A Guiné-Bissau vive nestes dias mais uma situação inédita na sua democracia com a existência de dois presidentes e dois primeiros-ministros, numa história que se arrasta desde o anúncio dos resultados das presidenciais de 29 de dezembro.
Se a existência de dois primeiros-ministros já tinha acontecido muito recentemente, a nomeação de dois presidentes, a representarem cada uma das fações política, é inédita num país que aguarda há muito tempo por estabilidade e desenvolvimento.
Na quinta-feira, o ex-primeiro vice-presidente do parlamento guineense Nuno Nabiam indigitou Umaro Sissoco Embaló, considerado vencedor das presidenciais pela Comissão Nacional de Eleições, como chefe de Estado do país.
Em resposta, na sexta-feira, 52 dos 102 deputados do parlamento guineense indigitaram o presidente do parlamento, Cipriano Cassamá, chefe de Estado interino, por considerarem que o Presidente cessante, José Mário Vaz, se autodestituiu do cargo ao entregar a Presidência do país a Umaro Sissoco Embaló, quando ainda decorre um recurso de contencioso eleitoral no Supremo Tribunal de Justiça, interposto por Domingos Simões Pereira.
Também na sexta-feira, Umaro Sissoco Embaló decidiu demitir o chefe do Governo guineense, Aristides Gomes, e nomear Nuno Nabiam primeiro-ministro.
Enquanto isso, o ministro da Presidência do Conselho de Ministros e Assuntos Parlamentares Armando Mango demitiu-se do cargo para assumir as suas funções de deputado e de primeiro vice-presidente da Assembleia Nacional Popular.
À guerra política juntaram-se os militares. As chefias das forças armadas estiveram presentes na tomada de posse de Nuno Nabian e na sexta-feira ocuparam discretamente as instituições de Estado, onde permanecem.
Habituadas aos constantes conflitos políticos, os guineenses prosseguem com as suas vidas.
Hoje a cidade de Bissau, capital do país, funcionava como em qualquer sábado, com toda a normalidade.
O comércio formal e informal estava aberto, quem tinha de trabalhar foi trabalhar e a vida continua na cidade, como se nada de anormal se passasse.
Ao início da tarde, o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), presidido por Domingos Simões Pereira, começou a fazer apelos aos militantes para se dirigirem à sede nacional para barrarem a "invasão dos golpistas".
Também é ainda esperada para hoje uma mensagem à Nação do Presidente interino, Cipriano Cassamá.
O Governo de Aristides Gomes qualifica o que se está a passar no país como um golpe de Estado.
Umaro Sissoco Embaló garante que não está em curso qualquer golpe, até porque, disse num discurso proferido na cerimónia de tomada de posse de Nuno Nabiam, não foram restringidos direitos e liberdades dos cidadãos.
A este cenário confuso junta-se também a falta de uma mensagem clara dos principais parceiros internacionais do país, denominados de P5 (ONU, União Europeia, Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental e União Africana), sobre a atual situação.
Com Lusa
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