A presidente do Instituto Cabo-verdiano para a Igualdade e Equidade de Género (ICIEG), Rosana Almeida, defende que Cabo Verde só dará um “passo de gigante”, com vista à igualdade de género, se apostar numa educação para a igualdade.
“É preciso, urgentemente, que comecemos a falar da igualdade de género desde o pré-escolar”, exortou a responsável do ICIEG, adiantando que uma proposta nesse sentido já foi apresentada ao Governo.
Rosana Almeida garantiu, em entrevista à Inforpress, que o Guia para a Igualdade de Género para alunos já está pronto para ser introduzido nas escolas.
Em seu entender, a introdução da igualdade de género no ensino é o “grande caminho e o grande triunfo”, assim como, segundo ela, é “urgente a reactivação” da associação Rede Laço Branco para a promoção da igualdade de género em Cabo Verde.
“Sem estes dois espaços poderemos estar a criar um gigante com pés de barro e poderemos vir a ter retrocessos, mormente nesta altura em que estamos a ser vítimas da covid-19”, alertou a presidente do ICIEG.
Para se evitar retrocessos, prossegue, é necessário que continuem as articulações com as organizações não-governamentais (ONG), assim como a continuação de implementação de algumas medidas já adoptadas.
O seu “grande sonho” é ver a disciplina de igualdade a ser introduzida no ensino, formação profissional, paridade plena sem ser uma obrigação e cultura de não violência.
“Isto representaria um grande passo e exemplo a nível internacional, se o País adoptasse esta medida”, indicou Rosana Almeida, para quem um outro “grande passo” seria atrair os homens para esta problemática de igualdade do género.
Para ela, há que fazer a desconstrução da sociedade machista cabo-verdiana, em que o papel da mulher era reservado ao espaço doméstico.
“Estamos numa sociedade altamente estereotipada. O que me fascina é o facto de poder eleger a comunicação, que é a minha área, para a mudança de comportamentos”, acrescentou a presidente do ICIEG, que não quer que a mulher continue a ser vista apenas como “doméstica, que não trabalha e se ocupa dos filhos”.
“Hoje, a mulher está onde ela bem quiser. Está na política e na liderança”, apontou Rosana Almeida, destacando que a nova geração está consciente de que a igualdade do género é um “triunfo para o desenvolvimento”.
Entende que não se pode continuar a falar da igualdade do género, tratando exclusivamente da questão da mulher e deixar os homens de lado.
“Não podemos continuar a não trabalhar a masculinidade tóxica e a forma como a sociedade (mães e pais) está a educar os filhos”, alertou, apelando a uma mudança para uma cultura pró-igualdade.
Para a presidente do ICIEG, a igualdade de género “não é uma luta de mulheres, mas sim uma luta que implica homens e mulheres para uma mudança de mentalidades”.
Instada se sentir-se-ia realizada se no fim do seu mandato conseguisse atingir os tais propósitos, respondeu nesses termos: “Não tenho que me sentir realizada. Assumi missões”.
“Nem sempre se cumpre tudo. Mas, eu dou-me por satisfeita pelo facto de as grandes questões terem sido diminuídas, nomeadamente a VBG [Violência com Base no Género] em 12 por cento (%)”, indicou, apontando que durante a pandemia de covid-19 este tipo de violência aumentou apenas oito por cento, contrariamente a muitos países que registaram um aumento de cerca de 70%.
“Gostaria bastante que a questão da igualdade não fosse uma preocupação, mas sim uma luta ganha”, desejou Rosana Almeida que, entretanto, gostaria de ver uma lei que aumenta a licença da paternidade, já que “igualdade é igualdade”.
Rosana Almeida não esconde a “grande paixão” pelo jornalismo e, ao mesmo tempo, a sua luta pela igualdade do género.
“Sou conhecida pelo facto de ser jornalista e a visibilidade que adquiri, enquanto tal, foi uma das questões que levaram que fosse chamada a dar visibilidade a uma instituição [ICIEG]”, sublinhou, acrescentando que, depois de longos anos de televisão, acabou por descobrir uma “nova paixão” que lhe proporcionou uma “grande aprendizagem”.
A aprovação da lei da paridade pelo Parlamento faz da Rosana Almeida uma mulher “satisfeita” em relação à luta nesse sentido.
“Lembro-me que não gostaram quando me pronunciei sobre o adiamento do agendamento da referida lei no Parlamento, porque acharam que não devia criticar”, afirmou, concluindo que hoje se sente “privilegiada”, quando constata 42% de mulheres no poder autárquico, 38% no Parlamento e 31% no Governo.
Entretanto, defende que ainda há a necessidade de espaço para a mudança de comportamento.
“O Estado precisa fazer a sua parte para que possamos mudar e falar com a sociedade civil”, destacou a presidente do ICIEG, que acha ser “inconcebível” a instituição estar a pagar três mil, quatro mil contos para uma publicidade de um mês, cujo objectivo é de sensibilizar a sociedade de civil de que é preciso “mudar e de que a masculinidade tóxica não leva a lado nenhum e de que homem não pode estar a gastar mais dinheiro em álcool do que em saúde”.
Na sua perspectiva, embora a questão da igualdade do género já estivesse na agenda pública, hoje “entrou cada vez mais e faz parte de um ministério que se ocupa exclusivamente desta problemática”.
“Ninguém desconstrói estereótipos se não comunica”, avisou, dizendo que a tutela da comunicação social precisa saber que há “batalhas e desconstruções que não têm preço e não se pode pagar”.
“Falta um ano para terminar a minha missão e, no dia em que voltar à televisão [TCV], sinto que volto com uma nova leva de conhecimentos que me pode ser útil”, admitiu para depois assegurar que não vai deixar tão cedo a sua luta pela igualdade do género.
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