Ninguém, no seu perfeito juízo, inveja a burrice
Ponto de Vista

Ninguém, no seu perfeito juízo, inveja a burrice

A falta de preparação da nossa classe política continua a ser um dos principais entraves ao desenvolvimento das nossas cidades e da nossa sociedade. Esta limitação fica evidente nos ataques a quem tem pontos de vista diferentes – uma das armas preferidas dos nossos eleitos, que diariamente demonstram a sua incapacidade para argumentar e justificar as suas decisões.

Ao apelidar de "invejosos" aqueles que discordam da prioridade dada a estas asfaltagens, o deputado Sandro Lopes  demonstrou que não está em condições de defender mais uma “grande obra” e o que mais se tem visto são elogios vazios, sem qualquer fundamentação ou esclarecimento sobre a sua real importância para o Sal. A ausência de argumentos para justificar qualquer obra por parte da nossa classe política e dos seus seguidores é mais uma prova de que estão mais preocupados com o seu próprio bem-estar do que em servir a sociedade que os elegeu.

O uso da expressão “dor de cotovelo” pode ser visto como uma tentativa de manipular a opinião pública, desqualificando os opositores e desviando o foco do debate racional. Trata-se de uma estratégia defensiva que nada acrescenta à discussão e apenas reforça a falta de seriedade e competência na condução dos assuntos públicos.

Qualquer pessoa minimamente informada, que tenha lido mais de 83+1 livros ou que simplesmente não tenha preguiça de procurar conhecimento, sabe que esta “grande obra” não é exótica, como afirmou o vice-presidente Júlio Lopes. Também não é prioritária nem necessária numa cidade quente, sem áreas verdes, com iluminação precária, sem inclusão e, sobretudo, sem planeamento sustentável – como é o caso de Santa Maria.

Se o deputado estivesse realmente preocupado com o futuro da ilha, teria tido o cuidado de ler pelo menos um dos milhares de estudos sobre o impactos do asfalto e sobre as prioridades no planeamento urbano. Poderia, por exemplo, aprender com Paris e procurar saber quais os reais motivos que levaram a cidade a tomar a decisão de reduzir em 45% o asfalto para mitigar os seus impactos negativos. Teria assim poupado tempo e evitado um comentário que em nada contribui para a construção de um futuro melhor para a nossa ilha.

Outro exemplo, caro deputado, são os ODS(Objetivos Desenvolvimento Sustentável),  instrumento que nem o senhor deputado, nem a classe política da ilha tiveram a preocupação de ler ou compreender o seu propósito.

A necessidade de preparar as cidades para responder a eventos climáticos extremos, aliada ao facto de sermos um país insular e estarmos na vanguarda de vários acordos para promover o desenvolvimento sustentável, é incompatível com apostas em projetos cinzentos. Estes não só falham em resolver os problemas ambientais crónicos, como também agravam questões de saúde pública – promovendo a propagação de vetores e doenças tropicais – e alimentam esquemas de corrupção e negociatas, que continuam a ser um problema estrutural.

Numa cidade com várias ruas cheias de restaurantes, mas com iluminação deficiente e acessibilidades precárias, onde os passeios são praticamente inexistentes, não é preciso ser um “expert” para perceber quais deveriam ser as verdadeiras prioridades. Um investimento bem planeado poderia ter um impacto real na economia e na qualidade de vida das pessoas.

A asfaltagem impede a infiltração natural da água da chuva no solo, o que contribui para enchentes e erosão em áreas urbanas. Nos últimos anos, em Santa Maria, temos assistido à formação de grandes lagos nas ruas após cada período de chuva.

Cada um define as suas prioridades. As vossas, ao que parece, não passam por criar passeios confortáveis e arborizados, que incentivem as pessoas a caminhar com segurança, mas sim por garantir ruas adequadas para “mulheres de salto alto”.

 

As mentiras descaradas dos políticos sobre atrasos, qualidade e a inexistência de projetos são os verdadeiros problemas – e não os chamados "invejosos" (ou seja, pessoas que simplesmente têm ideias contrárias). Ao tentar criar um novo rótulo para os opositores – "invejosos" e "contra a ilha" –, está apenas a alimentar a ignorância de parte da sociedade, em vez de argumentar e apresentar vantagens reais deste projeto, fomentando um debate saudável. Poderia aproveitar esta oportunidade para educar a população.

 

Qualquer obra pública deve ser precedida de um projeto transparente, com apresentação pública e recolha de opiniões para o seu melhoramento – ainda mais quando envolve grandes orçamentos.

Onde está o projeto? Onde estão os estudos sobre o impacto ambiental e na vida das pessoas?

Ou será que esta será apenas mais uma obra que, no futuro, descobriremos que serviu apenas para travar o desenvolvimento da cidade e aumentar a dívida da Câmara?

Outro problema grave de Santa Maria é a circulação de veículos, agravada pela falta de sinalização e pela ausência de uma melhor conexão entre as ruas.

Caro senhor deputado Municipal, os desafios da capital do turismo são muitas, nenhuma é  a inveja e as soluções não estão  no asfalto.

 

Esta asfaltagem é apenas mais um projeto que não exige esforço na sua conceção e execução – algo típico da incompetência e do populismo. A falta de uma oposição forte na ilha do Sal permite este tipo de decisões irresponsáveis e afirmações infantis.

O senhor deveria saber que qualquer obra pública deve ter como objetivo o bem-estar da sociedade, por isso, deixo-lhe uma pergunta ao senhor e aos que o defendem: quais serão os impactos desta obra na economia e no bem-estar da população de Santa Maria?

 

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Comentários

  • pedro amado+, 10 de Fev de 2025

    Para mim esta camara nãoexiste.Desde que cheguei aqui no sal,já assisti várias reuniôes da assmbleia da camara apresntando os problemas quanto ao problema de limpeza e o calcetamento da rua,nunca fiu entendido,enganando-me sempre que ia resover o problema,e,até esta esta estou a espera há já doze anos.No lugar onde moramos no bairo novo nã ha limpezas da via publica,estamos dentro de lixos,mosquitos.e nuca apareceu a tal sanamento e o seu agente.

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  • Maurino de camões Brito Delgado, 7 de Fev de 2025

    Já não sei se é burrice ou outra coisa. Projetos que só servem para endividar e prejudicar o País para encher os bolsos de meia dúzia com graves prejuízos económicos, sociais, ambientais e aumentando o risco do sobre-endividamento.

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  • Suzanne Vanessa, 7 de Fev de 2025

    O facto meu caro amigo, é que as tuas opiniões já nem parecem opiniões em prol da ilha ou do país, mas sim um ataque pessoal. Em todas as tuas postagens transmite uma sensação de frustração da tua parte e buscas demostrar-lhe do teu jeito, e com isso mesmo que tenhas toda a razão no assunto em epigrafe, por esta razão, não lhe é levado a sério.

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  • Minúsculo, 7 de Fev de 2025

    ...e, não só burrice! Esse grupinho sem conhecimento, que vem governando CV, não tem a NOÇÃO de quanto os contribuintes caboverdianos e os parceiros bilaterais e multilaterais pagam para o manter no poder a todo o custo e, o desafio consiste na falta de selecção em relação a escolha dos nossos representantes.

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  • Casimiro centeio, 7 de Fev de 2025

    Pois, meu Caro Osvaldino Cruz, a burrice diferencia-se da ignorância pelo facto de que a ignorância é o desconhecimento dos factos e das suas possibilidades, enquanto que a BURRICE é uma força estúpida da Natureza !
    O maior inimigo do conhecimento é a burrice, a ilusão do conhecimento. Que anda sempre acompanhado com o sinónimo ARROGÂNCIA !

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  • Casimiro centeio, 7 de Fev de 2025

    Está claro: para o sapo que nunca saiu do seu ambiente, o grande oceano é o seu charco !

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