Portugal: Chefe da extrema-direita foi provocar imigrantes e se deu mal
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Portugal: Chefe da extrema-direita foi provocar imigrantes e se deu mal

Uma manifestação pacífica e civilizada, juntando cerca dois milhares de imigrantes e portugueses, decorria na zona fronteira à Assembleia da República. Eis que André Ventura, juntamente com outros deputados do Chega – e bem protegido por seguranças e agentes policiais -, resolveu provocar os imigrantes. A reação dos manifestantes foi imediata: "Fascista", "racista" e "Portugal é de quem trabalha".

A manifestação, devidamente legalizada, decorria sem quaisquer incidentes, quando André Ventura chegou e resolveu provocar os imigrantes. Era evidente que a presença do líder da extrema-direita, conhecido pelo discurso racista, xenófobo e pelo ataque aos imigrantes, iria alterar os ânimos. A intenção era essa para fazer cortes de pequenos vídeos e “bombar” nas redes sociais.

Ventura apareceu, numa altura em que os manifestantes já estavam a abandonar o local, para falar aos jornalistas, que são também alvo preferencial dos ataques do Chega, mas que lhe dão cobertura e o mantêm vivo no espaço mediático.

Documentos para todos e fim das injustiças

Eram cerca de dois mil, entre imigrantes e portugueses que se juntaram à manifestação, os que se juntaram nesta quarta-feira, 17, exigindo documentos e o fim das injustiças na regularização em Portugal: detenções ilegais, mas também problemas com o sistema de sinalização do espaço Schengen.

Sem dúvida tratou-se de uma das maiores manifestações de imigrantes realizada em Portugal nos últimos anos, mobilizando trabalhadores imigrantes de todo o país.

A situação é dramática para muitos destes trabalhadores, que veem a sua permanência em Portugal posta em causa apenas por notificação do Sistema de Informação Schengen, significando apenas que já estiveram noutro país deste espaço europeu e não que tenham praticado qualquer ilegalidade.

São conhecidas arbitrariedade e injustiças no processo de regularização de imigrantes, obstando a que esta lhe seja concedida. E há casos de imigrantes que estiveram detidos de forma inexplicável, sem terem cometido qualquer crime e tendo contratos de trabalho sem termo. É o caso particular de Navjot, um imigrante indiano que esteve detido ilegalmente durante dois messes e que foi libertado na última terça-feira. No dia seguinte já estava na manifestação.

Carta aberta condena “criminalização política” dos imigrantes

Entretanto, uma carta aberta dinamizada pela Solidariedade Imigrante, subscrita por personalidades portuguesas de vários setores, condena “a criminalização política dos trabalhadores imigrantes, vulnerabilizados pelo isolamento, que ficam anos à espera de autorização de residência mesmo estando a trabalhar com contrato e a fazer descontos, que são transformados em bodes expiatórios dos problemas e desigualdades que o governo não resolve”.

Na referida carta pode ler-se, ainda, que “os imigrantes são essenciais para o nosso país”, “enriquecem-no social, económica e culturalmente, em muitas dimensões” e até que “neste verão, ajudaram a combater os incêndios, lado a lado com os portugueses”.

Os subscritores sublinham a importância do chumbo da Lei de Estrangeiros pelo Tribunal Constitucional e denunciam a arbitrariedade de regras e práticas que alimentam as redes de tráfico de seres humanos e de trabalho forçado que operam em Portugal, acusando os que se servem da ausência de direitos para dividir e explorar os trabalhadores.

“Portugal, país com uma ampla história de emigração para outros países, tem o dever de honrar os princípios da dignidade da pessoa humana inscritos na Constituição da República Portuguesa e na Declaração Universal dos Direitos Humanos”, concluem os subscritores, reafirmando “solidariedade com a luta dos imigrantes, contra a perseguição e a xenofobia, contra a exploração e a desigualdade, contra a discriminação, a violência e a divisão”.

Fonte: Imprensa portuguesa
Foto: Captura de imagem

 

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Redação