Harold Tavares, filho da ministra das Infra-estruturas e membro do staff de Ulisses, nomeado para o Banco Mundial com amargos de boca
Política

Harold Tavares, filho da ministra das Infra-estruturas e membro do staff de Ulisses, nomeado para o Banco Mundial com amargos de boca

O Governo de Cabo Verde anunciou hoje, quarta-feira, 26, que “o Grupo do Banco Mundial selecionou” o administrador público Harold Tavares como Diretor Executivo Suplente. O problema é que Tavares, que nem seria a primeira escolha ou o nome pré-indicado – Gilberto Barros, Óscar Santos e António Moreira eram os nomes sobre a mesa -, era até aqui director de Gabinete do primeiro-ministro, filho da ministra das Infra-estruturas, Eunice Silva, e primo-irmão do deputado e actual secretário-geral do MpD, Luis Carlos Silva. Nas redes sociais do MpD, as críticas não param, com alguns a demonstrarem o seu claro descontentamento pela escolha repentina do Governo para um cargo para o qual se é nomeado por indicação e não por selecção como justifica nota do executivo desta quarta-feira.

A nomeação do director executivo suplente do Banco Mundial, que fará trabalhos e missões em 23 países africanos, incluindo Cabo Verde, está a dar que falar no seio do MpD e do Governo. É que o nome indicado por Ulisses Correia Silva não agrada a diversos sectores do MpD e do próprio Executivo, tanto por ser quem é o escolhido, quanto pelo seu curriculum e grau de parentesco com outros dirigentes ventoinhas.

Três potenciais nomes estariam a ser avaliados pelo Governo para esse cargo: Óscar Santos, ex-presidente da Câmara Municipal da Praia e actual governador do Banco de Cabo Verde, Gilberto Barros, ex-secretário de Estados das Finanças no primeiro mandato de UCS, António Moreira, actual presidente do Conselho de Administração da Caixa económica de Cabo Verde. Todos eles economistas séniores, todos eles com vasta experiência no sector financeiro e todos preteridos da lista indicativa do Governo enviada ao BM.

Haveria, entretanto, uma quase certeza de que seria Gilberto Barros a ser indicado pelo Governo, por sugestão directa do vice-primeiro ministro e ministro das Finanças, Olavo Correia, de quem teria inclusive ouvido essa garantia.

Eis então que, do nada, aparece no nome de Harold Tavares, como indicação do executivo para tão prestigiada função junto do Banco Mundial para África, com diversos sectores do partido estupefactos e sem saber o que se passou.

Harold Tavares, desconhecido do grande público, é filho da ministra das infra-estruturas, Eunice Silva e primo-irmão do deputado e actual secretário-geral do MpD, Luis Carlos Silva.

Para muitos milintes e outros observadores terá havido um lobby forte da família para convencer Ulisses a optar por Harold Tavares em detrimento dos outros nomes que já estavam na pole-position. Mas há quem, ignore essa eventual promiscuidade familiar, para atribuir essa escolha ao facto de UCS, de tanto receber críticas internamente sobre as decisões e imposições de Olavo Correia na hora de nomear chefias, querer dar um basta ao seu número e mostrar que ele é que manda no governo.

Aliás, o excesso de protagonismo do vice primeiro-ministro vem incomodando muitos militantes ventoinhas, que, segundo as nossas fontes, vêm criticando UCS de não ter pulso quando se trata de Olavo Correia. Depois de vencer pela segunda vez as legislativas, o primeiro-ministro teria acabado com a figura de vice-primeiro ministro mas ante a ameaça de demissão de Olavo Correia, Ulisses deixou cair essa ideia, mantendo a estrutura do Governo ainda mais gorda do que no mandato anterior.

No caso da nomeação de Harold Tavares para director executivo suplente do BM para África, o Governo quis 'lavar as mãos' emitindo um comunicado esta quarta-feira a explicar que a escolha foi por selecção feita pelo próprio banco mundial.

“Neste cargo, o Dr. Tavares contribuirá para o trabalho e missões do Banco Mundial em 23 países africanos, incluindo Cabo Verde. A sua nomeação foi precedida por um processo de seleção do Banco Mundial, para o qual o Governo propôs múltiplos candidatos. O mandato do Dr. Harold Tavares será de dois anos, com início a 1 de Novembro de 2022, prorrogável à discrição do Banco Mundial”, lê-se na nota.

Ora, segundo um economista contactado por Santiago Magazine, o banco Mundial não faz nenhuma selecção nesses casos, nomeia aquele que o Governo do país indicar, como aconteceu recentemente no Brasil. Aliás, o proprio vice primeiro-ministro, Olavo Correia, num post de 25 de Abril deste ano, anunciava: "o Governo vai indicar um administrador para o Banco Mundial", em representação de cabo Verde e de mais 22 países africanos. Mais, escreveu Olavo Correia que o Giverno ambiciona "ter o nosso melhor quadro no Board do Banco Mundial (...). Até Novembro deste ano, na próxima Assembleia Geral do Banco Mundial e do FMI, vai ser indicado esse nome". Confira na ilustração:

O Executivo, da sua parte, justifica “a selecção” de Harold Tavares apontando para o seu curriculum. “O Dr. Tavares tem um vasto historial profissional de trabalho internacional no domínio dos recursos humanos, desenvolvimento de capacidades e competências técnicas, combate à pobreza e promoção da justiça social. Administrador público capacitado, desempenhou, nos últimos anos, o cargo de Diretor de Gabinete do Primeiro-Ministro, Dr. Ulisses Correia e Silva e tendo tido papel fundamental na coordenação de trabalhos intersectoriais, com resultados satisfatórios em áreas sensíveis da ação governamental. O Dr. Tavares possui um Mestrado em Ciências Administrativas e Economia Financeira pela Universidade de Boston, bem como um Mestrado em Administração Pública pela Bridgewater State University. É beneficiário da prestigiada Bolsa Crans Montana e, anteriormente, foi nomeado, nos Estados Unidos como uma das Pessoas Mais Influentes de Descendência Africana (com menos de 40 anos)”.

“No início da sua carreira, o Dr. Tavares serviu como administrador, no ensino superior nos Estados Unidos, liderando o desenvolvimento de programas internacionais e estabelecendo um instituto de gestão pública sob os auspícios da Mandela Washington Fellowship and Young African Leaders Initiative”, mas essas acções e intervenções não convencem a determinados sectores, sobretudo economistas, que nas redes sociais têm mostrado alguma estranheza na escolha de um não-economista para um cargo de elevada responsabilidade do Banco Mundial, ainda por cima por indicação, enquanto o Governo garante aos cabo-verdianos que foi por selecção do BM, o que, a crer no post de Abril de Olavo Correia. foi escolha directa do Governo. No caso, de Ulisses Correia e Silva.

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