A fixação do preço do bilhete marítimo inter-ilhas em 500 escudos constitui uma política pública estratégica para o desenvolvimento socioeconômico de Cabo Verde. Ao reduzir as barreiras de mobilidade impostas pela geografia arquipelágica, a medida fortalece a integração territorial, melhora a segurança alimentar, dinamiza o comércio e o turismo, e incentiva a produção local. Além disso, contribui para a geração de empregos, a fixação da população no meio rural, a redução da criminalidade urbana e do fluxo migratório, e para a manutenção da unidade e coesão do País. Em síntese, o transporte marítimo acessível é um instrumento fundamental para promover a inclusão social, a sustentabilidade econômica e a prosperidade do povo cabo-verdiano.
Resumo
Este artigo analisa os impactos socioeconômicos da proposta de uma medida política, que fixa o preço do bilhete de viagem marítima inter-ilhas, em Cabo Verde, a 500 escudos cabo-verdianos, por passageiro. Considerando a configuração arquipelágica do País, avalia-se como essa política contribui para a melhoria da mobilidade, a integração territorial e o desenvolvimento sustentável das ilhas. São discutidas as vantagens para a segurança alimentar, a atividade comercial e turística, o incremento da produção agrícola, pecuária, piscatória e artesanal, além do aumento do emprego e a fixação da população no meio rural. O trabalho também aborda as consequências na segurança urbana, na redução do fluxo emigratório e na regularidade do transporte, destacando a importância dessa medida para a unidade nacional e a coesão social. Conclui-se que a redução do custo do transporte marítimo representa um importante instrumento para promover a inclusão social, o crescimento econômico e a sustentabilidade territorial em Cabo Verde.
Palavras-chave: transporte marítimo, Cabo Verde, desenvolvimento socioeconômico, mobilidade inter-ilhas, segurança alimentar.
1. Introdução
Cabo Verde é um arquipélago formado por dez ilhas habitadas, distribuídas em uma vasta área marítima no Oceano Atlântico. Essa configuração geográfica apresenta oportunidades ainda por explorar, mas também, desafios estruturais relacionados à mobilidade, ao abastecimento e à integração socioeconômica das suas comunidades. O transporte marítimo entre as ilhas é, portanto, um elemento central para o funcionamento do País, assegurando a circulação de pessoas, bens e serviços. Recentemente, o Presidente do PAICV, Francisco Carvalho propôs uma medida que fixa o preço do bilhete de viagem marítima inter-ilhas em 500 escudos cabo-verdianos por passageiro. Esta política pública visa “promover maior acessibilidade e estimular o desenvolvimento socioeconômico das ilhas”, assegura o Presidente.
Precisamente, este artigo tem como objetivo analisar os impactos dessa medida, considerando as suas implicações para a mobilidade, a economia, a segurança alimentar, o emprego, a fixação populacional, a segurança urbana, o fluxo migratório e a unidade nacional. A análise parte da premissa de que a redução do custo do transporte inter-ilhas é um fator estratégico para fortalecer a coesão territorial e melhorar as condições de vida das populações insulares.
2. Desenvolvimento
2.1 A situação arquipelágica de Cabo Verde
A singularidade geográfica de Cabo Verde impõe uma série de obstáculos para a conexão entre suas ilhas. A dispersão dos territórios dificulta a circulação regular e eficiente, sendo o transporte marítimo a principal alternativa para garantir a integração física e econômica do País. O custo elevado dos bilhetes pode restringir a mobilidade, afetando diretamente a qualidade de vida das populações insulares e o fluxo comercial. Portanto, a fixação do preço do bilhete em 500 escudos representa uma iniciativa fundamental para reduzir essas barreiras e promover uma maior inclusão social e territorial.
Como destaca o Banco Mundial (2023, p. 15), “o transporte marítimo é essencial para a integração do arquipélago, sendo um vetor crucial para o desenvolvimento econômico e social do país”.
2.2 Vantagens socioeconômicas para o povo das ilhas
Com a redução do custo da passagem, as populações ganham acesso facilitado a serviços essenciais como saúde, educação e mercado de trabalho, além de aumentar sua capacidade de participar da vida econômica e social inter-ilhas. Essa maior circulação contribui para a diminuição das desigualdades regionais, estimulando o intercâmbio cultural e o fortalecimento das redes comunitárias.
Segundo o mesmo relatório, “a acessibilidade incrementada promove a inclusão social e contribui para a redução das disparidades regionais” (BANCO MUNDIAL, 2023, p. 22).
2.3 Segurança alimentar
A acessibilidade ampliada ao transporte marítimo é crucial para o abastecimento alimentar, especialmente para as ilhas que dependem da importação de produtos de outras regiões. A medida promove a regularidade e a eficiência na entrega de alimentos frescos e variados, reduzindo o risco de insegurança alimentar e contribuindo para a resiliência das comunidades diante de possíveis crises.
O Ministério da Agricultura e Ambiente (2024, p. 10) afirma que “a garantia da regularidade do transporte inter-ilhas é vital para a segurança alimentar, particularmente para as ilhas menos produtoras”.
2.4 Atividade comercial e turística
O comércio inter-ilhas estará diretamente beneficiado com a diminuição do custo do transporte, que facilita o escoamento de mercadorias e amplia os mercados locais. No setor turístico, a medida incentiva a circulação de turistas e profissionais, favorecendo a diversificação da oferta e a geração de receitas.
De acordo com o Governo de Cabo Verde (2024, p. 18), “a redução do custo do transporte marítimo tem potencial para impulsionar o turismo interno, aumentando a circulação e o consumo nas ilhas”.
2.5 Incremento da produção agrícola, pecuária, piscatória e artesanal
Com o transporte mais acessível, as ilhas produtoras encontram maior facilidade para comercializar seus produtos, incentivando o aumento da produção e o fortalecimento das economias locais. Isso gera impacto positivo na renda das famílias rurais e na sustentabilidade das atividades tradicionais, que são essenciais para o desenvolvimento territorial.
O Banco Mundial (2023, p. 35) destaca que “a melhoria da logística e do transporte contribui significativamente para o crescimento das cadeias produtivas locais e o aumento da renda rural”.
2.6 Aumento do emprego nacional e fixação no meio rural
A maior circulação de pessoas e bens promove a criação de novos postos de trabalho tanto nas zonas urbanas quanto rurais. A medida estimula a permanência da população no meio rural, reduzindo o êxodo para os centros urbanos e contribuindo para o equilíbrio demográfico.
Conforme relatório do Banco Mundial (2023, p. 40), “políticas que facilitam o acesso ao transporte são fundamentais para estimular o emprego e combater a desertificação rural”.
2.7 Segurança urbana e criminalidade
Ao reduzir as desigualdades socioeconômicas e incentivar a fixação da população no meio rural, a medida pode contribuir para a diminuição da criminalidade urbana, que muitas vezes está associada à marginalização social e à concentração populacional nas cidades.
O Ministério da Justiça e Trabalho (2023, p. 12) aponta que “o desenvolvimento rural e a redução da desigualdade são elementos chave para a melhoria da segurança urbana”.
2.8 Diminuição do fluxo emigratório
O aumento da qualidade de vida e das oportunidades nas ilhas, proporcionado pela medida, tende a reduzir a emigração, que historicamente tem sido uma característica marcante da população cabo-verdiana.
Segundo o Banco Mundial (2023, p. 45), “a redução da migração para o exterior depende da criação de condições socioeconômicas favoráveis nas comunidades locais”.
2.9 Facilidade e regularidade no transporte para abastecimento e unidade nacional
A fixação do preço do bilhete também estimula a regularidade e a confiabilidade do transporte marítimo, essenciais para o abastecimento contínuo das ilhas, nomeadamente, as turísticas, com bens essenciais. Isso fortalece a unidade nacional, pois assegura a circulação das pessoas e mercadorias, promovendo a integração territorial e a solidariedade entre as comunidades insulares.
O Governo de Cabo Verde (2024, p. 23) ressalta que “o transporte regular e acessível é um pilar fundamental para a unidade e o desenvolvimento do arquipélago”.
3. Conclusão
A fixação do preço do bilhete marítimo inter-ilhas em 500 escudos constitui uma política pública estratégica para o desenvolvimento socioeconômico de Cabo Verde. Ao reduzir as barreiras de mobilidade impostas pela geografia arquipelágica, a medida fortalece a integração territorial, melhora a segurança alimentar, dinamiza o comércio e o turismo, e incentiva a produção local. Além disso, contribui para a geração de empregos, a fixação da população no meio rural, a redução da criminalidade urbana e do fluxo migratório, e para a manutenção da unidade e coesão do País.
Em síntese, o transporte marítimo acessível é um instrumento fundamental para promover a inclusão social, a sustentabilidade econômica e a prosperidade do povo cabo-verdiano.
Referências
BANCO MUNDIAL. Cabo Verde’s Path to Sustainable Growth: Reforms to Boost Productivity and Reduce Poverty. Washington: World Bank, 2023. Disponível em: https://www.worldbank.org/pt/country/caboverde/publication/cabo-verde-s-path-to-sustainable-growth-reforms-to-boost-productivity-and-reduce-poverty. Acesso em: 09 jun. 2025.
GOVERNO DE CABO VERDE. Plano Nacional de Desenvolvimento Turístico 2023-2028. Praia: Ministério do Turismo, 2024.
MINISTÉRIO DA AGRICULTURA E AMBIENTE. Relatório Anual sobre Segurança Alimentar e Produção Rural em Cabo Verde. Praia, 2024.
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA E TRABALHO. Relatório sobre Segurança Pública e Desenvolvimento Socioeconômico. Praia, 2023.
Comentários
Samira Rocha, 12 de Jun de 2025
Nota-se que o autor deste artigo estudou, e muito bem, esta parte. No entanto, não se importou em considerar com realismo os custos de funcionamento do sistema de transportes marítimos e as limitações orçamentais do Estado de Cabo Verde. O setor marítimo nacional tem elevados custos operacionais, incluindo aquisição e manutenção das embarcações, combustível, tripulações e seguros, num contexto de grande dependência de importações.
Samira Rocha, 12 de Jun de 2025
Considerando a atual estrutura orçamental do país, já pressionada por compromissos em áreas sensíveis como saúde, educação, segurança e proteção social, a implementação desta medida obrigaria, sem dúvidas nenhumas, a cortes nesses setores estratégicos, que ninguém quer. O que mais se ouve hoje em dia são funcionários públicos a exigirem melhores condições de trabalho e os utentes, igualmente, exigem melhores atendimentos.Samira Rocha, 12 de Jun de 2025
Portanto, não precisamos de cortes, mas sim de mais investimentos. Sabemos que novas fontes de receita implicam, quase sempre, aumento de impostos, o que também ninguém deseja. Somando um mais um, a redução do preço dos bilhetes acabaria por sair na mesma do bolso de quem pagou menos pelo bilhete mas entregou com a outra mão ao pagar outro imposto. Ou então, pagou menos pelo bilhete e o atendimento nos hospitais piorou, as condições nas escolas também pioraram, e assim por diante.Samira Rocha, 12 de Jun de 2025
Diante disto, torna-se fundamental priorizar políticas mais realistas e sustentáveis. Não basta apenas prometer, é preciso fazer valer ou, pelo menos, mostrar que é possível. Por mais que propalem que vão reduzir as despesas em viagens dos dirigentes, de ajudas de custo e muito mais, e acredito que sim, será um bom dinheiro poupado, mas nem de longe nem de perto chegaria para sustentar o custo dessa sonhada redução.Responder
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Silvino Silva, 12 de Jun de 2025
Li o artigo na intenção de ver um estudo e uma demonstração da viabilidade económica e financeira, que sustentasse a fixação de preço de uma viagem interilhas por 500$00. Afinal, serão os contribuintes a financiar esta medida de politica. Apenas não quanto é que esta decisão irá custar. Ir´+a Cabo Verde entrar num periodo, em que as medidas são tomadas sem se verificar o impacto financeiro. Lembram-se do acordo cambial e o limite do déficit.
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Antonio jon, 12 de Jun de 2025
Mentira tem permanent curta
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