No seu discurso conhecido como “Análises de Alguns Tipos de Resistência”, Cabral já exortava de que a nossa luta não era para substituir o poder colonial e manter o povo na miséria, mas para trabalhar para providenciar mais educação, mais oportunidades e mais justiça para todos, homens, mulheres, crianças ou idosos. Somos todos humanos e todos merecemos dignidade, por isso há que “suicidar a classe”. Essa ideia de solidariedade, companheirismo e de justiça, entre outras, de certeza lhe valeram esse lugar na História.
“Cabral Câ Mori”. A frase é bastante conhecida, poetas a disseram, músicos a cantaram, professores a repetiram e o povo sente cada letra que a compõe. A comemoração do centenário de Amílcar Cabral mostra que para além de conhecida, a frase é também verdadeira.
Em 2020 a revista “BBC World Histories Magazine” pediu a historiadores para nomearem o maior líder da humanidade e não foi surpresa nenhuma – para quem conhece a história e o pensamento de Amílcar Cabral – ele ter sido considerado o segundo maior líder de sempre, acima de nomes tão ou mais conhecidos do grande público.
Para mim só o pensamento de Cabral já era suficiente para o tornar o meu ídolo, mas como não é todos os dias que vemos os nossos heróis num pedestal tão alto, soube tão bem ver que a minha admiração não estava mal depositada. Isso inflou ainda mais o meu orgulho e reforçou as minhas certezas de que as pegadas que sigo são maiores que a minha própria pessoa, e que o meu trabalho em prol do nosso povo, só pela ideia de onde vai beber, já vale a pena.
No seu discurso conhecido como “Análises de Alguns Tipos de Resistência”, Cabral já exortava de que a nossa luta não era para substituir o poder colonial e manter o povo na miséria, mas para trabalhar para providenciar mais educação, mais oportunidades e mais justiça para todos, homens, mulheres, crianças ou idosos. Somos todos humanos e todos merecemos dignidade, por isso há que “suicidar a classe”. Essa ideia de solidariedade, companheirismo e de justiça, entre outras, de certeza lhe valeram esse lugar na História.
Mas não deixa de ser interessante que – apesar da grandeza mundial de Cabral – foi chumbada no parlamento cabo-verdiano pelo MpD, o projeto de Resolução que visava proclamar "2024 Ano do Centenário de Amílcar Cabral" no nosso país, que será, e bem, assinalado pelos nossos irmãos guineenses e em Portugal, assim como em tantas outras paragens, pelo papel e influência que o pai da nossa nacionalidade teve no sonho do Abril.
Cientistas, universidades e artistas de todos os continentes versam sobre o pensamento de Cabral, mas até parece que há pessoas aqui a tentar destruir o indestrutível. Contudo, nada nos vai impedir de continuar a carregar o seu legado e de o comemorar, afinal os cabo-verdianos levam sempre esse desejo consigo, em busca da concretização de um Cabo Verde mais risonho para todos, como sonhado por esse homem ímpar e inspirador.
O Comandante Pedro Pires, presidente da Fundação Amílcar Cabral (FAC), diz que o centenário tem a intenção de mostrar o valor que tem para Cabo Verde a realização de uma grande conferência internacional sobre a figura de Cabral, como um humanista, homem de cultura, homem do chão, agrónomo, e herói do povo de Cabo Verde e da Guiné-Bissau; um homem cuja a dimensão do pensamento ultrapassa as fronteiras destes dois países e atravessa a humanidade. A pensar nisso, a FAC pretende instituir parcerias com a comunidade científica, a comunidade artística, editoras e poderes públicos, para trabalhar no sentido de divulgar mais o pensamento de Cabral e para o incluir nos currículos escolares, ainda mais porque como dizia Amílcar Cabral: “as crianças são as flores da nossa luta e a razão do nosso combate”.
É urgente, é mesmo urgente fazer essa divulgação, principalmente junto da atual geração de jovens e das elites políticas no poder e na oposição, porque nada explica ou justifica a reprovação do MPD ao Projeto de Resolução que, simplesmente, visava proclamar "2024, Ano do Centenário de Amílcar Cabral" – talvez apenas alguma falta de leitura e de distração sobre a história do nosso povo –, mas é interessante que até Portugal – país que Amílcar Cabral também incentivou a libertar-se da ditadura – está desejoso de comemorá-lo.
Mas como dizia o grande Amílcar Cabral “os que sabem devem ensinar os que não sabem”, por isso não perdemos a esperança, um dia hão de ver a grandeza e a necessidade desta efeméride para o nosso povo.
“Cabral Câ Mori”, a sua ideia vive e o seu legado viverá, eu também os carrego e o povo cabo-verdiano os continuará.
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