A Juventude cabo-verdiana, infelizmente, ainda lida com uma forte resistência quando a questão é dirigir-se para as urnas de voto. Essa problemática já foi objeto de vários workshops e formações de capacitação com o intuito de incentivar uma maior participação dos jovens na vida política do país. Entretanto, esse flagelo, que afeta de forma negativa a nossa democracia, continua a merecer uma atenção espacial, indagando sobre as suas causas e perseguindo incansavelmente a sua mitigação ou até mesmo resolução.
Os jovens que estão numa faixa-etária entre os 18 a 30 anos, constituem, praticamente, a maior parte da nossa população em termos percentuais, portanto são esses jovens que merecem toda a atenção quando se fala das eleições, das políticas para a juventude, do desenvolvimento sustentável e até mesmo da própria prosperidade do país, entre outras questões socio-económicas relevantes.
Com a emergência da era digital, o que veio a dar um forte input na liberdade de expressão, passamos a ouvir cada vez mais protestos da camada juvenil relativos às políticas públicas adotadas ou não pelos dirigentes políticos do país. Porém hoje, mais do que protestar ou criticar a juventude precisa participar. E participar para inovar, encorajar e dinamizar a forma de exercer o cargo político em Cabo Verde.
É nessa fase da vida que a pessoa começa a se preocupar com a carreira que vai seguir, o auto-sustento ou da família, como acontece em muitos casos, e é uma fase decisiva para o sucesso tanto pessoal como profissional do jovem. Daí que políticas públicas têm um papel determinante para progresso juvenil.
A relação entre as preocupações da camada jovem e a política é tão estreita que torna extremamente complicado entendermos o porquê de tanto complexo em participar nas eleições eleitorais, tanto ativa ou passivamente. Entre as preocupações juvenis predominantes, se destacam os dois seguintes:
- A Educação: enquanto uma variável determinante para o ingresso no mercado do trabalho e o sucesso profissional dos jovens é, infelizmente, um grande obstáculo com que os jovens se deparam. Entre os 18 a 30 anos, o jovem tem o desafio de fazer o grande investimento que irá determinar o seu futuro. Então é nessa altura que ele deve estar mais atento aos representantes e decisores políticos, tanto a nível local como também nacional.
- O Emprego e o Desemprego: O mercado de trabalho cada vez mais inseguro, o trabalho informal, o subemprego, a falta de oportunidades, entre outros desafios laborais, são todos grandes flagelos sociais que aflingem a camada jovem. A autonomia financeira é um anseio e desafio de todos os jovens que estão entre os 18 a 30 anos. É nesse momento que todos devem estar bem engajados em assuntos políticos para saber como estão sendo geridos os recursos públicos e a sua alocação no setor público.
A Abstenção
Entre as diversidades de opiniões expressas pelo voto, a abstenção, infelizmente, tem uma voz que fala muito alto na nossa Democracia. Culpamos o sistema educativo do país por não educar os estudantes desde o ensino secundário para uma cidadania participativa, por vezes estamos certos, culpamos os próprios jovens pela falta de interesse, também estamos certos. Entre outras causas que apontamos que igualmente o fazemos certo, mas precisamos começar a chamar a atenção a nós mesmos, enquanto cidadãos políticos, pela nossa contribuição para engordar esse flagelo na nossa sociedade. Precisamos fazer política de uma forma mais realista, sem propostas e promessas que nunca poderão chegar a produzir qualquer efeito substantivo na nossa sociedade.
É importante, nesse contexto, reconhecer uma figura, que deveria ser um grande exemplo a nível nacional quando o objeto é fazer política mediante “A Realidade”, “Com os Pés Fincados na Terra”, como dizia Amílcar Cabral. Uma política que, envez de decepcionar, impressiona. Falo do atual Presidente da Câmara Municipal de Santa Cruz, Carlos Alberto Gonçalves Silva. Tão humilde enquanto um verdadeiro serviçal que, recusa ser designado de Doutor, Ilustre, entre outras expressões que por vezes insistem em separar elites da outra classe social.
Os representantes políticos devem ser pessoas com os quais os jovens possam sentir-se identificados e representados, de modo a criar mais incentivo ao voto.
Também é dever de todo jovem exigir que os dirigentes políticos cumpram o dever único que lhes é incumbido – Gerir aquilo que é público de forma a servir o público. Quando o jovem não se preocupa com aquilo que lhe pertence, quem o tenha em mãos estará livre para fazer e desfazer com ele.
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