopolítico e geoestratégico de GRANDES POTENCIAS, pois denota-se uma disputa cerrada entre EUA, Venezuela e Colômbia, situação que acrescenta aos interesses inconfessáveis de alguns países europeus, da China e da Rússia, deixando Cabo Verde numa situação de "embaraço e dilema" perante qualquer desfecho do caso, cuja última palavra advém do Supremo Tribunal da Justiça.
5. Dois factos engrossam o escândalo que em nada abona à boa imagem de Cabo Verde: (i) a que o Governo de Cabo Verde perdeu a capacidade de “gerir dossiers complexos e delicados” que o processo exige e (ii) diplomacia patológica, aparentemente paralela ao controle do Governo e que indicia desnorte da política externa em face da gravidade do dossier.
6. O comunicado do Governo, demarcando-se da notícia em que “funcionários ao serviço do Estado Cabo-verdiano” tivessem ido a Caracas negociar com o Presidente Nicolas Maduro, não só criou mais melindre ao caso, especialmente depois de destituir um gestor público por alegado envolvimento no caso, como levantou mal-estar entre os Americanos e suspeitas do procedimento dúbio e sub-reptício de Cabo Verde na imprensa nacional e internacional.
7. As especulações andam soltas e, legitimamente, questionam as verdades oficiais e levantam suspeitas sobre a falta de transparência, sobressaindo disso o amadorismo e a incapacidade de Cabo Verde em lidar com dossiers internacionais, colocando em sério risco os nossos Objectivos Nacionais Permanentes.
8. É imperioso que o Governo da Republica explique "TIM POR TIM" os contornos desse dossiê. Vir com os discursos palacianos não chega. O POVO precisa saber, de forma inequívoca, as razões e os motivos da deslocação dos dois cabo-verdianos à Venezuela...
9. O GOVERNO da República pode até tentar fintar a inteligência dos Cabo-verdianos, mas uma coisa é certa, para quem consegue fazer a leitura das configurações do poder mundial, percebe-se, com nitidez, que o caso de Alex Saab encerra muitos actores e muitos VIGILANTES DO PODER... pelo que a verdade há de vir de CIMA!
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