...a visão estratégica da geopolítica do mar dá ao país uma tripla centralidade: atlântica, diasporizada e continental. Sendo o principal caminho de ligação o mar, nesta perspetiva é absurdo não considerarmos o mar como princípio fundamental do interesse nacional, considerando as questões de segurança marítima e fronteiriça; as riquezas e o desenvolvimento da indústria ligada ao mar; o transporte e a comunicação. Em abono do raciocínio pragmático, a criação da estratégia geopolítica do “mar de Cabo Verde” será um passo determinante para a garantia de espaço de crescimento do país e da sua projeção econômica e internacional. Temos de tirar o proveito do nosso mar, como um espaço de projeção e desenvolvimento do país.
Para quem não anda distraído é real, visível e sentida o interesse das potências ocidentais (e chinesas) pelo mar de Cabo Verde. Este recente interesse pelo mar da África Ocidental está escondido nos mesmos interesses de sempre - a riqueza material (energéticos, mineral e científico) e as rotas do trânsito marítimo do comércio. E neste contexto, como é que fica Cabo Verde!? Sabendo, que estes são vetores econômicos fundamentais para o desenvolvimento do país? Como reforçar a melhor estratégia geopolítica para a potencialização do mar de Cabo Verde?
O primeiro grande passo, é definirmos de forma clara e consensual - o(s) Interesse(s) Nacional(ais). Não sendo consensual esta demarcação política e geográfica, não se espera que iremos conseguir grandes ganhos, caso por exemplo não haja uma definição estratégica para a questão do mar de Cabo Verde. O segundo passo, é encarar a sub-região africana como parte nossa. Sem a melhor integração regional estamos a abrir mão do nosso maior trunfo de desenvolvimento nacional.
É racional que o país desenvolva uma visão estratégica e integrada das atividades industriais e científicas ligadas ao mar em correlação com os nossos estados vizinhos, principalmente com a Guiné-Bissau. O fator geopolítico, neste cenário, deve considerar a plena integração regional do país. A posição de Cabo Verde pode ser de gestor de articulações/dependências entre os Estados da margem continental do mar de Cabo Verde e potencializar alianças com os Estados membros da CEDEAO, sem descurar das relações com as potências marítimas globais.
Para o melhor entendimento que devemos ter de Cabo Verde é necessário compreendermos a nossa quádrupla realidade geopolítica: do Atlântico Médio (mar de Cabo Verde); a sub-região africana (CEDEAO); na diáspora (Américas e Europa) e a língua crioula. Quanto ao espaço marítimo do mar de Cabo Verde, ele oferece ao país um enorme potencial do ponto de vista geopolítico e da afirmação de Cabo Verde na CEDEAO. Na medida em que o entendimento que se tem sobre a geopolítica é que ela está relacionada com o controle do território e as políticas públicas vitais para a sobrevivência de um Estado, por outras palavras a geopolítica não é mais do que as políticas governamentais que definem as relações entre Estados.
No nosso caso, precisamos assegurar um desenvolvimento mais autônomo e eficaz no que diz respeito ao controle da nossa riqueza natural e geográfica - tomando a geografia como circunstância física a ser aproveitada em plena, dentro de uma definição clara dos nossos interesses nacionais. levando em consideração que Cabo Verde é um pequeno ator político no campo das disputas internacionais, mas se considerarmos a sua dimensão marítima, o país ganha um relevo ainda pouco vislumbrado pelos nossos decisores políticos. Temos uma zona marítima de exploração econômica de 800.000 km2, em termos comparativos 2x superior a área territorial alemã. Esta imensa área corresponde a grandes oportunidades no campo da exploração dos minérios energéticos e do conhecimento científico.
Desta forma a nossa condição física impõe que o mar seja o elemento e fator determinante na nossa política externa, numa perspetiva de centralidade atlântica e de integração na CEDEAO. O carácter arquipelágico do território e atlântico é um elo natural nas relações entre Cabo Verde e a CEDEAO e ela deve ser aprofundada numa lógica comercial, científica e de comunicação.
Resumidamente, a visão estratégica da geopolítica do mar dá ao país uma tripla centralidade: atlântica, diasporizada e continental. Sendo o principal caminho de ligação o mar, nesta perspetiva é absurdo não considerarmos o mar como princípio fundamental do interesse nacional, considerando as questões de segurança marítima e fronteiriça; as riquezas e o desenvolvimento da indústria ligada ao mar; o transporte e a comunicação. Em abono do raciocínio pragmático, a criação da estratégia geopolítica do “mar de Cabo Verde” será um passo determinante para a garantia de espaço de crescimento do país e da sua projeção econômica e internacional. Temos de tirar o proveito do nosso mar, como um espaço de projeção e desenvolvimento do país.
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