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PAICV espera que Primeiro-Ministro assuma responsabilidades após mensagem do PR
Política

PAICV espera que Primeiro-Ministro assuma responsabilidades após mensagem do PR

O presidente do PAICV, Rui Semedo, afirmou hoje esperar que o primeiro-ministro assuma responsabilidades após a mensagem do Presidente da República ao país e “arrepie caminho”.

“O PAICV entende esta comunicação do Presidente da República como exercício de magistratura de influência e espera que o senhor primeiro-ministro tire ajustadas ilações, assuma as suas responsabilidades, arrepie o caminho e coloque os interesses do país e dos cabo-verdianos acima de todos os interesses particulares e de grupos”, afirmou Rui Semedo, numa declaração na Praia.

O Presidente cabo-verdiano, José Maria Neves, antigo primeiro-ministro (2001 a 2016) pelo PAICV, criticou na quarta-feira o Governo pelo “retrocesso em setores vitais” do país, com foco nos transportes marítimos, e com decisões que são tomadas cuja lógica e propósito “não se entendem”.

“Legitimamente, a nação inquieta-se e indigna-se com o inegável retrocesso em setores vitais ao nosso Estado arquipélago. Verifico com preocupação que são tomadas decisões cujo propósito e cuja lógica não se entendem, principalmente quando tudo levava a crer que medidas iam ser tomadas e elas até já haviam sido anunciadas, mas eis que as instituições públicas recuam e se apequenam. Essas mesmas decisões que são tomadas num dia para se recuar no dia seguinte sinalizam que as mesmas não foram suficientemente amadurecidas”, afirmou José Maria Neves, numa mensagem dirigida ao país.

Após a mensagem, em declarações aos jornalistas, o Presidente explicou que não foi ouvido sobre o recente aumento de até 80% nas tarifas dos transportes marítimos – entretanto parcialmente suspensa pelo Governo – e a adenda decidida ao contrato de concessão desses transportes, atribuída por 20 anos, desde 2019, à CV Interilhas (do grupo português ETE), afirmando que não é possível assistir de “ânimo leve” a “discursos contraditórios e descoordenação a nível da formulação de políticas”.

“Para o PAICV, foi uma mensagem necessária, oportuna, equilibrada, ajustada ao contexto que vivemos e propiciadora da criação de condições para uma governação mais inclusiva e mais voltada para os reais problemas e desafios destas ilhas. Desde logo, o Presidente chamou a atenção para a qualidade da nossa democracia quando caracteriza o espetro político fortemente marcado pela crispação e pelo desprezo pela cooperação institucional, pelo diálogo e pela conciliação”, afirmou Rui Semedo.

O líder do maior partido da oposição acrescentou que o Presidente da República “continua a valorizar fortemente o papel do diálogo enquanto gerador de consensos e entendimentos entre os atores políticos”.

“Esta mensagem do Presidente chama, também, a atenção para a necessidade de uma relação institucional mais saudável com base na verdade, na seriedade, no respeito e na defesa das regras e valores de uma sociedade democrática, com livre expressão do pensamento, das ideias e da palavra. Concordamos plenamente com o Presidente quando nos convoca para colocar o país no centro das nossas atenções deixando de lado outros interesses que ofuscam o discernimento e nos levam a ver todas as constatações, críticas ou posicionamentos dissonantes, como ameaça”, disse ainda o líder do PAICV.

Ainda na quarta-feira, o secretário-geral do Movimento para a Democracia (MpD, maioria), Luís Carlos Silva, avisou que cabe ao Governo governar e que o chefe de Estado não tem essa responsabilidade.

“O Presidente da República tem as suas responsabilidades, mas dentro dessas responsabilidades não está certamente governar. A quem recai a competência e a responsabilidade de governar é ao Governo e o Governo governa com base num programa que foi sufragado pelos cabo-verdianos”, afirmou o dirigente partidário, em reação à mensagem do chefe do Estado.

Já hoje, o primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, presidente do MpD, disse que a opinião do Presidente da República, que criticou fortemente as opções do executivo, “não é lei” e que não tem de estar de acordo.

“É uma opinião do Presidente da República, assim como há várias outras opiniões, nós não temos que estar de acordo, não é lei, é opinião, cabe aos analistas fazerem a sua avaliação”, reagiu o chefe do Governo, na ilha da Boa Vista, à margem da realização da segunda Conferência Internacional de Parceiros (CIP).

“O Presidente da República tem voz e faz a sua voz se sentir, nós não temos de estar de acordo com aquilo que ele diz”, insistiu Correia e Silva, chefe do Governo desde 2016.

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