O ministro da Administração Interna de Cabo Verde rejeitou hoje a ideia de que a campanha para as eleições legislativas seja a única justificação para o aumento de casos de covid-19 no país, mas reconheceu excesso e relaxamento nesse período.
Em conferências de imprensa na cidade da Praia para anunciar que o país voltou ao estado de calamidade, Paulo Rocha começou por responder que o papel do Governo é fomentar a pedagogia e uma atitude positiva e não a resistência a alguma medida para conter a propagação da covid-19.
“O Governo não participou e não participa das campanhas eleitorais, os partidos sim”, respondeu o ministro, quando questionado se o Governo teme alguma resistência das pessoas às novas medidas depois das aglomerações durante a campanha para as legislativas de 18 de abril.
“Obviamente que a responsabilidade é de todos, não é apenas do Governo nesta altura, que é a quem cabe a obrigação de governar o país e de criar as condições para que a pandemia não se alastre”, prosseguiu Paulo Rocha.
Perante a insistência dos jornalistas, o ministro sublinhou que as campanhas eleitorais são fundamentais para a vida da democracia, porque participam delas não apenas os partidos, mas também os eleitores, que, considera, têm de estar devidamente esclarecidos para decidirem.
“São inúmeros os fatores que concorrem para o aumento de casos, não vamos chegar à conclusão linear de que são as campanhas”, reforçou, dizendo que as medidas foram sempre sendo tomadas, desde que a doença começou no país, em março de 2020.
“Pode-se dizer por que é que não tomámos ontem e tomamos hoje, mas também podemos discutir por que é que estamos a tomar hoje e não amanhã”, esclareceu o membro do Governo, para quem as medidas têm um tempo para serem adotadas e levam em conta o número de casos e a evolução da situação epidemiológica no arquipélago.
Lembrando que as medidas têm impactos na vida das pessoas, o ministro disse, por isso, que devem ser ponderadas. “Este é o momento que as autoridades de saúde recomendam para esse efeito”.
Questionado se houve indicação do Governo para alguma inação das autoridades sanitárias e policiais durante o período de campanha eleitoral, Paulo Rocha respondeu que não, mas reconheceu que houve “excesso e relaxamento” nesse período.
“Se alguém determinou, digo que não, a pergunta deve ser se a democracia deveria ser suspensa”, disse o ministro, que foi o cabeça de lista do partido vencedor das legislativas, o Movimento para a Democracia (MpD), para a ilha de São Vicente.
“Nós temos a opção de pôr o foco no problema ou pôr o foco na solução? Nós estamos preocupados é com o Governo do país, com as medidas que têm que ser tomadas e que se impõem neste momento”, terminou.
O Governo de Cabo Verde voltou hoje a decretar o estado de calamidade por 30 dias em todas as ilhas, menos na Brava, com medidas para limitar atividades com aglomerações de pessoas, depois do aumento de novos casos de covid-19.
São Vicente foi a última ilha a estar em estado de calamidade durante dois meses até 18 de maio, e desde 19 de março que todas as ilhas de Cabo Verde estavam em situação de contingência, o segundo nível menos grave de três previstos na lei que estabelece as bases da Proteção Civil.
Cabo Verde registou 373 novos infetados pelo novo coronavírus na quinta-feira, elevando para 23.554 os casos positivos acumulados desde o início da pandemia no país, dos quais 213 resultaram em óbitos e tinha 3.069 casos ativos.
A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 3.168.333 mortos no mundo, resultantes de mais de 150,4 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
Os comentários publicados são da inteira responsabilidade do utilizador que os escreve. Para garantir um espaço saudável e transparente, é necessário estar identificado.
O Santiago Magazine é de todos, mas cada um deve assumir a responsabilidade pelo que partilha. Dê a sua opinião, mas dê também a cara.
Inicie sessão ou registe-se para comentar.
Comentários