Em entrevista ao Económico Cabo Verde, o primeiro-ministro quebrou o tabu e garantiu que não irá mexer no seu elenco governamental. Ulisses Correia e Silva falou ainda sobre o ano político que agora começa, explicou que a meta de crescimento de 7% foi traçada na perspetiva de aumentar, até 2026, o rendimento per capita da população e afirmou que o Orçamento para 2020 "não será expansionista".
A cerca de ano de meio de terminar o mandato, Ulisses Correia e Silva tranquiliza os seus colaboradores no Governo: "não vai haver remodelação", assegurou o primeiro-ministro em entrevista ao jornal electrónico Económico Cabo Verde esta quinta-feira, 10. A pergunta surgiu a propósito de notícias vindas a público a anunciar uma posível recauchutagem no Governo numa altura em que começa a contagem decrescente para o fim do mandato. "Há alguns jornais da praça que se especializaram em anunciar remodelações governamentais desde que tomamos posse. Não vai haver remodelação governamental", disse, peremptório.
Antevendo o ano político que agora começa, o chefe do Executivo disse que os cabo-verdianos, sobretudo os jovens, "podem esperar o reforço de acções para responder à empregabilidade através da formação profissional, reconversão profissional e estágios profissionais e para criar mais oportunidades de empreendedorismo através das linhas de crédito, do programa Startup Jovem e da colaboração da ProEmpresa".
É que, na óptica de Ulisses Correia e Silva, "a economia está com crescimento forte, os investimentos a acontecerem e com boas perspetivas em 2020. Jovens com formação estarão mais capacitados para o emprego que a economia gera e darão um bom contributo para o aumento da produtividade. Na educação, vamos continuar a apoiar, excecionalmente, a regularização das dívidas dos estudantes junto das universidades como tem sido feito pelo FICASE, a atribuir bolsas de estudos para formação superior, a facultar formação de curta duração a jovens quadros em universidades de referência mundial através do Programa Cabo Verde Bolsa Global. Vamos continuar a facultar aos jovens empreendedores com projetos selecionados no domínio das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) a participação em eventos internacionais de referência, como a Web Summit".
Questionado se mantém a meta de crescimento médio de 7%/ano e a criação de 45 mil postos de trabalho, o primeiro-ministro respondeu que esse objectivo (crescimento de 7%) foi estabelecido "na perspetiva de, numa década (até 2026), duplicar o rendimento per capita dos cabo-verdianos". "Esta é a meta de chegada, o crescimento económico robusto e sustentável é a via para lá chegar. A economia está a crescer seis vezes mais do que em 2015. É uma tendência positiva e orientada para atingir os 7%. Fechamos o ano de 2018 com um crescimento de 5,5% e o primeiro semestre deste ano com 6,2% com dois anos de seca e de pronunciada quebra da produção agrícola. A dinâmica de criação de emprego tem sido positiva, apesar da seca e dos maus anos agrícolas que em 2018 destruiu cerca de 14 mil empregos. Em 2021 faremos a avaliação final do cumprimento das metas".
Sobre o Orçamento de Estado para 2020, o chefe do Governo garante que não será expansionista. "As despesas correntes estão contidas. Asseguramos uma trajetória descendente e sustentável da dívida pública que deverá situar-se em 121,9% e 118,1% em 2019 e 2020, respetivamente. Em 2018 era de 122,8% do PIB. É evidente que não ignoramos a conjuntura internacional e os riscos daí advenientes para o país, mas estamos focados na consolidação orçamental para assegurar a redução da dívida pública e ao mesmo tempo nas reformas económicas, para aumentar o potencial do crescimento da economia, na melhoria do ambiente de negócios para aumentar a atratividade de investimentos, no desenvolvimento local e regional para dinamizar a economia das ilhas e na inclusão social e produtiva orientada para a autonomia e a autossuficiência das famílias e para cuidados e proteção dos segmentos mais vulneráveis da sociedade como crianças, idosos e pessoas com deficiência".
Ulisses Coreia e Silva anuncia ainda, como destaques da economia e do OE para 2020 "a melhoria do ambiente de negócios, a concessão da gestão dos aeroportos, a privatização da ELETRA, o crescimento do hub aéreo do Sal, a afirmação da concessão dos transportes marítimos inter-ilhas com os investimentos previstos em novas embarcações, importantes investimentos privados no turismo, investimentos na saúde, na água e nas energias renováveis".
E como fazer face a um eventual mau ano agrícola? "Consensualizamos esta terça-feira, na Boa Vista, no encontro do governo com os presidentes das câmaras municipais, o programa de mitigação dos efeitos da seca. Estamos a mobilizar 10 milhões de euros para o seu financiamento. Estamos a implementar medidas de mitigação que são de emergência e medidas de aumento da resiliência e de capacidade de adaptação do país face a períodos prolongados de seca. Passam pela estratégia de água associada à transição energética. Diversificação de fontes de irrigação e abastecimento da água para a agricultura através da dessalinização da água salobra, equipamento de furos, reservatórios, aumento do uso da irrigação gota a gota e o uso intensivo das energias renováveis associadas à mobilização da água", respondeu UCS ao Económico Cabo Verde.
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