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CEDEAO. Isaías Barreto defende que a "derrota" de Cabo Verde se deve ao atraso nas decisões
Política

CEDEAO. Isaías Barreto defende que a "derrota" de Cabo Verde se deve ao atraso nas decisões

Isaías Barreto, que se disponibilizou para presidir à Comissão da CEDEAO, acredita que se Cabo Verde tivesse tomado as “decisões relevantes mais cedo” e tivesse se preparado com mais tempo de antecedência “teria enfrentado melhor esse desafio”.

“Apesar de ter formalizado tardiamente a sua pretensão de assumir a presidência da Comissão da CEDEAO (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental), a Côte d’Ivoire começou a trabalhar nesse processo em Dezembro de 2015”, afirmou Isaías Barreto, acrescentando que a delegação ivoiriense “saiu da Cimeira com o seu candidato já nomeado como novo presidente da Comissão”.

O comissário para as Tecnologia Informacionais da CEDEAO, nomeado por Cabo Verde, fez estas declarações, ao ser contactado pela Inforpress, a partir de Abuja, capital nigeriana, onde reside neste momento.

No entender do ex-candidato à presidência da CEDEAO, para esse tipo de embates, “é fundamental” que o país se prepare “atempadamente”.

Reconhece que o “principal entrave” que Cabo Verde tinha à assunção da presidência da CEDEAO eram as dívidas, mas que o país pagou as de 2017 e “assinou um acordo com a Comissão para pagar a parte restante, à semelhança do que vários outros países fizeram já no passado, como a própria Cote d’Ivoire, a Gambia, o Niger, a Guiné Bissau, etc”.

Segundo ele, com essa démarche, “a questão das dívidas ficou mais ou menos encaminhada”.

Conforme notou, o problema das dívidas de Cabo Verde foi quase sempre invocado pelos seus opositores “porque era o único aspecto que, do ponto de vista legal, poderia eventualmente colocar por terra as aspirações do arquipélago”.

“Esta experiência da candidatura à presidência da CEDEAO deve servir para o país tirar as necessárias ilações e para melhor se preparar para embates semelhantes no futuro”, sugere Isaías Barreto.

“No nosso continente e, em particular, na nossa sub-região, os contactos presenciais têm um peso muito grande no processo de tomada de decisão”, enfatizou o Comissário cabo-verdiano na CEDEAO, acrescentando que, do ponto de vista da legalidade, era, de facto, a vez de Cabo Verde assumir a presidência da Comissão da CEDEAO, mas que “arranjos políticos” foram de facto a “razão principal para que isso não acontecesse”.

Na sua perspectiva, os “contactos político-diplomáticos intensos a vários níveis são de facto fundamentais. É preciso ter encontros directos e presenciais com os decisores de topo e de fazer o necessário plaidoayer”.

Perguntado se a diplomacia cabo-verdiana esteve à altura de convencer os seus pares da CEDEAO que o país estava preparado para dirigir os destinos da organização nos próximos quatro anos, começou por esclarecer que, além do critério da ordem alfabética, existe ainda o do cumprimento do protocolo adicional sobre democracia e boa governação, que, segundo ele, “a esse respeito Cabo Verde é, de facto, o campeão ao nível da sub-região”.

“O terceiro critério é o cumprimento do protocolo sobre a taxa comunitária. Neste aspecto não há nenhum país que cumpre a 100%, mas Cabo Verde é de facto o que passou mais tempo sem pagar nada”, indicou Barreto.

De acordo com as suas palavras, com o pagamento de parte da dívida e com a assinatura do acordo com a Comissão da CEDEAO para o pagamento dos atrasados, a “questão ficou encaminhada”.

“Já houve países no passado que assumiram esse cargo mesmo tendo dívidas para com a organização”, lembrou o ex-candidato.

Importa sublinhar que do ponto de vista da legalidade, o protocolo adicional que rege a rotação do posto de presidente da Comissão da CEDEAO diz claramente que se houver disputas entre dois países no processo de assunção desse posto, a questão deve ser resolvida por arbitragem, mas que o país que já tiver ocupado esse posto no passado perde prioridade.

“A Cote d’Ivoire ocupou já esse posto (Secretário Executivo) por duas vezes, entre 1977 e 1985. Portanto, independentemente do trabalho da nossa diplomacia, era, de facto, a vez do nosso país”, acentuou Isaías Barreto, com a “convicção profunda” de que se a preparação de Cabo Verde tivesse começado mais cedo e se o país tivesse “assinado o acordo para pagamento dos atrasados muito mais cedo”, estaria “melhor preparado para esse embate”.

Instado se esperava o desfecho que teve a candidatura de Cabo Verde à Presidência da CEDEAO, respondeu nesses termos: “Estava convencido que o posto de Presidente da Comissão da CEDEAO seria atribuído a Cabo Verde pelas razões que já apontei. Contudo, estava igualmente ciente de que havia a possibilidade de os Chefes de Estado decidirem de forma contrária como, aliás, veio a acontecer”.

Com Inforpress

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