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Na ressaca da derrota
Ponto de Vista

Na ressaca da derrota

Um amigo meu, simpatizante do MpD, convidou-me, na noite do dia 24 do corrente, para uma conversa, na ressaca da derrota, no dia 25, na sequência da eleição autárquica que ia decorrer em Tarrafal de Santiago.

Estava, sem dúvida, este meu amigo, à semelhança de outros tantos, confiante na vitória desse partido. Aliás, muitos militantes ainda estão perplexos com a tamanha derrota do partido da situação nessas eleições.

Uns até questionam como aconteceram estes resultados. Mas, o MpD sabe, e bem, a resposta. Não foi por acaso que esse partido envolveu toda sua máquina governativa e partidária nas campanhas eleitorais. Talvez tivesse acordado tarde demais de um sono penoso e de origem, quem sabe, psicoafectivo, criado por ele mesmo, ao ignorar a sua própria base, demolindo uma dinâmica participativa habitual, apenas para forjar algumas candidaturas em nada aglutinador de ideias e ações.

Na nossa humilde opinião, o MpD, como qualquer outra organização, não deveria ignorar a sua base concelhia no processo de escolha de candidatos às autárquicas. No entanto, esta desarticulação, presume-se que tenha emergido de uma tentativa de antitendência em que grupos internos da cúpula, com objetivos menos declarados, arroguem o direito de estar mesmo acima do próprio partido, assumindo a liderança em processos que podem levar o MpD a uma derrocada sem precedentes.

A um partido com maturidade e responsabilidade do MpD seria espectável que soubesse falar, debater, confrontar e agir, ouvindo sempre a sua base concelhia. O mais paradoxal ainda foi a atitude desse partido durante a campanha, numa tentativa subtil e camuflada de “afastamento” dos companheiros de luta de ontem (mandando-os à reserva) para escamotear o seu desempenho em termos de governação. Nesta camuflagem, o povo viu apenas traição e falta de companheirismo. Para o cabo-verdiano é na relação de confiança entre companheiros e companheiras que se funda e refunda a nossa morabeza, a nossa socialização, a luta pela nossa sobrevivência e a nossa história. Portanto, o MpD deveria refletir e aprender que só com a sua gente e sua base poderia construir a união em torno do seu projeto de candidatura.

Espero, sinceramente, que esta derrota sirva para que o MpD entenda que o seu crescimento passa, obrigatoriamente, pela organização da sua base concelhia. Que aprenda a respeitar e usar a sua base concelhia como espaço de debate político permanente, da interligação do partido com sua militância e, desta, com as comunidades. E que entenda, finalmente, que estando com a sua base, está onde está o povo, nas suas organizações, nas suas localidades e em interação com toda a sociedade.

Que esta ressaca sirva, de fato, para reflexão. Viva a democracia!

Luís de Pina

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Redação